Como o Mercado Eletrônico, a startup adulta B2B, alcançou a marca de R$ 180 bilhões

Sob comando do fundador e CEO Eduardo Nader, a empresa alcança seu melhor resultado da história e acelera crescimento com negócios no exterior

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Imagens: Claudio Gatti/Brazil Economy

Eduardo Nader, fundador e CEO, diz que a base do Mercado Eletrônico soma 15 mil empresas ativas e pagantes

Eduardo Nader, fundador e CEO, diz que a base do Mercado Eletrônico soma 15 mil empresas ativas e pagantes

Em 1994, quando a internet comercial ainda não existia no Brasil e conexões discadas eram o recurso mais avançado, um grupo de empreendedores decidiu ousar. A proposta era criar um ambiente eletrônico para digitalizar compras corporativas, conceito que antecipava em anos a transformação digital que só chegaria com força no País na virada do milênio. Nascia o Mercado Eletrônico.

Sem web como infraestrutura, a solução foi desenvolver um software próprio, instalado nos dois lados da negociação e conectado por linha telefônica. A ideia era permitir que empresas consultassem preços, comparassem fornecedores e colocassem pedidos em um “carrinho” digital, muito antes do e-commerce chegar aos consumidores. A limitação tecnológica acabou moldando o DNA da companhia: navegar ondas de transformação sem perder o foco essencial.

Trinta e um anos depois, o Mercado Eletrônico se define como uma “startup adulta”. O termo resume o equilíbrio entre a agilidade típica de startups e a solidez de uma empresa madura, estruturada em processos, governança e métricas. O fundador e CEO, Eduardo Nader, ressalta que a trajetória foi construída sem atalhos, em modelo bootstrap financiado com recursos próprios por mais de 25 anos. “O resultado é uma organização que preserva o espírito da juventude, mas com a disciplina de quem aprendeu a atravessar ciclos econômicos e sobreviver a diferentes contextos de mercado”, afirmou em entrevista ao BRAZIL ECONOMY.

A cultura corporativa foi lapidada ao longo dos anos, rendendo reconhecimento em rankings do Great Place to Work, inclusive em diversidade e inclusão. Hoje são cerca de 400 funcionários contratados em regime CLT, uma opção rara no setor de tecnologia, onde a pejotização ainda é comum. Para Nader, a decisão traduz ambição de crescimento com estabilidade nas relações de trabalho.

A plataforma evoluiu para uma solução completa de source-to-pay, cobrindo da requisição ao pagamento. Circulam por ela cerca de R$ 180 bilhões em GMV por ano, crescendo em torno de 20% ao ano. O modelo não depende apenas de venda de licenças, mas de monetizar o tráfego transacionado. “Quanto mais transações, maior o interesse dos fornecedores em participar, menor o custo para compradores e mais oportunidades de monetização surgem”, disse Nader.

Hoje, a base soma 15 mil empresas ativas e pagantes, com 300 a 400 grandes clientes corporativos. Há grupos que conectam até 800 CNPJs ao ecossistema. O reconhecimento internacional veio do Gartner, que incluiu o Mercado Eletrônico no Quadrante Mágico em source-to-pay, ranking dominado por companhias dos EUA e Europa. O mantra interno é direto: “receita é vaidade, lucro é sanidade e caixa é rei”. Após passagens de fundos, a estrutura atual tem apenas um investidor especializado em SaaS. O crescimento continua sendo financiado pela própria operação.

O plano de expansão se apoia em três frentes. A primeira foi a produtização, transformando soluções customizadas em produto flexível e competitivo. A segunda é a ofensiva comercial: reforço em vendas e abertura de novos canais, que duplicaram a base de clientes em um ano, com entrada em segmentos fora do radar tradicional, como frigoríficos, construtoras e redes varejistas regionais. A terceira frente é a aposta em serviços financeiros, aproveitando o fato de ser “a primeira a ver o pedido” para oferecer crédito, pagamentos e antecipação de recebíveis no momento da negociação. Essa vertical deve ganhar corpo em 2026, podendo até virar unidade independente.

A internacionalização ocorreu organicamente, acompanhando clientes no exterior. A companhia tem escritórios no México, Estados Unidos e Portugal, além de projetos em países vizinhos. Em alguns mercados busca parceiros locais, como na Colômbia. Nos EUA, evoluiu de atender multinacionais brasileiras para disputar contratos locais. Hoje, a receita internacional já representa fatia relevante, chegando a 40% em alguns recortes.

Outro pilar estratégico é a Inteligência Artificial. A visão é pragmática: não competir com gigantes que desenvolvem grandes modelos, mas aplicar IA sobre a base exclusiva de dados transacionais construída em três décadas. O resultado é o ME Genius, módulo que já permite que metade dos processos de compra de alguns clientes ocorra sem intervenção humana. O objetivo agora é ampliar a automação, incluir análises prescritivas de saving, gestão de risco e compliance, além de interfaces de voz e jornadas mais fluidas.

O cenário de mercado exige cautela, segundo Nader. Isso porque a janela para IPOs segue fechada e a atividade de M&A contida pelos juros elevados. A empresa não tem urgência em abrir capital, mas avalia aquisições cirúrgicas em nichos complementares. Enquanto isso, investe mais de 20% do orçamento em tecnologia, índice acima da média do setor.

Na avaliação de Nader, a história do Mercado Eletrônico é, em última instância, um exemplo de paciência estratégica. Sobreviveu a bolhas da internet, crises econômicas e mudanças tecnológicas, chegando aos 31 anos com governança, caixa e ambição para crescer. A aposta agora é integrar pedido, crédito e pagamento, criando uma nova avenida de receitas que pode dobrar o tamanho do negócio nos próximos anos. “Quem vê o pedido primeiro pode ofertar melhor”, acrescentou Nader.

O equilíbrio entre ser “startup” para experimentar e “adulta” para entregar explica a resiliência da companhia e sustenta a confiança em planos ousados para 2026 e além.

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