O alerta do CEO do JPMorgan, Jamie Dimon, sobre as “baratas” nos bancos regionais nos Estados Unidos e suas implicações para os negócios de dívida privada assusta o mercado financeiro nesta sexta-feira (17). Os índices futuros das bolsas de Nova York apontam para perdas acentuadas no pregão regular, diante do aumento das preocupações com o crédito bancário, contaminando os demais ativos globais.
O problema também afeta as bolsas na Europa e na Ásia, castiga o petróleo, que cai mais de 1%, e coloca as criptomoedas sob pressão. O Bitcoin recua quase 3%. Já o ouro avança para além da faixa de US$ 4,3 mil a onça-troy, enquanto o juro projetado do título norte-americano de 10 anos (T-note) aponta para o negativo e o dólar perde terreno em relação às moedas rivais. O índice VIX – termômetro do medo – sobe quase 10%.
Esse passeio antecipado pelos mercados nesta manhã sugere o medo que de “baratas” estejam voando para outros lugares, ainda que os eventos de crédito nos EUA pareçam ser isolados. O risco de proliferação surge em um momento em que os investidores parecem cada vez mais assustados de que a implosão financeira possa piorar, diante dos sinais de enfraquecimento da economia norte-americana.
O dia promete ser de metamorfose dos ativos de risco, com os mercados tornando-se um lugar repugnante para “sextar”. Cada nova baixa contábil ou problema de crédito nos EUA tende a ganhar proporções desmedidas, em um ambiente de aversão que se espalha como praga. Os investidores tentam separar o ruído da realidade, mas o pânico é difícil de conter – ainda mais diante de um inseto que quando voa, assusta.
Baratas voadoras
Tudo começou na terça-feira (14), quando Jamie Dimon comentou, em teleconferência dos resultados trimestrais, sobre a baixa contábil de US$ 170 milhões que o JP Morgan precisou fazer na esteira das falências da First Brands e da Tricolor Holding, no mês passado. O colapso repentino da financiadora de veículos e da fornecedora de autopeças foi um choque para o mercado de crédito dos EUA, que vem concedendo empréstimos em ritmo recorde.
Ao mesmo tempo, os negócios com dívida privada, que movimentam US$ 1,7 trilhão, vêm oferecendo retornos extraordinários aos investidores. Então, o CEO do maior banco dos EUA disse: “quando você vê uma barata, provavelmente há mais”. Apesar de reconhecer que nem “deveria dizer isso”, Dimon observou que fica “antenado” quando coisas assim acontecem” e avalia que “todos deveriam estar avisados sobre isso.”
Ontem, o susto veio com outros dois bancos regionais dos EUA. O Western Alliance e o Zions abalaram a confiança em Wall Street ao divulgarem problemas com empréstimos. Enquanto o primeiro disse que está lidando com um mutuário que não “forneceu garantias de empréstimos”, o segundo informou uma baixa contábil de US$ 50 milhões referente a um empréstimo subscrito por sua subsidiária integral.
Qualquer semelhança com o colapso do Silicon Valley Bank não é mera coincidência. O episódio de dois anos atrás mostrou que crises bancárias regionais podem escalar rápido e contaminar o sistema. No Brasil, ainda está fresco na memória as perdas contábeis bilionárias das Lojas Americanas. Mas o risco fiscal ainda é o maior temor por aqui – e, como se sabe, “quando se vê uma barata, provavelmente há outras por perto.”
Agenda do dia
Indicadores
- 8h – Brasil: IGP-10 (outubro)
Eventos
- EUA: Reuniões do FMI e do Banco Mundial (anual)
Balanços
- EUA: American Express (antes da abertura)