O mercado financeiro dá como fato consumado o corte de juros pelo Federal Reserve em setembro. Mais que isso, os investidores veem ao menos mais uma queda adicional para o restante de 2025. Essa perspectiva de juros mais baixos nos Estados Unidos até o fim do ano anima os ativos de risco e dita o tom dos negócios para esta segunda-feira (08).
Com isso, os mercados relegam o cenário macro e se concentram nas apostas em torno do Fed. Mas o que importa é o que os indicadores econômicos já conhecidos sinalizam. A começar pelos números da balança comercial chinesa. Divulgados na madrugada, a China reportou o menor crescimento das exportações em seis meses.
A alta foi de 4,4% em agosto, desacelerando em relação ao aumento de 7,2% em julho e ficando abaixo da previsão de 5%, em base anual. Apesar da vigência da trégua tarifária por 90 dias, assinada no mês passado, as exportações de produtos chineses para os EUA despencaram mais de 30%.
A demanda doméstica mais fraca também impactou o comércio chinês. Do lado das importações, o crescimento desacelerou para 1,3% em agosto, de +4,1% no mês anterior e ante estimativa de +3,7%, sempre na comparação com um ano antes. Ainda assim, o superávit comercial chinês foi de US$ 102 bilhões, acima da projeção de US$ 99,3 bilhões.
Na semana passada, a balança comercial brasileira também mostrou redução significativa do comércio com os EUA. Em meio às tarifas de 50% das importações norte-americanas sobre os produtos nacionais, houve uma queda de 18,5% das exportações para a maior economia do mundo. Ainda assim, o superávit comercial em agosto cresceu 35,8%.
Mercado não lê nas entrelinhas
Com o mercado centralizando a atenção no Fed após a bateria de dados sobre o mercado de trabalho nos EUA na semana passada, o tripé formado por juros, comércio e emprego parece ficar manco. Afinal, é esse panorama que compõe as peças e dita o lugar de cada país no tabuleiro global.
E a pergunta que fica depois da divulgação do payroll é: por que os EUA estão criando menos vagas de emprego? Os números mais recentes mostraram que não é apenas a demanda por mão de obra que está diminuindo. Cada vez menos pessoas estão deixando seus empregos em busca de uma oportunidade melhor em outro lugar.
Não se trata, portanto, de uma situação de pleno emprego – tida como uma das variáveis desejáveis para o Fed afrouxar sua política monetária. Porém, se o Fed iniciar um ciclo de cortes a doses de 0,25 ponto a partir deste mês, qual será a postura dessas empresas e desses cidadãos em um cenário de juros abaixo de 4% até o fim do ano?
A resposta é mais complexa e pode estar relacionada ao tarifaço de Donald Trump. Mesmo com o custo do crédito menor, seja para os investimentos quanto para o consumo, a taxação gera cautela. Afinal, crédito tem a ver com credibilidade e o que há, por ora, é receio e desconfiança em relação à alta dos preços dos produtos importados para os EUA.
Que bicho é esse?
Daí porque os dados de emprego aumentaram o temor de recessão da maior economia do mundo. Mais especificamente, o risco é de estagflação (inflação com queda da atividade). Tanto que Wall Street encerrou a última sexta-feira no vermelho. Já o Ibovespa cravou nova pontuação recorde, virando o saldo da semana (e do mês) para o positivo.
O dólar, por sua vez, insiste em respeitar a marca de R$ 5,40, ignorando o derretimento dos títulos do Tesouro dos EUA (Treasuries). Como explica o economista André Perfeito, o verdadeiro ajuste do déficit das contas externas dos EUA está na queda do dólar. Por isso, em algum momento, “o dólar vai testar o suporte de R$ 5,30”, prevê. A conferir.
O que vem por aí
Dados de inflação no Brasil e no mundo em agosto recheiam o calendário econômico ao longo desta semana. A China abre a rodada de divulgação na noite de terça-feira (09), quando informa os números dos índices de preços ao consumidor (CPI) e ao produtor (PPI).
Na manhã do dia seguinte, é a vez do IPCA. Também na quarta-feira (10), sai o PPI nos EUA. Já na quinta-feira (11), dia de decisão de juros na zona do euro (BCE), o radar se concentra no CPI norte-americano.
Em outra frente, o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro será retomado amanhã. Haverá sessões todos os dias até sexta-feira (12), quando deve sair o resultado dos votos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Números sobre a atividade em julho também merecem atenção. No Brasil, destaque para as vendas no varejo, na quinta, e para o setor de serviços, na sexta. Apesar da agenda cheia nos próximos dias, a segunda-feira (8) começa mais devagar (vide abaixo).
Passeio pelos mercados
Nas bolsas, prevalece o sinal positivo desde a Ásia, passando pela Europa até chegar em Nova York. Por volta das 6h30, o futuro do Dow Jones subia 0,1%, do S&P tinha +0,2% e do Nasdaq, +0,35%. A city londrina também exibia ganhos moderados, de +0,1%.
Entre as commodities, o petróleo avança quase 2%, apesar da decisão dos países exportadores e aliados (Opep+) de aumentar a produção a partir de outubro e do novo plano dos EUA de cessar-fogo entre Israel e Hamas.
Nos metais, o minério de ferro negociado na bolsa de Dalian (China) fechou em alta, acima de US$ 111, enquanto o ouro segue colado às máximas históricas
Já nas criptomoedas, o Bitcoin está praticamente estável, depois de ir além dos US$ 110 mil.
Agenda do dia
Indicadores
- 8h – Brasil: IGP-DI (agosto)
- 8h25 – Brasil: Boletim Focus (semanal)
- 16h – EUA: Crédito ao consumidor (julho)