A Cloudera surgiu em 2008 em Palo Alto (EUA), no coração do Vale do Silício, fundada por ex-executivos de grandes companhias, como Google e Yahoo. Ela foi uma das primeiras empresas do mundo a trazer a grande novidade de Big Data ao mercado. Hoje, atua em 19 países como uma plataforma que vende soluções de IA para as nuvens de alguns dos maiores grupos globais e tem a América Latina como um dos seus mercados mais pulsantes, atuando em países como Chile, México, Costa Rica, Peru e Brasil, que responde por 50% dos negócios latino-americanos.
Mesmo com essa importância, os custos crescentes estão desacelerando a adoção de IA em escala empresarial no país: entre os respondentes brasileiros da pesquisa “The State of Enterprise AI and Data Architecture”, que analisou a adesão de mais de 200 líderes de TI que atuam em empresas relevantes no Brasil, os custos são os principais impeditivos para que as empresas implementem IA: 40% dos executivos ouvidos dizem que o custo de integração é o principal desafio, 35% apontaram custos de armazenamento de dados e outros 21% destacaram custos de soluções pontuais.
Para Rubia Coimbra, VP da Cloudera na América Latina e responsável pelo time do Brasil, é necessário cautela para analisar estes números “Se você está resolvendo um problema pontual que não precisa de escala, não precisa de IA, já que os custos são altos. Além disso, quando uma inovação surge, o valor é caro, mas depois vai barateando, já que caminhamos para uma democratização da tecnologia”.
Formada em administradora de empresas, com mestrado pelo IBMEC e extensão em Illinois, nos EUA, a tecnologia sempre esteve presente nos 35 anos de carreira de Rubia. Teve duas passagens pela Dell e uma pela SAP, onde montou uma unidade de negócios para pequenas empresas antes de se transferir para a Cloudera há 7 anos. Neste tempo, pôde observar as principais mudanças que o mercado tecnológico apresentou, principalmente na tão falada adoção de IA.
Mesmo com a reclamação dos custos, o Brasil ainda é um potencial mercado para a Cloudera justamente pelo interesse que o brasileiro tem em tecnologia, como explica Rubia: “O Brasil é um dos países que melhor adere ao uso de novas tecnologias e o brasileiro não tem medo de usá-la”.
O estudo deixa isso claro: para 30% dos respondentes, a IA foi totalmente integrada aos processos centrais das suas empresas, enquanto 54% disseram que ela foi significativamente integrada. Outros 14% disseram que a IA foi apenas parcialmente integrada. Como resultado, 30% disseram terem sido bem-sucedidas ao obter valor mensurável da IA, 58% significativamente bem-sucedidos, 11% moderadamente bem-sucedidos e 1% levemente bem-sucedidos. Isso tudo mesmo com o cenário de custos altos.
Usar IA da maneira correta é o melhor caminho para trabalhar os custos
A reclamação em torno dos custos tem uma explicação para a VP. Rubia acredita que muitas companhias não se planejam para utilizar IA da maneira correta.
“Uma empresa ter um grande número de dados não significa que ela está preparada para implementar IA e isso é um dos principais pontos quando se debate o tema. Existe aquele conceito de ‘Fear of Missing Out’, com a sigla FOMO, para pessoas físicas que têm medo de ficar fora de discussões do dia a dia, mas isso existe de certa forma no mundo corporativo também: parece que muitas empresas têm medo de não implementar IA e aí fazem de maneira rápida e desordenada, sem encontrar um motivo objetivo para isso. O resultado fica claro em uma pesquisa do MIT que mostra que 80% das companhias que iniciam uma implementação de IA não chegam ao seu final”, afirmou Rubia.
Até pouco tempo, as empresas utilizavam seus bancos de dados tradicionais, mas a Cloudera defende o uso de um formato de tecnologia com dados não estruturados, ou seja, com uso de voz, vídeo e mídias sociais, por exemplo, e que necessitam cada vez mais do uso de IA. Isso faz com que as informações cresçam de maneira exponencial e permite que as empresas se interessem em utilizar este sistema para ganhar novas receitas, por exemplo.
“Imagina trabalhar em uma empresa com ações na bolsa e o CEO vira para o time de TI perguntando sobre grandes inovações da IA e as pessoas da área não sabem do que se trata? Por isso, existe uma corrida para implementá-la e muitas vezes isso negligencia os problemas que devem ser resolvidos e são gastos valores desnecessários. Muitas empresas caem nessa armadilha de usar IA apenas para dizer que usam”, enfatizou a executiva.
Apesar das preocupações, a maioria dos executivos brasileiros se sente confiante na capacidade de proteger os dados usados em sistemas de IA: 35% se dizem extremamente confiantes, 44% muito confiantes, 20% moderadamente confiantes e 1% levemente confiantes. “Os motivos pelos quais os projetos não tem sucesso muitas vezes não é pela tecnologia e sim pelo alinhamento organizacional, estabelecimento de critério, cultura etc. A vantagem competitiva não vem da IA e sim da capacidade da empresa utilizar e processar essa tecnologia. O maior valor que você tem em uma empresa em relação aos dados é se perguntar: esse meu dado é confiável? Enquanto a resposta não for ‘sim’, você não vai saber como usar IA”, disse Rubia.
Diversificação de IA
De acordo com a pesquisa, há ainda uma grande variação de uso da IA entre os executivos brasileiros, já que eles também estão adotando uma ampla gama de modelos de IA para gerar valor e transformar suas organizações: 67% utilizam atualmente IA generativa, 50% deep learning, 45% aprendizado supervisionado, 44% classificação, 40% preditiva, 18% IA agente 11%. A preparação para gerenciar essas novas formas de IA também está aumentando: 48% dos respondentes disseram estar muito mais preparados para gerenciar novas formas de IA em comparação com 2024, 38% disseram estar um pouco mais preparados, 11% levemente mais preparados e 2% tão preparados quanto antes.