Estudo de mercado, ajustes culturais e planejamento tributário estiveram entre os fatores decisivos para o sucesso de empresas brasileiras nos Estados Unidos. Embora a presença no país pudesse ampliar em até 40% a prospecção internacional, sete em cada dez companhias do Brasil fracassaram por não validar o mercado nem estruturar adequadamente a operação antes da expansão, segundo levantamento da Ecco Planet Consulting.
De acordo com dados do SelectUSA, o Brasil foi o 12º maior investidor direto nos Estados Unidos em 2024, com aportes superiores a US$ 20 bilhões. O número reforçou o apetite das empresas brasileiras por internacionalização. Pequenas companhias, que já representavam 99,9% dos negócios americanos e respondiam por 44% da economia local, encontraram espaço para crescer em um ambiente que valorizava previsibilidade e credibilidade.
Para Alfredo Trindade, economista, administrador e CEO da Ecco Planet Consulting, o erro mais comum entre empresários era acreditar que bastava abrir uma LLC (Limited Liability Company) para conquistar clientes. “Empreender nos Estados Unidos tem sido, para muitos investidores brasileiros, mais do que uma opção de expansão, é uma forma de proteção contra a volatilidade do ambiente de negócios local. Mas isso só funcionava com planejamento, estudo de mercado e estruturação sólida”, afirmou.
O especialista ressaltou que adaptar o produto ao perfil do consumidor americano era fundamental para o sucesso. “Havia uma diferença enorme entre o que funcionava no Brasil e o que engajava o cliente nos Estados Unidos. Ignorar essas particularidades podia ser fatal”, alertou.
Outro fator determinante foi a escolha do estado onde a empresa se estabelecia. Segundo Trindade, a Flórida aplicava imposto corporativo de 5,5% e oferecia programas de treinamento subsidiado, enquanto o Texas não cobrava imposto corporativo tradicional e contava com fundos de incentivo como o Texas Enterprise Fund (TEF). “Essas diferenças impactavam diretamente a competitividade e o planejamento de custos da empresa”, analisou.
O processo de adaptação também envolvia decisões sobre estrutura societária, tributária e de conformidade. O executivo explicou que compreender as regras do Internal Revenue Service (IRS), as exigências regulatórias estaduais e federais e os impactos culturais era essencial para a operação funcionar de forma sustentável.
O mercado americano impunha regras rígidas, especialmente em setores como saúde, alimentos e serviços financeiros, que exigiam licenças e conformidade regulatória específicas. Além disso, entender o comportamento do consumidor era crucial para evitar erros de posicionamento e comunicação. “Sem preparo adequado, o empresário corria o risco de comprometer tempo e capital em um dos ambientes mais competitivos do mundo. A internacionalização podia gerar resultados consistentes, mas precisava ser tratada como um processo estruturado, nunca como um atalho”, concluiu Trindade.