Com lucro inflado, Vulcabras dispara e fecha trimestre com resultado recorde de R$ 1,1 bi

Em entrevista exclusiva ao BRAZIL ECONOMY, o CEO Pedro Bartelle detalha as estratégias para alcançar o melhor balanço da história e como a empresa gaúcha tem disputado a maratona da concorrência global, dentro do Brasil

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Imagens: Claudio Gatti

"Ter produção nacional com padrão internacional de qualidade, o que nos protege de parte das instabilidades"

"Ter produção nacional com padrão internacional de qualidade, o que nos protege de parte das instabilidades"

Com a Olympikus à frente, Under Armour em seu melhor momento no Brasil e Mizuno em plena retomada, a Vulcabras comprova que o esporte continua sendo um bom negócio. A companhia encerrou o terceiro trimestre de 2025 com resultados que confirmam sua trajetória ascendente. A Receita Operacional Bruta (ROB) atingiu R$ 1,1 bilhão, um crescimento de 21,8% em relação ao mesmo período do ano anterior, coroando o 21º trimestre consecutivo de expansão.

O desempenho foi impulsionado, segundo o CEO, Pedro Bartelle, por um modelo de negócios cada vez mais afinado e por uma operação industrial que soube combinar escala, tecnologia e eficiência. O lucro líquido atingiu R$ 547,2 milhões, com margem de 57,3%. Parte desse resultado expressivo se deve ao reconhecimento de R$ 366 milhões em créditos tributários diferidos, um efeito contábil relevante que reforça a robustez do balanço. O Ebitda somou R$ 226,5 milhões, com margem de 23,7%, reflexo de uma gestão disciplinada e da contínua busca por produtividade.

“Estamos conquistando números históricos e fortalecendo Olympikus, Mizuno e Under Armour. A linha Corre já é uma marca dentro da marca e queremos competir em performance com qualquer player global”, afirmou Bartelle, em entrevista exclusiva ao BRAZIL ECONOMY (leia mais na entrevista abaixo).

Se a Vulcabras mantém o passo firme, a Olympikus é o tênis que a impulsiona. A marca nacional de corrida continua a liderar o segmento e a expandir a linha Corre, hoje referência em tecnologia e desempenho. O avanço é sustentado por uma estratégia que une comunidade, inovação e acessibilidade, atributos que fizeram da Olympikus sinônimo de running “Made in Brazil”.

A Under Armour registrou o melhor trimestre de sua história no País, impulsionada pelas linhas de treino e corrida. Já a Mizuno, após ser incorporada pela Vulcabras, avança em sua reconquista do público corredor. O trabalho conjunto entre os times brasileiro e japonês vem gerando novos produtos de alta performance, desenhados e testados em Parobé (RS), que devem reposicionar a marca entre as preferidas dos atletas profissionais e amadores.

A divisão de calçados esportivos cresceu 22,9% no trimestre, beneficiada pela ampliação da capacidade produtiva e pela maior disponibilidade de produtos no varejo. As recentes expansões nas unidades fabris garantiram mais agilidade na reposição e melhor cobertura do mercado.

O ambiente digital também correu à frente. O e-commerce da companhia avançou 25,4%, atingindo R$ 144,8 milhões e representando 15,2% da receita líquida do período. O novo aplicativo da Mizuno foi um dos destaques, oferecendo uma experiência personalizada e aumentando o tíquete médio das compras via celular.

Com um caixa sólido e diante das discussões sobre a reforma tributária, a Vulcabras anunciou dividendos extraordinários de R$ 597,7 milhões, acompanhados de um aumento de capital no mesmo montante. A operação reforça o compromisso da companhia com os acionistas e garante fôlego para os próximos ciclos de investimento. A gestão mantém a possibilidade de novos pagamentos em 2025, sempre com foco em criar valor de forma sustentável.

O Brasil que corre

Num cenário global de incertezas, marcado por volatilidade cambial e tensões comerciais, a Vulcabras conseguiu se descolar da média do setor. A produção nacional, combinada à qualidade de padrão internacional, ajudou a companhia a crescer mesmo quando o ambiente externo parecia desfavorável. Bartelle reconhece que há riscos no horizonte, como o eventual excesso de produção asiática que pode afetar mercados emergentes, mas garante que a empresa está preparada.

As exportações continuam concentradas na América do Sul, especialmente na Argentina, onde a Vulcabras já atua por meio de distribuidores. O País, segundo o executivo, mostra sinais de estabilização econômica e institucional que podem abrir novas oportunidades nos próximos anos.

A Vulcabras prepara uma nova geração de produtos de altíssima performance para o início de 2026. A linha Corre, da Olympikus, ganhará versões ultraleves voltadas a maratonas, feitas com materiais de última geração. A Mizuno estreará novas coleções desenvolvidas a quatro mãos com o time japonês, e a Under Armour expandirá sua coleção nacional de running.

“Queremos provar que o Brasil tem capacidade de produzir tênis de altíssima performance e competir com as melhores marcas do mundo”, disse Bartelle.

Com mais de 24 mil colaboradores, uma operação cada vez mais tecnológica e uma cultura que valoriza a inovação, a Vulcabras segue correndo em um ritmo próprio, um passo à frente da concorrência e com o olhar voltado para o pódio do mercado global de calçados esportivos.

