Num cenário em que boatos e narrativas coordenadas se espalham com rapidez pelas redes sociais, o Instituto Democracia em Xeque (DX), criado em 2021, atua para transformar dados digitais em políticas públicas de defesa cívica. Combinando pesquisa, tecnologia e educação midiática, o instituto busca reduzir o impacto da desinformação e reconstruir a confiança nas instituições brasileiras.
O Democracia em Xeque surgiu no final de 2021, quando relatórios internacionais sobre radicalização política acendiam alertas de risco global. Pesquisadores e tecnólogos decidiram criar uma iniciativa que unisse ciência social e inteligência digital para compreender como campanhas coordenadas corroem a confiança pública e enfraquecem decisões coletivas.
Diferentemente de iniciativas focadas apenas em checagem de fatos, o DX utiliza um método de análise híbrido, que cruza dados de redes sociais com pesquisa de campo. O processo envolve três etapas: diagnóstico, prevenção e incidência pública. Essa abordagem permite antecipar riscos e orientar ações que vão desde o monitoramento técnico até a formulação de políticas públicas.
“O problema não é apenas a fake news isolada, mas o colapso do debate público e a erosão da confiança da população nas instituições democráticas”, explica o diretor-executivo Fabiano Garrido, em entrevista ao BRAZIL ECONOMY. “Quando a percepção de verdade é substituída por narrativas fabricadas, o custo é social e político: as decisões deixam de se basear em evidências.”
Entre as principais frentes de atuação do DX está o desenvolvimento de modelos para mensurar o alcance e o impacto potencial de ameaças digitais. O sistema combina análise de padrões de disseminação, identificação de linguagem emocional e verificação da credibilidade das fontes.
Com base nesses indicadores, o instituto cria painéis de risco que orientam governos, empresas e organizações civis a detectar focos de desinformação antes que ganhem escala. “Nosso papel é fornecer dados que ajudem na tomada de decisão, seja na formulação de políticas públicas, seja em estratégias de comunicação e educação”, afirma Garrido.
Os estudos conduzidos pelo DX mostram que campanhas de desinformação raramente são espontâneas. Elas geralmente envolvem interesses políticos e econômicos e se concentram em três áreas sensíveis: democracia, meio ambiente e saúde pública. Por isso, o instituto defende uma resposta articulada entre imprensa, Estado e sociedade civil, unindo transparência, regulação e educação midiática.
Prevenção como estratégia central
O instituto aposta na prevenção como eixo principal. Em vez de reagir a crises, o DX trabalha para fortalecer a resiliência informacional, conceito que envolve preparar cidadãos e gestores públicos para reconhecer e neutralizar narrativas enganosas.
As ações incluem campanhas educativas para jovens, indicadores de risco desinformacional em políticas públicas e programas de treinamento para servidores e comunicadores. “Queremos antecipar crises de confiança e garantir que as respostas sejam baseadas em evidências, não em pânicos fabricados”, diz Garrido.
Os resultados são medidos não apenas em métricas digitais, mas também em mudanças de percepção entre gestores públicos, referências na mídia e adoção das ferramentas do instituto por outras organizações. Segundo Garrido, é nesse cruzamento entre técnica e política que nasce a capacidade de interromper a escalada da desinformação.
Para 2026, o plano do DX é consolidar-se como centro de ciência e tecnologia aplicada à integridade informacional, ampliando sua base de dados e criando o Índice de Resiliência Democrática, que deve mensurar a capacidade do país de resistir a campanhas coordenadas de manipulação digital.
O instituto também pretende fortalecer parcerias com universidades, governos e organismos internacionais, além de captar novos recursos para expandir suas operações. “Nossa missão é contribuir para um ambiente digital íntegro, seguro e democrático”, reforça Garrido.
Especialistas parceiros do DX alertam que a ausência de regulação sobre plataformas digitais agrava o problema. Para o instituto, é urgente estabelecer regras claras de responsabilização, afastando a noção de uma “internet sem lei”. A defesa da democracia, destacam seus fundadores, depende de uma combinação de ciência, tecnologia, educação e políticas públicas. “Enfrentar a desinformação requer compromisso coletivo, responsabilidade digital e investimento em conhecimento científico”, acrescenta Garrido.
Num ambiente em que a velocidade do ruído supera a dos fatos, o desafio é manter o debate público ancorado em evidências e fortalecer a confiança que sustenta as democracias.

