Chamada de “geração nem-nem”, os jovens de 18 a 24 anos que nem estudam e nem trabalham somam 24% no Brasil, o que coloca o País na quarta posição entre as nações em que pessoas dessa faixa etária estão fora do sistema educacional e do mercado de trabalho. Os dados são do relatório Education at a Glance 2025, divulgado na semana passada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que analisou 29 países.
Porém, há um bloco de jovens com o qual o Brasil também precisa se preocupar, segundo Humberto Casagrande, CEO do CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola): os “sem-sem”, sem formação e sem oportunidade.
“No CIEE, temos 3 milhões de jovens na fila esperando uma oportunidade. Conseguimos atender 300 mil deles por ano, apenas 10% dessa demanda”, disse Casagrande ao BRAZIL ECONOMY.
De acordo com o executivo, as empresas têm resistência em contratar jovens, pois colocam sobre eles uma expectativa que não é possível ser atendida. “Estamos em um país em que o jovem tem muito déficit de formação familiar e escolar. Ao admitir esse jovem, ele deve passar por uma fase de ajuda, de correção desses problemas. É um grande desafio para a gente”, afirmou o CEO.
Estatuto do Aprendiz
Tramita no Congresso Nacional, há sete anos, um projeto que cria o Estatuto do Aprendiz, um novo marco legal para o trabalho de jovens entre 14 e 24 anos. A proposta reúne todas as legislações que tratam do assunto e as organiza em um único documento.
O problema é que o texto tem sido usado por alguns setores para alterar a legislação que obriga a contratação desses jovens por empresas de médio e grande porte, em um percentual de 5% a 15% do seu quadro de funcionários. Uma emenda foi inserida no projeto para retirar essa obrigatoriedade de 40 segmentos produtivos.
Na avaliação de Casagrande, essa mudança seria um retrocesso. Para ele, o aumento do valor da multa para quem deixar de cumprir as contratações e a intensificação da fiscalização poderiam dobrar o número de jovens aprendizes para 1,2 milhão por ano – hoje são 600 mil.
“A multa hoje para as empresas que não contratam é muito baixa. É melhor pagar a multa do que cumprir a lei”, disse o CEO do CIEE. “Todo mundo é a favor do jovem no discurso. Na prática, é muito difícil.”
Apagão de mão de obra
Casagrande apontou que, por outro lado, existe “um grande apagão de mão de obra”, principalmente qualificada. Pesquisa do CIEE em parceria com o Instituto Locomotiva mostra que apenas 12% dos jovens querem seguir carreira na área de engenharia, por exemplo. Segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), há um déficit estimado em 75 mil engenheiros no Brasil.
O levantamento do CIEE, realizado com 1.150 estudantes do Ensino Médio, aponta que dificuldades financeiras, preços elevados dos cursos e o interesse por outras áreas são os principais motivos para o desinteresse.
Para tentar reverter esse quadro, o CIEE firmou parceria com as quatro maiores universidades de engenharia de São Paulo – USP, Instituto Mauá, FEI e Mackenzie – e vai lançar uma campanha publicitária para atrair mais jovens para essa disciplina.
“Temos de mostrar ao jovem que engenharia não é um bicho de sete cabeças. O engenheiro pode estar onde ele quiser, tem várias oportunidades em diversos ramos, seja meio ambiente, construção civil, logística e muitos outros”, afirmou Casagrande, ao ressaltar que outros setores, como contabilidade, também possuem oportunidades que não são aproveitadas adequadamente.