Em tempos de incerteza, há oportunidades para quem busca investir no exterior

Em um ambiente de crescente complexidade global, a diversificação internacional se consolida como uma decisão tática para preservar capital

Andressa D’Amato*
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Imagens: Divulgação

Andressa D'Amato diz que a volatilidade, somada à recorrente fragilidade fiscal, eleva o risco de concentração

Andressa D'Amato diz que a volatilidade, somada à recorrente fragilidade fiscal, eleva o risco de concentração

Vivemos um momento em que tensões geopolíticas e descompassos econômicos testam, diariamente, a resiliência dos mercados. Nesse cenário, confiar exclusivamente em estratégias domésticas de alocação pode ser uma jogada perigosa no campo dos investimentos. Não por acaso, vemos um número crescente de escritórios de investimentos, MFOs e gestoras independentes adotando uma postura mais globalizada.

Investir no exterior não é apenas uma alternativa complementar, mas uma peça-chave na construção de portfólios capazes de enfrentar ciclos adversos e capturar tendências estruturais de crescimento.

Manter o capital concentrado no mercado local acarreta aumento da correlação entre ativos, limitando o benefício da diversificação tradicional. Já a exposição a ativos internacionais, preferencialmente descorrelacionados, permite uma gestão de risco mais eficiente, tanto sob a ótica da volatilidade quanto da preservação de valor real.

A relevância desse raciocínio remonta à Teoria Moderna do Portfólio, de Harry Markowitz, um dos principais conceitos no campo da gestão de investimentos. Décadas depois, nomes como Ray Dalio continuam a defender, com veemência, o princípio da diversificação como o “Santo Graal” dos investimentos, uma ideia cuja importância só aumenta em um mundo hiperconectado e instável.

No Brasil, a necessidade de diversificação é ainda mais latente. A volatilidade da economia, somada à recorrente fragilidade fiscal, eleva significativamente o risco de concentração em um único país. A diversificação internacional, além de ampliar o leque de oportunidades, serve como proteção contra a desvalorização do real, permitindo ao investidor preservar poder de compra em moeda forte.

Esse ponto é especialmente crítico quando analisamos a relação entre juros e performance cambial. Apesar de o Brasil figurar entre os países com as maiores taxas de juros do planeta, atrás apenas da Turquia, o retorno em reais convertido para dólares frequentemente revela um desempenho decepcionante. Ou seja, o investidor local, mesmo tendo rentabilidade na carteira, perde poder de compra no cenário global.

Outro vetor importante é o acesso a setores estratégicos. Economias desenvolvidas lideram em áreas como tecnologia, inteligência artificial, biotecnologia e saúde, segmentos que, em mercados emergentes como o Brasil, têm pouca ou nenhuma exposição. A alocação internacional permite capturar essas avenidas de crescimento, ao mesmo tempo em que reduz a exposição a riscos específicos de países ou setores cíclicos, como commodities, por exemplo.

A Bolsa de Valores brasileira segue marcada por baixa diversificação setorial e enfrenta um dado preocupante: desde 2008, os lucros em dólares das empresas listadas praticamente estagnaram. Isso reforça a limitação da B3 como veículo exclusivo de geração de valor no longo prazo. Não surpreende, portanto, o crescente movimento de alocadores brasileiros em direção a estratégias globalizadas.

Os fundos feeders, estruturas que investem em cotas de fundos master com estratégias mais sofisticadas, têm ganhado relevância nos portfólios de investidores em busca de diversificação e exposição a ativos globais. A parceria entre a Gama Investimentos e a Oaktree, assim como a recente entrada da canadense Garrington com sua estratégia de crédito privado, ilustram o crescente interesse por ativos internacionais de maior complexidade e com baixa correlação com a dinâmica econômica local.

Outra vantagem desses fundos é o fácil acesso e o valor de investimento inicial mais baixo em comparação aos fundos master. O da Garrington, por exemplo, pode ser acessado com um aporte mínimo de R$ 5.000, enquanto no fundo master o valor mínimo de entrada é de US$ 100 mil.

Estratégias globais já não são sinônimo de complexidade ou risco elevado. O verdadeiro risco, hoje, está na exposição concentrada em um único país, especialmente em mercados sujeitos a instabilidades políticas, fiscais e cambiais. Portfólios bem diversificados não apenas sobrevivem às crises, mas também aprendem a crescer com elas.

*Andressa D’Amato é head de fundos da Braúna Investimentos

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