Em quase 175 anos de história, a Corning tem participação importante na evolução da indústria e da sociedade. Tudo começou em 1851, em Massachusetts, nos Estados Unidos, com o vidro sendo usado na construção civil. Depois vieram o desenvolvimento do invólucro da lâmpada criada por Thomas Edison, em 1879; a linha de utensílios duráveis para cozinha Pyrex, em 1915; a produção em massa dos tubos de imagem para televisores, em 1947; a primeira fibra óptica capaz de transmitir dados a longa distância, em 1970; e o vidro Gorilla Glass para smartphones, em 2007.
Rumo ao seu bicentenário, a companhia, que se define como especialista em ciência dos materiais, vê no Brasil uma oportunidade para incrementar seu faturamento com soluções voltadas aos data centers de Inteligência Artificial que estão sendo construídos no País.
“Quando é colocada IA nos projetos, exploramos uma maior relação da fibra óptica. A quantidade de conexões e de cabos cresce muito. Hoje, um data center de IA demanda dez vezes mais fibra do que um de cloud”, disse Juliano Covas, gerente regional de vendas de data centers da Corning nas Américas Latina e Central.
É o principal executivo no País da linha de negócios Optical Communications da companhia americana, responsável por 30% da receita líquida global, que em 2024 atingiu US$ 13,1 bilhões, alta de 4% em relação ao ano anterior. No primeiro semestre deste ano, foram US$ 7,4 bilhões, ritmo que pode levar a Corning a alcançar US$ 15 bilhões em 2025.
A estratégia da empresa de apostar suas fichas em data centers de IA no Brasil ocorre após o encerramento das atividades da fábrica voltada à fibra óptica para telecomunicações em Jacarepaguá (RJ), no primeiro semestre de 2024. É o plano Glassworks IA da Corning, um ajuste de rota que reflete a saturação dos resultados da internet por cabo.
Os data centers têm sido o foco, pois passam por uma transformação: os espaços são os mesmos, mas a quantidade de fibras por rack multiplicou-se. Na mesma infraestrutura onde, há poucos anos, eram instaladas mil fibras, hoje são colocadas 64 mil.

“À medida que aumenta o número de GPUs, ou seja, a capacidade de processamento, o número de fibras também cresce muito”, explicou Covas.
Nesse contexto, os desafios enfrentados pela Corning envolvem as interconexões entre data centers, a densificação das redes e o incremento do processamento, além de transformar a próxima geração de infraestrutura óptica e criar os futuros projetos.
Por isso, a companhia tem renovado seu portfólio – produzido no México, Estados Unidos e Europa –, parte do qual está disponível na sede da operação brasileira, em São Paulo, em um showroom voltado a clientes.
São cerca de 10 mil SKUs – apenas os principais estão expostos – que visam atender às demandas do mercado de data centers inteligentes, com foco em velocidade de instalação, produtos pré-conectados, escalabilidade, densidade e customização.
E aqui entra um componente importante da atuação da Corning: os serviços. A empresa tem se posicionado cada vez mais como parceira dos clientes na formulação e no design dos projetos.
“Acreditamos que apenas pensar no produto não é suficiente. Precisamos pensar também no serviço: como vamos planejar, desenhar e implementar o data center de Inteligência Artificial?”, disse Covas.

Mercado brasileiro em expansão
A Corning está de olho em um mercado brasileiro em expansão. O Brasil é o 10º colocado no ranking mundial de data centers, atrás de países como Japão e Holanda.
O Redata, lançado recentemente pelo governo federal, busca mudar esse panorama, atraindo projetos por meio de benefícios tributários, uso de energia renovável a preços competitivos e infraestrutura de comunicações adequada ao tráfego internacional de dados por cabos submarinos.
Ascenty, Elea, Equinix e Scala estão entre as empresas que possuem investimentos bilionários no País para ampliar sua capacidade de dados. De acordo com o Data Center Map, o território brasileiro abriga 188 data centers voltados para cloud – no mundo, são 12 mil.
Quatro unidades voltadas à IA estão sendo projetadas no Rio de Janeiro (RJ), em Eldorado do Sul (RS), Maringá (PR) e Uberlândia (MG). Um quinto, da ByteDance (controladora chinesa do TikTok), em parceria com a Casa dos Ventos, será montado a partir do ano que vem no Complexo Portuário do Pecém, no Ceará, em investimento de R$ 50 bilhões.
Segundo a McKinsey, espera-se que as empresas invistam globalmente quase US$ 7 trilhões em infraestrutura de data centers até o fim da década.
Hypers e setor financeiro na mira
Os hypers, data centers de grande capacidade, dominam o mercado brasileiro. Mas há também outros setores que constroem suas próprias bases de dados ou ampliam seu processamento, com projetos menores – como o segmento financeiro (bancos, fintechs e seguradoras).
“Estamos abordando o mercado financeiro com nossa proposta”, destacou Covas, que tem ampliado a equipe com especialistas e investido em treinamento de instaladores.
Muitos contratos executados no Brasil são fechados pela matriz americana. “Mas precisamos estar preparados e garantir a qualidade da execução”, ressaltou.
Entre os projetos recentes da Corning no País está o atendimento a um data center que necessitava de distribuição de cabeamento das fileiras de rack do MDA (Main Distribution Area) até o data hall, localizados em salas distantes.
O desafio era a grande quantidade de fibras (46 mil) necessárias para a interconexão. Numa distribuição convencional, isso significaria cerca de 320 cabos de 144 fibras, tornando o processo complexo pela quantidade e pelas distâncias.
A solução foi a conectividade de alta densidade Edge Rapid Connect. “Em vez de 320 cabos de 144 fibras, lançamos apenas 16 cabos pré-conectorizados de 2.880 fibras, reduzindo a complexidade do cabeamento e aumentando a velocidade de implantação”, explicou Covas.
Em outro caso, a Corning realizou a interconexão do MDA com o data hall em prédios distintos de um cliente. Foram 10 mil fibras por bandeja aérea e duto subterrâneo. Os cabos de alta densidade de 2.880 fibras semiconectorizados e com fibras Ribbon facilitaram a passagem e as emendas de forma ágil.
Assim, a Corning conecta o passado de vidro ao presente da IA, e reafirma sua vocação para transformar ciência em infraestrutura.

