Com a proximidade da COP30, que será realizada em novembro no Pará, o Governo Federal vem intensificando sua atuação com o objetivo de atrair capitais para fundos sustentáveis. Desta vez a ação foi feita pelo BNDES: o banco de fomento lançou na última semana um edital público disponibilizando até R$ 5 bilhões de recursos da instituição, com potencial de atrair outros R$ 13 bilhões de capital privado, chegando a um total de R$ 18 bilhões em investimentos. Esta é a maior chamada pública para fundos na história do banco.
O BRAZIL ECONOMY conversou com profissionais que atuam diretamente no mercado de transição energética e que avaliaram o grande potencial que o país tem para geração de renda e emprego por meio dessa agenda. Para eles, a iniciativa do BNDES ajuda a construir teses de desenvolvimento e reduz riscos de projetos e investimentos em estágio inicial de maturidade. Na visão de Thomas Trebat, diretor do Centro Global da Universidade Columbia no Rio de Janeiro, a iniciativa é um passo importante para posicionar o Brasil nos principais fóruns da área:
“O edital do BNDES representa um passo importante e inovador para impulsionar o mercado de capitais doméstico em prol dos investimentos climáticos. Ao atuar como investidor-âncora em fundos de equity e crédito voltados à economia verde o banco aporta recursos próprios em fundos de equity e consegue alavancar investimentos ainda mais expressivos do capital privado nacional e estrangeiro. Oferecendo maior segurança e previsibilidade aos investidores, iniciativas como essa fortalecem a inovação em setores críticos no combate ao aquecimento global, como a agricultura regenerativa e o reflorestamento”.
Thomas é membro do board executivo do Brazil Climate Summit que realizará um evento em Nova York no próximo dia 19 de setembro com o objetivo de ligar o potencial econômico do Brasil a alguns dos principais investidores globais na área sustentável. Ele acredita que, se bem-sucedida, a iniciativa do BNDES demonstrará que é possível aliar desenvolvimento econômico e sustentabilidade.
“A ação dialoga diretamente com a proposta do evento do Brazil Climate Summit ao colocar os holofotes no Brasil como um país dedicado a estruturar soluções financeiras para impulsionar as metas globais de redução das emissões de gases de efeito estufa. Ela também promete acelerar a transição energética do país ao mobilizar recursos privados que contribuam de forma consistente para as metas climáticas e o crescimento sustentável. Novamente, o Brasil, em termos de protagonismo climático, se posiciona do lado correto da história”, afirmou.
Para o mercado interessa ainda que o risco de investir nesses fundos sustentáveis passe a ser percebido como menor, uma vez que ele é compartilhado com o Governo Federal, como explica Daniel Martins, sócio e líder da indústria de Energia e Serviços de Utilidade Pública da PwC Brasil. “Parece que o mercado recebeu bem a oferta. Em princípio achei o desenho do edital muito bom já que a ideia é atuar justamente como âncora, o que faz muito sentido. Espera-se que o banco atraia mais do que o dobro do que está aportando.
A mesma percepção de que o mercado deve contribuir com este tipo de iniciativa é compartilhada por Mathieu Piccin, diretor para a América Latina do Sustainability Business da Schneider Electric, líder global em tecnologia industrial, com foco em eletrificação, automação e digitalização para indústrias e edifícios inteligentes: “Em um momento em que o setor privado é chamado a ser coautor da transição climática, o banco assume um papel catalisador, estruturando mecanismos que tornam projetos sustentáveis mais investíveis e escaláveis, sinalizando confiança institucional e acelerando a mobilização do capital privado”.
Ele enfatiza que o fato de esta ser a maior chamada pública voltada a fundos da história do BNDES, e seu primeiro investimento em renda variável em uma década, sinaliza uma inflexão institucional: o desenvolvimento econômico passa, agora, pela mitigação e adaptação à mudança do clima:
“Para empresas que operam na vanguarda da jornada rumo à uma economia de baixo carbono, essa iniciativa representa uma plataforma concreta para acelerar soluções sistêmicas alinhadas à ciência e às metas climáticas do país. O Brasil tem vocação natural para liderar a agenda de soluções climáticas e baseadas na natureza e essa liderança começa com decisões como a do BNDES”.
Fabricio Soler é uma das principais referências do Brasil quando se fala em Direito Ambiental. Advogado, especialista em Meio Ambiente e ESG, é professor do IBMEC e Diretor da Divisão de Saneamento Básico da FIESP, além de consultor da ONU e da Confederação Nacional da Indústria para assuntos da área. Ele acredita que o lançamento do edital faz parte de um projeto maior capitaneado pelo Ministério da Fazenda para alcançar um plano de transformação ecológica.
“Esse plano da Fazenda tem como diretrizes as finanças sustentáveis, adensamento tecnológico, transição energética, economia circular, nova infraestrutura e adaptação à mudança do clima, bioeconomia e sistemas agroalimentares. Isso está relacionado ao esforço que o governo vem fazendo para definir atividades econômicas sustentáveis com base científica que contribuam para criar projetos ambientais, econômicos e sociais”, disse Soler.
A iniciativa traz ainda a discussão de como o BNDES, principal banco de fomento brasileiro, pode atuar para atrair capital aos fundos que aplicam o dinheiro em projetos ligados à proteção do meio ambiente, como descarbonização de indústrias, transição para energia limpa, tecnologia para agricultura verde e conservação de florestas. A atuação do banco é importante para ajudar a criar financiamento para projetos em segmentos ainda em estágio inicial (como SAF, hidrogênio verde, economia circular e projetos de restauração florestal) que ainda precisam de teste e validação de seus modelos em escala.