A FCamara surgiu há cerca de 15 anos quando o mercado assistia atônito aos efeitos da crise econômica do subprime, originada nos EUA. O objetivo de seu fundador e CEO, Fabio Camara, sempre foi ajudar os clientes a entender como a jornada digital pode se tornar um ativo valioso para o desenvolvimento dos negócios. E isso pode acontecer em períodos de crises, seja em 2009 ou agora.
Em entrevista exclusiva ao BRAZIL ECONOMY, o CEO da companhia que faturou a meio bilhão de reais em 2024 e já atua em países como Portugal, Holanda e Emirados Árabes afirma que apesar da crise fiscal e da imprevisibilidade que o país atravessa, é um momento especial para que o setor de tecnologia local una esforços para oferecer soluções mais amplas aos clientes.
Entre outros pontos, ele também deu conselhos sobre como se aproximar de fundos soberanos árabes, que considera um dos melhores caminhos para que empresas do setor trilhem caminhos prósperos. Confira a entrevista completa:
Você já demonstrou publicamente o interesse em fazer IPO da sua empresa. É a hora de companhias da área apostarem neste tipo de prática?
Não só IPO ou M&A. É a melhor hora para empresas da área juntarem forças. Temos um momento ímpar de crise econômica e fiscal no Brasil, mas instituições sérias que analisam o setor de informática no país vem mostrando alguns dados interessantes. Recentemente estive em um evento privado de uma grande instituição que faz pesquisas e revelaram um número que ainda será apresentado ao mercado: 70% dos CIOs brasileiros preferem, hoje, contratar uma empresa que traga uma globalidade de especializações, segurança e robustez do que uma fornecedora extremamente nichada ou menor que trate de um assunto específico e obrigue o contratante a procurar por outras empresas para complementar a solução que precisa ser desenhada.
No caso do Brasil, a taxa de juros no patamar que está é um dos fatores que levam a esse cenário?
Sim, já que empresas maiores têm mais capacidade de criar elementos robustos de alavancagem como, debêntures, ações em bolsas etc. Isso faz com que fique mais fácil acompanhar a oscilação de baixa ou alta de juros. Temos que lembrar ainda que a moeda brasileira está mais desvalorizada que outras moedas latino-americanas. Isso faz com que nosso poder de negociação tenha ali uma fragilidade momentânea. Então, não é momento de fazer uma simples conversa com os bancos e sim de apostar em uma estrutura rebuscada para captação de recursos em fundos estrangeiros, por exemplo. É o caminho para você flutuar melhor nesse cenário de juros que o Brasil enfrenta. Isso vale também para a América Latina.
Você fala de se aproximar de fundos de outros países. Quais as empresas de tecnologia devem olhar com mais atenção?
Me agrada demais os fundos soberanos árabes. Eles estão baseados em economia real, são lastreados em petróleo e buscam com bastante apetite e curiosidade a diversificação de serviços.
A FCamara tem uma operação em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. É por causa disso?
Sim, também. Mas, esses fundos nós acessamos por intermediários, como bancos e especialistas que estão na Europa, principalmente Reino Unido, e EUA. Não é fácil acessá-los indo diretamente aos seus respectivos países.
Por quê?
Porque para chegar nesses fundos existem estruturas que constroem a tese de qual deles está interessado em determinado assunto. Não é um caminho de movimento simples e sim praticamente uma partida de xadrez. São movimentos pensados, calculados, que vão exigir respostas que determinem a sequência. Então, minha dica para quem quer se aproximar de fundos soberanos árabes é: não tentem fazer direto. Não vai funcionar.
E como a Europa e EUA se posicionam neste cenário de negócios?
Os mercados europeus estão enfrentando os próprios desafios econômicos e questões de migrações e leis trabalhistas. EUA enfrentam dificuldades políticas. Já os mercados asiáticos têm receio de sanções. Então, por incrível que pareça, estamos partindo para uma separação de Ocidente e Oriente. Uma coisa que remete às Cruzadas. É algo antigo e arcaico.
Mas, isso deve impactar o setor de tecnologia de que maneira?
Empresas dos EUA e Europa vão perceber que eles erraram em contratar tanta mão de obra da Ásia. Primeiro porque já não está mais tão barata e segundo porque isso fez com que os europeus e norte-americanos desaprendessem a trabalhar nesta área. Então, eles têm pouquíssimas indústrias de serviços de informática. Por outro lado, isso vai trazer uma série de oportunidades para quem é fornecedor de serviços, principalmente de tecnologia. A questão é que você não tem estrutura de capitais que possam permear o centro desta grande confusão, por isso me agrada particularmente os árabes. Eles vão fazer negócios tanto com os asiáticos, quanto com os ocidentais. É geográfico.