Os Emirados Árabes Unidos (EAU) devem receber, neste ano, o maior montante de entradas de milionários do mundo, segundo dados da consultoria Henley & Partners. O país do Oriente Médio deve atrair 9.800 milionários, com riqueza estimada em US$ 63 bilhões. Na segunda posição em atração de fortunas estão os Estados Unidos, com 7.500 milionários e um montante de US$ 43,7 bilhões. Em terceiro lugar aparece a Itália, com 3.600 milionários interessados em desembarcar por lá, levando bilhões de dólares. O Brasil… bem, o Brasil não vai atrair milionários. O saldo verde-amarelo é negativo: 1.200 brasileiros com patrimônio acima de US$ 1 milhão pretendem investir fora do país — 50% a mais do que no ano passado.
Quem acompanha de perto essa equação — de Emirados Árabes atrativos e brasileiros enviando dinheiro ao exterior — é Kath Zagatti, advogada e head de private wealth da MH/Q, empresa de Dubai especializada em estruturação e transferência de riqueza para os EAU.
“Os Emirados têm sido uma opção muito mais sofisticada, segura e com credibilidade para empresas e pessoas protegerem seu patrimônio”, disse Kath, que atua nos EAU há 13 anos e foi uma das primeiras mulheres não-emiratis a operar em um país com desafios culturais para elas e em um setor dominado por homens.
Sob sua gestão estão cerca de 500 sul-americanos — principalmente brasileiros — que possuem juntos US$ 2 bilhões investidos nos Emirados. Contabilizando clientes de outras nacionalidades, o total administrado alcança R$ 50 bilhões.

A advogada, que se mudou para Dubai há 14 anos acompanhando o marido em uma oportunidade profissional, aponta os Emirados Árabes como “um país aberto, que quer receber turistas e investidores”.
Uma das iniciativas mais relevantes foi o estabelecimento do Golden Visa, em 2019, que oferece residência de longo prazo (de 5 a 10 anos, renováveis, dependendo da situação). Mas não apenas isso. Segundo Kath, o país se preparou para “abrir as portas” aos investimentos.
O regime tributário favorável, com isenção em algumas estruturas de aportes, é um dos atrativos. Não se trata, porém, de um paraíso fiscal, ressalta a executiva. “É interessante para pessoas que procuram essa jurisdição para planejamento sucessório.”
Kath também destaca a segurança, tanto para quem vai morar quanto para quem deseja proteger seu patrimônio. De acordo com a plataforma colaborativa Numbeo, os EAU são considerados o país mais seguro do mundo em relação à violência. A segurança jurídica também é um diferencial, lembra a advogada da MH/Q. “Todos os bancos internacionais estão aqui. Private banks americanos, suíços… É o hub econômico e financeiro mais novo do mundo”, afirmou, acrescentando que Dubai é “um governo que pensa 10 anos à frente, com projetos que realmente saem do papel”, destacando ainda o crescimento meteórico do setor imobiliário da cidade.
Margens mais flexíveis
Na avaliação de Daniel Teles Barbosa, sócio da Valor Investimentos, o fluxo crescente de capital em direção aos Emirados Árabes reflete um ambiente “extremamente atrativo”, em especial pelas mais de 30 zonas livres disponíveis. “Assim, 100% desse capital pode ser usado para empresas não só capitalizarem recursos locais, mas também operarem com margens mais flexíveis.”
Outro ponto ressaltado pelo especialista é o movimento de pessoas físicas direcionando aportes para fundos públicos isentos de impostos, enquanto a taxa básica de juros está na casa de 4,4% ao ano. “Isso facilita para quem comprova rendimentos e consegue levar investimentos para adquirir bens. O crédito é barato e pode-se investir de forma isenta, ainda com fundos entregando marginalmente acima da taxa básica”, explicou Barbosa. Para ele, o país é uma opção sólida para quem quer diversificar a carteira de investimentos para além de Europa e Estados Unidos.
Há ainda, segundo Barbosa, a possibilidade de carry trade — tomar dinheiro emprestado em países com juros mais baixos e aplicar em mercados com taxas mais altas. “Com essa flexibilização no acesso ao mercado, o investidor pode até pensar em aportar novamente no próprio Brasil”, disse.
Para o especialista, os EAU possuem um mercado seguro e consolidado, com destaque para a solidez da ADX (Bolsa de Valores de Abu Dhabi) e para o Mubadala, fundo soberano do país.
Investimento imobiliário
“Os investimentos imobiliários estão entre os mais procurados. Tenho clientes que, nos últimos cinco anos, quadruplicaram seus aportes nesse segmento”, disse Kath, citando também setores como real estate e trading, favorecidos pelos portos que funcionam como free zones, facilitando importações e exportações.
A executiva pretende intensificar a atuação do escritório no Brasil para ampliar a base de clientes locais. Para isso, tem alinhado parcerias com instituições financeiras nacionais, de forma a posicionar a MH/Q como referência no país. Afinal, os milionários brasileiros estão, cada vez mais, em busca de oportunidades fora do território nacional.