Verallia, da família Moreira Salles, põe suas fichas no Brasil e investe R$ 700 mi no Sul

Empresa de origem francesa, controlada pela brasileira BWSA, inaugura nova fábrica em Campo Bom (RS) para dobrar produção de garrafas de vidro. Desafio é aumentar reciclagem

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Imagens: Eduardo Rocha / Divulgação

Patrice Lucas, CEO global do Grupo Verallia

Patrice Lucas, CEO global do Grupo Verallia: investimentos no Brasil são de longo prazo

O Salton Prosecco Rosé, da vinícola Salton, foi eleito o Espumante Brasileiro do Ano no Sommelier’s Choice Awards 2025, competição realizada em Chicago (EUA) que avalia vinhos de todo o mundo. No exato espaço entre o rótulo e o líquido está uma camada milimétrica de vidro. A garrafa é produzida na fábrica da empresa francesa Verallia, localizada na cidade de Campo Bom (RS), a 110 quilômetros da Salton e a 50 quilômetros da capital gaúcha, Porto Alegre. A vinícola é um dos 342 clientes da Verallia no Brasil e a garrafa é um dos 325 formatos que a companhia produz no país. Para ampliar essa atuação, a Verallia inaugurou na terça-feira (23) uma fábrica ao lado da já existente, que irá praticamente dobrar a capacidade produtiva: das atuais 700 mil garrafas por dia para 1,3 milhão. O investimento foi de 111 milhões de euros, cerca de R$ 700 milhões na cotação atual.

O BRAZIL ECONOMY acompanhou a solenidade de entrega da planta – que a empresa trata como forno –, com participação de executivos franceses e da América Latina, além de autoridades públicas, entre elas o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSD).

O último grande aporte da Verallia no país havia sido o segundo forno na planta de Jacutinga (MG), no valor de 60 milhões de euros, cerca de R$ 375 milhões na conversão recente. Com dois fornos em Campo Bom, dois na cidade mineira e outro em Porto Ferreira (SP), onde tem uma linha de vidros decorativos, a companhia totaliza cinco sites de produção no Brasil, onde atua desde 1896 – há 129 anos, portanto.

Os investimentos no Brasil, que ultrapassam R$ 1 bilhão em dois anos, expõem a aposta da empresa na economia brasileira, já que seus clientes atuam essencialmente nos ramos de bebidas e alimentos, com 57% deles na categoria cerveja.

Quintin Testa, diretor-geral da Verallia para a América Latina
Quintin Testa, diretor-geral da Verallia para a América Latina

Vinhos, spirits, vodca, sucos, palmitos, cafés e, a partir de agora, azeites estão entre os produtos armazenados pelas garrafas e potes da Verallia. A companhia mira penetrar em novos mercados em que ainda não atua, como massa de tomate e leite de coco, por exemplo.

Na carteira de clientes, além da Salton, destacam-se a Vinícola Aurora, Garibaldi, Ambev, Heineken, Diageo, Velho Barreiro, Coca-Cola, Nestlé, entre outros.

Ano passado, o setor de bebidas movimentou R$ 210,6 bilhões no país, aumento de 2,1% em termos reais, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia).

É nesse cenário que a família Moreira Salles, ligada ao Itaú Unibanco, colocou fichas e mais do que dobrou a aposta. O clã detinha 28,8% das ações da Verallia e, no início do ano, fez uma oferta para ampliar sua participação e controlar o grupo, o terceiro maior do mundo na produção de embalagens de vidro para os setores de bebidas e alimentos.

Desde agosto, possui 77,05% dos papéis da empresa, por meio da Brasil Warrant Administration of Bens e Empresas SA (BWSA) e da BW Gestão de Investimentos Ltda (BWGI). João Salles e Márcia Freitas são os representantes brasileiros no conselho administrativo.

Patrice Lucas, CEO global do Grupo Verallia, afirmou que os investimentos no Brasil são de longo prazo e que continuarão no ritmo em que forem demandados pelo mercado. “Passamos de três para cinco fornos rapidamente no país. Acompanhamos a necessidade de clientes e consumidores brasileiros”, disse o executivo francês.

