O mercado financeiro mirou no alvo errado. O “PIBão” dos EUA no segundo trimestre disparou uma correção nos ativos de risco ontem. Aqui, o Ibovespa recuou para os 145 mil pontos e o dólar subiu a R$ 5,36. Além disso, o crescimento de 3,8% da economia norte-americana colocou em xeque o otimismo dos investidores com novos cortes nos juros pelo Federal Reserve, esfriando as apostas de queda em outubro.
Mas o ‘diabo’ mora nos detalhes. O Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos cresceu mais rápido do que se pensava por causa da queda nas importações. Aliás, essa mesma variável foi responsável pela contração de 0,6% da economia norte-americana nos três primeiros meses deste ano. A diferença é que de janeiro a março houve um salto nas compras externas pelos EUA.
Ou seja, enquanto a antecipação das importações às vésperas do tarifaço de Donald Trump, anunciado em abril, pesou no PIB norte-americano no início de 2025; a maior economia do mundo engatou uma recuperação no trimestre passado à medida que o fluxo de produtos estrangeiros para os EUA diminuiu.
Portanto, as leituras do PIB do primeiro e do segundo trimestres não são um reflexo real da saúde da economia dos EUA devido às grandes oscilações nas importações. Ao contrário, a previsão é de um segundo semestre morno, devido às incertezas em torno da política comercial da Casa Branca.
Traduzindo o economês
Fato é que fazia algum tempo que os EUA não anunciavam dados tão positivos. Os investidores, então, aproveitaram a oportunidade para justificar um valor mais alto do dólar – a moeda norte-americana subiu de modo generalizado ante as rivais ontem. No entanto, é preciso mais boas notícias para manter essa tendência. E, talvez, elas já tenham cessado, devolvendo o movimento da véspera.
Ontem mesmo, o que mais chamou a atenção na composição dos números do PIB foi a aceleração dos gastos do consumidor, para 2,5%, acima da estimativa anterior de 1,6%. A questão é que este consumo tende a gerar pressão inflacionária – ainda mais se o aumento nas despesas não for acompanhado do crescimento na renda pessoal.
Daí porque o índice de preços de despesas de consumo pessoal, o chamado PCE (na sigla em inglês), é o destaque da agenda do dia. O indicador de inflação preferido do Fed deve balizar as expectativas para as duas próximas reuniões deste ano. A previsão é de que a taxa anual do PCE alcance o maior nível em seis meses, a 2,7%.
Contudo, por ter um duplo mandato, os sinais do mercado de trabalho influenciaram mais na decisão de alívio monetário neste mês do que a alta persistente nos preços. Nesse sentido, chama a atenção a segunda queda seguida nos pedidos iniciais de seguro-desemprego, para 218 mil, bem abaixo da média móvel de um ano de 227 mil.
Moral da história: o corte na taxa de juros dos EUA em setembro não foi nem pelo risco de recessão nem pela piora na geração de emprego. Com o fantasma da inflação ainda rondando os consumidores norte-americanos, quem assustou mais o Fed tem nome e sobrenome.
Passeio pelos mercados
Os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram em alta, em busca de recuperação após as perdas de ontem. Na Europa, prevalece o sinal positivo, após uma sessão negativa na Ásia.
Entre as moedas, o dólar perde terreno em relação às moedas rivais, com o índice DXY (cesta de moedas de economias avançadas) em queda.
Nas commodities, o petróleo tem leve alta, mas o minério de ferro fechou em queda de 1,7% em Dalian (China), a 790 yuans (US$ 110,72).
Já o ouro avança. Nas criptomoedas, o Bitcoin está de lado.
Agenda do dia
Indicadores
- 8h30 – Brasil: Nota do setor externo (agosto)
- 9h30 – EUA: Índice de preços PCE (agosto)
- 9h30 – EUA: renda pessoal e gastos com consumo (agosto)
- 11h – EUA: Sentimento do consumidor – Univ. Michigan (setembro)
Eventos
- 14h30 – Brasil: Reunião do BC com economistas em São Paulo (grupo 01)
- 16h – Brasil: Reunião do BC com economistas em São Paulo (grupo 02)