Luiz Eduardo Andrade é mineiro radicado em São Paulo, com carreira consolidada no mercado financeiro desde 2014, quando ingressou no Banco BTG Pactual, transferindo-se em seguida para o Santander Brasil. Lá, desenvolveu trajetória no segmento de wealth management, administrando ativos de investimentos, locais e offshore, no valor de R$ 12 bilhões para pessoas físicas de alto patrimônio líquido. Em 2019, tornou-se sócio da Condere, empresa fundada em 2006 com o objetivo de contribuir para os processos de fusões e aquisições (M&A) no Brasil. Em 2024, a Condere se uniu à Ecoagro para lançar uma joint venture focada em assessoria de transações de fusões e aquisições no agronegócio. Em entrevista exclusiva ao BRAZIL ECONOMY, Andrade falou sobre como o M&A pode ser um instrumento para gerar valor aos players do campo brasileiro.
Como você avalia o desempenho da agricultura brasileira este ano?
Pensando em 2025, as notícias do campo foram boas até agora, principalmente no mercado de grãos, como soja, milho, arroz e feijão. Paralelamente, o algodão também cresceu de maneira interessante. Esse cenário positivo se deveu, inclusive, às questões climáticas e de crédito. Este ano houve a acomodação dos operadores do mercado, seja pela superação dos ruídos e notícias desencontradas, seja pela consolidação dos custos de capital e das perspectivas produtivas.
Como você vê o mercado de M&A atualmente no agro brasileiro?
No campo, o Brasil hoje é protagonista em M&A. E queremos deixar claro que isso deve ser analisado muito mais sob a ótica micro do que macroeconômica. O mercado entendeu que é preciso olhar uma janela de 15 ou até 30 anos para pensar em M&A. É importante alinhar isso com os investidores para que não haja retração diante do primeiro soluço do mercado. Eles precisam ter sensibilidade para entender os picos e vales que são naturais da agricultura, já que se trata de uma atividade sujeita a muitas variáveis fora do controle do produtor rural, como clima e questões fundiárias. Porém, em termos gerais, o M&A será o “óleo da engrenagem” do agro brasileiro, buscando maximização de valor e melhores práticas.
E como o M&A pode alcançar esses objetivos?
O mercado brasileiro no campo tem sido pautado por ganhos de eficiência e escala, otimização de custos e pela necessidade crescente de verticalizar as operações do agronegócio em diferentes segmentos produtivos da cadeia. Isso gera valor para todos os envolvidos. Em operações recentes, observamos grupos brasileiros que, diante de gargalos logísticos, optaram por joint ventures proprietárias para solucioná-los, sem depender de concessões externas. O agro precisa reduzir o ruído entre as etapas, do campo ao porto. O M&A está bem posicionado para diminuir essa fricção e gerar valor de forma substancial.
A joint venture com a Ecoagro em 2024 ajudou a Condere nesse sentido?
Sim. A parceria com a Ecoagro nos diferenciou, já que eles solucionam questões dos empresários do setor com operações de crédito, enquanto nós pensamos mais a longo prazo com M&A. No agro, há crises cíclicas, e nesses momentos precisamos selecionar as melhores empresas e soluções. Entendo que a lente deve ser de integração entre diferentes elos da cadeia e de acúmulo de soluções dentro de um mesmo operador.
Quais regiões você aposta mais no sucesso em termos de M&A?
Algumas regiões seguem como referências para o agro, como Mato Grosso e Goiás. Mas vemos também a abertura de novas fronteiras agrícolas, com a expansão do setor em Rondônia e no Acre. Já o Rio Grande do Sul tem sofrido ao longo dos últimos anos, e o M&A pode ser não só uma ferramenta de liquidez para os acionistas, mas também uma estratégia de gestão de capital para que os empresários superem esse momento difícil.
E em termos de produtos?
Sementes têm crescido bastante, tanto em beneficiamento quanto em tratamento e armazenagem. Mas um dos principais destaques é a expansão das usinas de etanol a partir do milho, em fase de projeto, construção ou prestes a entrar em operação. Essa transformação deve alterar a dinâmica do mercado, pois exigirá maior produção de milho. Já observamos empresas ampliando plantações para atender a essa demanda crescente. São investimentos em diversas regiões do Brasil, principalmente em Mato Grosso, Bahia e Goiás. Isso, no fim das contas, vai aumentar a sofisticação e a busca por maior produtividade.
Como os grupos estrangeiros se posicionam nas operações de M&A no agro brasileiro?
Os estrangeiros continuam na mesa, mas os grupos brasileiros têm muito potencial para consolidar o mercado e ampliar as verticais. Se um player atua em armazenagem e indústria, pode expandir também para distribuição, por exemplo. É aí que o M&A entra para destravar gargalos e fortalecer relações.
Como os players do setor absorveram o impacto das tarifas de 50% impostas pelos EUA ao Brasil
Esse impacto não foi tão relevante, principalmente quando falamos de grãos, já que é possível direcioná-los para a China e outros mercados consumidores, considerando que alimentos são demandados em qualquer lugar do mundo.