Entre 2021 e 2025, o tempo médio de tramitação de processos trabalhistas no Brasil na 1ª instância caiu de 1.225 para 1.026 dias, uma redução de 199 dias (-16,2%). Por outro lado, caso o processo chegue ao Tribunal Superior do Trabalho (TST), o tempo médio subiu de 579 para 734 dias, um acréscimo de 155 dias (+26,7%). Isto evidencia que, embora os processos avancem mais rápido na base, acabam enfrentando maior demora na fase de recursos, o que pressiona a instância superior e pode prolongar o desfecho definitivo das disputas trabalhistas.
O levantamento acima foi feito para o BRAZIL ECONOMY com exclusividade pela Artemis, startup de inteligência na identificação de crédito em ativos judiciais, que vem oferecendo um tipo de serviço relativamente novo no Brasil: empresas que identificam, negociam, precificam e vendem ativos judiciais trabalhistas, como explica Bruno Bitelli, CEO e sócio-fundador da companhia.
“Embora já tenha mais força nos EUA e na Inglaterra, onde tem o nome de Legal Claims, a ideia de se precificar processos judiciais é algo novo no Brasil. Mas, é um mercado com grande potencial por causa dos altos custos para se operar aqui. Temos um ecossistema muito grande de gestoras que querem comprar esses ativos no mercado brasileiro. Conheço casos de empresas que têm apenas 10% de sua operação no Brasil, mas 90% dos processos trabalhistas ocorrem no país e podem ser precificados. Nosso objetivo é ajudar a tirar esse dinheiro represado em processos e aumentar a liquidez do mercado”.
A Artemis desenvolveu uma tecnologia de inteligência artificial que analisa e prevê o quanto deve ser pago em um determinado processo, quanto tempo ele deve durar, as possibilidades de se vencer o caso e muitas outras variáveis que ajudam todas as partes a se planejarem. Este novo método foi feito a partir de dados públicos, já que a startup tem acesso a todos os processos judiciais em aberto no Brasil e, com isso, analisam históricos, jurisprudências e comportamentos de instâncias em todos os estados. Com isso, geram a devida precificação.
O foco para a fundação da companhia, em outubro de 2023, não poderia ser outro: o alto número de processos judiciais no Brasil que giram, atualmente, em 7,2 milhões, de acordo com dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Somente no primeiro semestre de 2025, foram 2,4 milhões novas ações, somadas às 4,8 milhões de 2024.
Este movimento reacende o debate sobre eficiência, litigiosidade e os custos para empresas em um ambiente de alta rotatividade de mão de obra. Afinal, se por um lado dados oficiais mostram que o mercado de trabalho está aquecido no Brasil em 2025, por outro isso trouxe um efeito colateral expressivo: a volta da judicialização trabalhista a patamares semelhantes ao período anterior à Reforma de 2017.
“Quando veio a Reforma Trabalhista muita gente resolveu processar empregadores já que não se sabia como o cenário ficaria. O resultado foi que nos primeiros anos houve uma queda no número de processos, mas agora que todo mundo já entendeu as regras do jogo voltamos ao status quo, ou seja, aos mesmos patamares de ativos judiciais que se tinha antes da Reforma Tributária, o que representa um crescimento anual de cerca de 30%” explicou Bitelli.
Engana-se quem pensa que este cenário fica apenas na esfera jurídica. Ele cria impactos econômicos relevantes, com efeitos sobre planejamento financeiro, custos trabalhistas e até sobre a segurança jurídica no ambiente de negócios. Analisar, filtrar, precificar e originar crédito por meio de ações judiciais torna-se um benefício tanto para gestoras, que estão enxergando cada vez mais esse potencial de investimento, quanto advogados e os próprios donos do processo que podem antecipar suas verbas indenizatórias.
Atualmente a Artemis mapeia cerca 4 milhões de ativos por mês, com meta de aumentar para 10 milhões até dezembro. São cerca de 10 mil processos analisados por dia e o grande foco de investimento da companhia no momento é aumentar a equipe de inteligência artificial. Após receber um aporte em outubro de 2024, de um investidor estrangeiro não divulgado, a empresa planeja um Road Show para este ano com o objetivo de alcançar nova captação no primeiro semestre de 2026.