Timeshare supera R$ 2 bilhões no País e aposta em expansão de quase 13% em 2025

Com mais contratos ativos, queda na inadimplência e aumento da fidelização, modelo de férias compartilhadas se consolida como alternativa para o turismo

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Imagens: Divulgação

Hot Beach, em Olímpia (SP), um dos principais destinos turísticos em modelo timeshare no País nos últimos anos

Hot Beach, em Olímpia (SP), um dos principais destinos turísticos em modelo timeshare no País nos últimos anos

O mercado de timeshare no Brasil atravessa um momento de virada. O modelo, também conhecido como propriedade compartilhada ou férias programadas, ganhou força nos últimos anos e, em 2024, superou a marca de R$ 2 bilhões em Valor Geral de Vendas (VGV). Os números, inéditos, refletem o amadurecimento de um setor que há duas décadas buscava provar sua viabilidade no país e agora colhe resultados consistentes.

A segunda edição do estudo “Timeshare no Brasil: Dimensionamento de mercado e performance”, conduzido pela Noctua Advisory em parceria com a RCI, traça um retrato detalhado desse avanço. A pesquisa analisou 53 empreendimentos em 14 estados e 33 cidades, revelando não apenas o desempenho comercial, mas também tendências de comportamento do consumidor, eficiência de vendas e desafios estruturais. O relatório será lançado oficialmente no fim de setembro, mas já antecipa expectativas otimistas: para 2025, projeta-se crescimento médio de 12,8% em VGV.

Fabiana Leite, diretora da RCI na América do Sul, diz que tem ocorrido um fortalecimento do relacionamento de longo prazo, algo que garante estabilidade e recorrência ao negócio
Fabiana Leite, diretora da RCI, diz que tem ocorrido um fortalecimento do relacionamento de longo prazo

Os dados mostram uma indústria que deixou para trás a fase experimental. Em 2024, foram registradas 40,7 mil vendas brutas, alta de 10,8% sobre o ano anterior. A base ativa de contratos alcançou 142,7 mil, crescimento de 5,6%. Os resorts participantes atingiram taxa de ocupação média de 62,4%, seis pontos percentuais acima de 2023, com o timeshare respondendo diretamente por 13,1 p.p. desse indicador.

Um dos sinais mais claros de maturidade está na ampliação das revendas e upgrades, que já representam 19,7% das transações, contra 16,3% em 2023. Esse movimento indica fidelização: os clientes não apenas permanecem no sistema, como ampliam seu uso ou negociam condições melhores. Ao mesmo tempo, a taxa de cancelamentos caiu para 23% e a inadimplência recuou de forma expressiva, para 11,7% dos contratos, uma queda de 4,6 pontos percentuais em relação ao ano passado.

“Estamos diante de um modelo mais sustentável. A venda inicial continua sendo importante, mas vemos um fortalecimento do relacionamento de longo prazo, algo que garante estabilidade e recorrência ao negócio”, disse Fabiana Leite, diretora da RCI na América do Sul.

Apesar do avanço, ainda há espaço significativo para expansão. No mundo, o mercado de timeshare movimenta cerca de US$ 20 bilhões por ano. Só os Estados Unidos responderam por US$ 10,5 bilhões em 2024, com um universo de 1,5 mil resorts e taxa média de ocupação próxima a 80%.

“No Brasil, atingimos números consistentes, mas estamos ainda na metade do potencial de crescimento”, avaliou Pedro Cypriano, CEO e fundador da Noctua Advisory. Segundo ele, a consolidação de grupos pioneiros como Aviva (que aderiu ao modelo em 1999) e Beach Park (desde 2006) mostra como o timeshare pode transformar ativos hoteleiros. “É notória a força do produto para a valorização da hotelaria de lazer. Bem estruturado, o modelo amplia a ocupação, diversifica receitas e fortalece a marca. Ainda temos uma diferença de cerca de 20 pontos percentuais em relação à ocupação americana, o que mostra o tamanho da oportunidade.”

Fatores de sucesso

O estudo destaca que a eficiência em vendas chegou a 27,2%, resultado de processos mais qualificados e do uso crescente de tecnologia. Plataformas digitais de reserva, CRM integrados e estratégias de marketing personalizadas têm elevado a assertividade na negociação e reduzido a fricção no relacionamento com o cliente.

Outro fator é o fortalecimento do pós-venda. “O uso efetivo do produto, aliado à possibilidade de upgrades e revendas, aumenta a satisfação e reduz cancelamentos”, comentou Fabiana. Para ela, o setor caminha para um ciclo mais virtuoso, em que a experiência supera a mera aquisição.

Essa mudança reflete também transformações no perfil do consumidor. Famílias jovens e viajantes conectados buscam flexibilidade, personalização e acesso a experiências diferenciadas. Mais do que comprar dias de hospedagem, eles querem garantir férias regulares com opções de intercâmbio, serviços adicionais e segurança financeira no planejamento.

Apesar dos avanços, o relatório não ignora obstáculos. A alta rotatividade de profissionais segue sendo um gargalo, impactando diretamente o custo de comercialização e a consistência da operação. Além disso, o setor ainda precisa investir em qualificação contínua, tanto em vendas quanto em gestão de relacionamento.

Para Cypriano, superar esses pontos é fundamental para sustentar o ritmo de expansão. “O setor precisa se profissionalizar cada vez mais, porque a concorrência é grande não apenas entre empreendimentos de timeshare, mas com todo o mercado de turismo e lazer. O consumidor compara preços, experiências e benefícios de forma imediata.”

Futuro promissor

As perspectivas para 2025 são animadoras. O estudo projeta um crescimento médio de 12,8% no VGV, impulsionado pelo aumento da confiança do consumidor, pela busca por experiências personalizadas e pelo maior engajamento das operadoras.

“O futuro do timeshare no Brasil está diretamente ligado à eficiência comercial, ao relacionamento contínuo com o cliente e à gestão de talentos”, resume Fabiana Leite. Para ela, o modelo deixa de ser apenas uma alternativa e passa a integrar de forma estruturada a cadeia de valor da hotelaria e do turismo.

Em um país com vocação natural para o turismo, diversidade cultural e belezas naturais ainda pouco exploradas, o timeshare aparece como peça estratégica para ampliar a ocupação dos resorts, fidelizar viajantes e gerar previsibilidade financeira para os empreendimentos. Se o ritmo atual for mantido, o setor pode, em poucos anos, reduzir a distância que ainda o separa dos mercados mais maduros.

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