ENTREVISTA | Pedro Bartelle, CEO da Vulcabras

“Estamos provando que o Brasil consegue produzir tênis de altíssima performance”

A Vulcabras acaba de registrar seu melhor trimestre da história. Quais são os principais destaques do balanço?
A gente vem se surpreendendo com uma demanda maior do que esperava, principalmente pelos produtos da linha de corrida da Olympikus. Isso nos levou a acelerar os investimentos em modernização e aumento de capacidade produtiva ainda no primeiro semestre. O resultado é esse: um crescimento de 21,8% e o 21º trimestre consecutivo de expansão. É o recorde de faturamento da nossa história, com R$ 1,1 bilhão no trimestre. Esse desempenho reflete o sucesso das nossas marcas e o relacionamento que construímos com as comunidades de consumidores.

Esse crescimento foi puxado principalmente pela Olympikus, certo? Como se comportaram as outras marcas?
Sim, a Olympikus continua sendo o motor principal, mas Under Armour e Mizuno também tiveram seus melhores trimestres. No caso da Mizuno, desde que trouxemos a licença para o Brasil, o negócio dobrou de tamanho e segue crescendo. Nosso grande objetivo é reconquistar o corredor brasileiro, e para isso temos trabalhado em conjunto com os japoneses no desenvolvimento de novas linhas de alta performance. Tivemos cinco engenheiros deles em Parobé recentemente, criando produtos com design moderno e matérias-primas premium. Já a Under Armour também vem ampliando o portfólio, com uma coleção nacional de running que será implementada até o fim do ano.

Esses novos produtos da Mizuno são criações próprias ou adaptações de modelos internacionais?
É uma parceria em duas frentes. Alguns modelos são desenvolvidos no Japão e outros aqui, adaptados às características e preferências do corredor brasileiro. Os tênis feitos localmente trazem mais resistência e amortecimento, sem perder o design moderno. É uma nova geração de calçados robustos, com solas mais altas, voltados para treinos longos e maratonas. Estamos muito otimistas com essa nova linha, que deve marcar uma virada importante para a marca no País.

O câmbio e as incertezas do comércio global afetaram o desempenho da companhia?
Curiosamente, não de forma negativa. Mesmo com o dólar oscilando e o cenário internacional turbulento, conseguimos crescer. Nossa vantagem é ter produção nacional com padrão internacional de qualidade, o que nos protege de parte das instabilidades externas. Ainda assim, o setor enfrenta o aumento de importações e muitas liquidações, o que pressiona os preços. Mas o mercado esportivo continua crescendo, impulsionado por tendências de bem-estar, saúde e conforto.

O tarifaço imposto pelos Estados Unidos à China abriu alguma oportunidade para exportações da Vulcabras?
A gente se colocou à disposição dos parceiros internacionais, mas não houve movimentação relevante. Exportamos pequenos volumes para a América do Sul e Central, mas o Brasil ainda não é competitivo para exportar calçados em larga escala. Nosso custo de produção é muito maior que o asiático, e como mais de 50% do custo é mão de obra, fica difícil competir. Mesmo assim, mantemos a disposição de atender oportunidades pontuais, especialmente na região.

E como está o desempenho na Argentina, um mercado tradicionalmente importante para vocês?
A Argentina mostra uma luz no fim do túnel, mas o consumo ainda está muito fraco. O país vive um aperto grande, com poder aquisitivo baixo. Em compensação, as condições de negócios estão melhorando, trazendo mais confiança. Já tivemos fábrica lá, mas a indústria local praticamente desapareceu com a abertura comercial para a Ásia. E a Argentina caminha para não ter fábricas mais no país. Ainda acreditamos que eles podem se recuperar. É um mercado que consome muito material esportivo. Se o ambiente melhorar, dá para multiplicar por cinco o volume atual que exportamos para lá.

Quais são os próximos lançamentos e tendências que a Vulcabras prepara para 2026?
Estamos ampliando todas as linhas, mas a grande novidade é o avanço na categoria de tênis de altíssima performance. A Olympikus vai lançar novos modelos da linha Corre, a Under Armour terá sua coleção nacional de running, e a Mizuno entra com as ‘canoas’, como eu costumo chamar esses modelos de sola alta. E há um projeto muito especial em desenvolvimento: um tênis feito no Brasil para competir com os melhores do mundo, com materiais ultraleves e tecnologia de ponta. Ele será lançado no início de 2026 e vai mostrar que o Brasil tem capacidade de fabricar calçados no mais alto nível.

O balanço também mostra um lucro líquido expressivo, acima de R$ 500 milhões. Há fatores não recorrentes nesse resultado?
Sim. Além do ótimo desempenho operacional e do crescimento do Ebitda, tivemos o reconhecimento de um ativo fiscal diferido sobre prejuízos passados, que somou R$ 366 milhões. Isso inflou o lucro do trimestre para R$ 547 milhões e levou o acumulado do ano a mais de R$ 1 bilhão. É um efeito contábil comum, mas que reforça a solidez da companhia e a perspectiva de geração de caixa futura.

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