Planta de Campo Bom tem agora dois fornos: investimento de 111 milhões de euros
Planta de Campo Bom tem agora dois fornos: investimento de 111 milhões de euros

“Com o forno de Campo Bom, a Verallia reforça o papel como parceiro estratégico da indústria brasileira de vinhos. Com o início da produção desse novo forno, a unidade continuará a atender esses mercados e ampliará sua capacidade de operação”, frisou o mexicano Quintin Testa, diretor-geral da Verallia para a América Latina.

Testa ressaltou, no entanto, que o desafio no País é avançar na reciclagem do vidro. No Brasil, cerca de 35% da produção é feita a partir de cacos. Na Europa, são 85%. “Temos conversado com fornecedores, clientes, parceiros e autoridades públicas para avançar nesse quesito. É difícil, mas estamos trabalhando nisso”, disse o executivo. Por aqui, a empresa ainda atua junto a parceiros como cooperativas na logística reversa em busca por vidros recicláveis. Em outros países, como no Chile, a companhia tem seus próprios hubs de captação.

Brasil é mercado-chave

O crescimento do Brasil é mais forte do que a média global da companhia, que faturou 3,5 bilhões de euros em 2024. O montante é 11,5% menor do que o registrado em 2023, de 3,9 bilhões de euros. Já a América Latina, que representa 12,4% das vendas totais da Verallia, faturou 428,3 milhões de euros, 7,9% superior aos 396,8 milhões de 2023.

O desempenho positivo na região foi puxado pelo Brasil, bastante ativo e impactado pela implementação do novo forno de Jacutinga, segundo relatório da companhia, que apontou ainda o segmento de cervejas como o mais dinâmico ao longo do ano, com os vinhos apresentando tendências positivas em todos os países da região. Sinal de que o investimento aliado à demanda surtiu efeito.

“O crescimento do Brasil tem sido mais forte do que de países da Europa e dos Estados Unidos”, disse o CEO da Verallia.

O governador Eduardo Leite comemorou o aporte no território gaúcho, o maior da história da cidade de Campo Bom. Em gesto de simpatia, discursou em francês. “Quem sabe esse meu esforço em falar no idioma não ajude a empresa a fazer mais investimentos no nosso Estado”, afirmou o governador, de forma bem-humorada.

Leite agradeceu as iniciativas da Verallia no Rio Grande do Sul e disse que elas fazem parte de um esforço do governo em promover um ambiente favorável para atrair aportes para o Estado.

Citou o Fundo Operação Empresa do Estado do Rio Grande do Sul (Fundopem), que no ano passado gerou R$ 100 bilhões em investimentos. “Não adianta apenas reduzir impostos. É preciso preparar o capital humano, gerar segurança pública, com menos burocracia e mais capacidade logística para as empresas se instalarem no Rio Grande do Sul”, afirmou o governador.

Capacidade produtiva na fábrica de Campo Bom praticamente dobra: passa de 700 mil garrafas por dia para 1,3 milhão
Capacidade produtiva na fábrica de Campo Bom praticamente dobra: passa de 700 mil garrafas por dia para 1,3 milhão

Junto com o investimento da Verallia, outros integrantes da cadeia também fazem suas ampliações. Fornecedoras de oxigênio para a fábrica francesa têm planos em andamento para avançar seus negócios na cidade gaúcha.

Mais eficiência, menos CO₂

O novo forno da Verallia em Campo Bom é o primeiro do mundo da empresa com a tecnologia HeatOx™. “Isso reforça o pioneirismo tecnológico da Verallia e seu compromisso com a inovação e o desenvolvimento local”, disse Quintin Testa.

Com um sistema que pré-aquece o oxigênio antes de ele ser consumido no forno, há melhora na eficiência térmica e redução do consumo de oxigênio e combustível. Um sistema de high boosting complementa o processo com energia elétrica, reduzindo o uso de combustíveis fósseis durante a fusão. Essa inovação reduz em até 20% as emissões de carbono em comparação com fornos convencionais, além de 19% de economia de energia total.

Para o futuro, a Verallia já testa a possibilidade de fornos 100% elétricos, mas o desafio é manter a produtividade, que cai pela metade em relação ao atual modelo. A tendência é chegar a um forno híbrido, operado com 80% de energia elétrica e 20% de combustível fóssil.

Esse é o futuro. O presente está no Brasil, uma realidade que tem agradado ao comando da companhia, seja aos executivos franceses e de outros países, seja à família Moreira Salles.

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