A Arara Seed, plataforma de investimento voltada a startups do agronegócio, alimentos e clima, projeta encerrar 2025 com R$ 35 milhões captados em cinco rodadas públicas e privadas. Desde sua fundação, em 2022, a gestora já soma R$ 55 milhões investidos em 11 operações, com participação de grandes players industriais e fundos de impacto.
Segundo o CEO Henrique Galvani, o foco da companhia é conectar capital a negócios inovadores com impacto ambiental e social positivo. “A gente faz captações públicas e privadas para startups do agro, food e climate. Já estruturamos rodadas relevantes como a da Benhagra, que levantou R$ 10,2 milhões e teve a participação da Case New Holland, líder global em tratores”, afirmou.
A rodada da Benhagra, que utiliza drones e sensores para reduzir o uso de herbicidas e defensivos agrícolas, foi complementada em julho com R$ 4,8 milhões adicionais aportados por Suzano, maior produtora global de celulose, e pela Atmos, controlada pelo fundo Mubadala e uma das maiores processadoras de cana do País.
Além de fomentar a inovação tecnológica no campo, a Arara Seed tem expandido o escopo de suas captações. Galvani revela que a gestora deve anunciar em breve uma rodada voltada a uma startup de clima, ligada à mitigação de impactos ambientais, e outra na área de biofertilizantes à base de algas, segmento ainda incipiente no Brasil.
“O país tem um potencial imenso para o cultivo de algas marinhas, hoje majoritariamente importadas. Produzir nossos próprios biofertilizantes é uma fronteira de inovação verde”, afirmou o executivo, adiantando que a operação deve envolver investidores públicos e privados.
Terras degradadas e agricultura regenerativa
De olho na crescente demanda de investidores por ativos reais com impacto positivo, a Arara Seed criou em 2025 uma vertical de terras agrícolas degradadas, com o objetivo de adquirir, restaurar e valorizar áreas improdutivas.
“Estamos analisando mais de 100 ativos pelo Brasil, especialmente em regiões de expansão agrícola, como o Pará, a Chapada dos Veadeiros e o norte de Minas Gerais. É um processo seletivo que exige cuidado e tempo, mas o retorno ambiental e financeiro é muito promissor”, explicou Galvani.
Ao avaliar o cenário macro, o CEO observa que o crédito rural continua sendo um pilar essencial, mas ainda insuficiente diante das necessidades de inovação. “Historicamente, o agro é um bom pagador. Mas, com os juros em torno de 15% ao ano, o custo é insustentável para muitos produtores. Por isso, quem adotar práticas regenerativas e sustentáveis terá acesso a linhas mais baratas, especialmente via Fundo Clima e EcoInvest”, disse.
Ele destaca que 30 milhões de hectares degradados no Brasil poderiam ser recuperados, reduzindo a pressão por abertura de novas áreas. “Não faz sentido abrir novas fronteiras se temos 30 milhões de hectares que podem ser restaurados. A COP30 será uma vitrine importante para esse tipo de iniciativa.”
Galvani reconhece que o ambiente de juros elevados tem desestimulado o capital de risco. “Com 15% ou 17% garantidos na renda fixa, poucos tiram dinheiro para investir em startups. Por isso, a participação do setor público é indispensável. Sem apoio governamental, não há inovação em larga escala no agro e no clima”, ressaltou.
O executivo cita estudos do fundo de impacto KPTL que apontam a carência de recursos destinados a soluções de descarbonização na América Latina. “Precisamos de muito mais capital para enfrentar as mudanças climáticas. As startups de mercado de carbono e de agricultura sustentável ainda têm ciclos longos de maturação e necessitam de paciência e fomento.”
Com o Brasil no centro das discussões ambientais globais e a COP30 se aproximando, Galvani defende uma visão pragmática e colaborativa entre governo e agronegócio. “O agro não é vilão. O Brasil tem um dos planos ambientais mais rígidos do mundo, com 50% do território preservado. O produtor rural é, em grande parte, responsável por isso”, disse.
Ele defende que o governo acelere a liberação de bioinsumos e amplie o crédito aos pequenos e médios produtores, sobretudo nas regiões afetadas por eventos climáticos, como o Rio Grande do Sul. “O uso de biológicos cresce porque é mais eficiente e barato que o químico. Precisamos de políticas públicas que incentivem essa transição.”
Livre comércio e novas oportunidades
Sobre o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, Galvani vê mais oportunidades do que riscos. “Se o acordo avançar, teremos um salto em inovação e em rastreabilidade de alimentos, uma exigência crescente do mercado europeu. É também uma chance de atrair mais capital para startups que trabalham com monitoramento, certificação e tecnologia para garantir a origem sustentável dos produtos.”
Para o CEO da Arara Seed, o futuro do agronegócio brasileiro passa por três vetores: sustentabilidade, tecnologia e crédito inteligente. “Quem unir esses três elementos vai liderar a próxima década do agro. O Brasil tem vocação para ser protagonista. Basta investir na direção certa.”

