“Canais digitais dos bancos para PJ estão abandonados”, diz VP da Veritran, Wagner Martin

Executivo da multinacional argentina de soluções bancárias low code avalia que os próximos avanços do setor financeiro brasileiro serão voltados às empresas

Compartilhe:

Imagens: Divulgação / Manchester City

Wagner Martin, vice-presidente de Relações Institucionais da Veritran

Wagner Martin, vice-presidente de Relações Institucionais da Veritran

Multinacional argentina especializada em soluções bancárias low code, a Veritran foi criada em 2005 e se expandiu rapidamente para a América Latina. Alcançou mercados da Europa e Estados Unidos e, em 2020, desembarcou no Brasil para implementar suas ferramentas que já estavam estabelecidas nesses outros mercados. Não deu certo. Calma. A gente explica. Deu certo, mas não da forma que a Veritran imaginava. A companhia, em vez de ensinar, aprendeu com o mercado brasileiro e desenvolveu soluções aqui que hoje são exportadas para fora. Isso ocorreu porque o setor financeiro brasileiro é um dos mais desenvolvidos do mundo. Nesse segmento, o Brasil dá aula. Porém, ainda há estradas a serem asfaltadas, na avaliação de Wagner Martin, vice-presidente de Relações Institucionais da Veritran.

Segundo o executivo, o País tem produtos UX (User Experience ou Experiência do Usuário) de “altíssimo nível”, um bom nível de segurança e um arcabouço regulatório bem estruturado. Tudo isso voltado à pessoa física.

“Agora os canais digitais vão começar a saltar na pessoa jurídica, porque ela está abandonada. Tanto os grandes bancos quanto as fintechs estão deixando a pessoa jurídica largada”, disse Martin, graduado em contabilidade pela Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado) e MBA pelo IE Business School, de Madrid.

O VP da Veritran também traz em sua bagagem profissional atuação como mentor do Laboratório de Inovações Financeiras Tecnológicas (Lift Lab) do Banco Central e em projetos como o TAG (Token do Agronegócio Garantido).

Com propriedade, afirmou ao BRAZIL ECONOMY que as soluções para o segmento PJ nos bancos estão atrasadas em 15 anos. “Chega a ter token de números ainda. Na conta PJ é a pessoa física que opera. É o gerente, o funcionário do financeiro, da tesouraria… E, às vezes, ele tem cinco, seis bancos para trabalhar simultaneamente e vai ter cinco, seis tokens para gerir”, explicou o executivo.

Martin apontou que muitas instituições financeiras ainda usam soluções de EDI (Intercâmbio Eletrônico de Dados) bancário desde os anos 1980 e deixam de lado as atuais APIs (Application Programming Interface), tecnologia que permite a conexão e troca de informações e funcionalidades entre diferentes sistemas de forma segura e padronizada.

“A tendência é cada vez mais os bancos liberarem os gateways de API e os ERPs (softwares de gestão e automatização de processos) vão se conectar com isso. Essas conexões são a próxima grande inovação em PJ”, analisou Martin.

Veritran possui parceria com o Manchester City, clube da Inglaterra, para soluções de biometria facial
Veritran possui parceria com o Manchester City, clube da Inglaterra, para soluções de biometria facial

Para o vice-presidente da Veritran, os avanços proporcionados pelo Open Finance no Brasil, como o Pix, foram mais ligados à pessoa física. Com esse direcionamento, não à toa surgiram no mercado instituições como o Nubank, fundado em 2013 e que hoje tem pouco mais de 100 milhões de clientes no Brasil.

Para ganhar escala em soluções e serviços, o caminho usado foi o cliente pessoa física. Isso já está estabelecido. “Agora vai chegar a vez da pessoa jurídica”, vislumbrou Martin, ao ressaltar que o Drex, a moeda digital brasileira, pode acelerar esse processo.

“Tira a tokenização e desvincula dela a garantia de um bem que está emprestado depois de quitado. As transações vão ser mais automáticas”, salientou o executivo, ao citar a comercialização de um carro como exemplo, grosso modo.

“Ao comprar um carro, a pessoa transfere o dinheiro que entra numa conta temporária. Depois dos trâmites do cartório para passar o automóvel para outro nome, o cartório dá baixa, o dinheiro vai para o vendedor automaticamente. O processo é simplificado”, disse.

Interação com os clientes

Com o Brasil sendo o celeiro de criação de novas soluções para a Veritran, a companhia “está animada” com o mercado nacional, segundo Wagner Martin.
“Geralmente entramos nos nossos clientes mais robustos por aqui. Eles já têm core bancário, já têm API e precisam de um canal digital eficiente com o cliente. Precisam disso rápido e bem-feito”, afirmou o vice-presidente.

Retail Banking, Business Banking, Payments Ecosystem, Onboarding & Digital Identity e Security Suite são algumas das soluções disponibilizadas pela Veritran. Não é exatamente um Bank as a Service (BaaS), mas soluções mais voltadas a canais digitais para interação com os clientes.

A Veritran está presente em 14 mercados, com 500 colaboradores e mais de 50 clientes em nível global. Passam pela empresa argentina cerca de 50 bilhões de transações seguras por ano, com 50 milhões de usuários ativos. Efetuou mais de 20 milhões de onboardings remotos e 100% digitais sem nenhum falso positivo, segundo a empresa.

Biometria facial

Para Wagner Martin, a biometria facial é uma tendência de pagamento que deve se disseminar no Brasil nos próximos anos – mas sem prazo definido para isso ocorrer. “Um vendedor com o celular na mão poderá simplesmente pegar sua biometria e processar seu pagamento. É nisso que o Brasil precisa chegar. A pessoa vender um coco na praia dessa forma”, salientou. “Acho super viável”, frisou, ao ponderar que o Banco Central ainda não tem certeza sobre a garantia da segurança aplicada nessa solução.

A China e alguns outros poucos mercados já estão avançados nessa tecnologia. Na Veritran, isso já ocorre por meio de uma parceria com o Manchester City, clube da Inglaterra multicampeão nos últimos anos.

Por lá, a companhia atua na identidade de torcedores, ao aprimorar processos e transações financeiras em áreas importantes como registro, associação e emissão de ingressos.

“Desde a entrada no estádio até os meios de pagamento, estamos na jornada do torcedor”, disse Martin. As compras de produtos dentro do estádio podem ser feitas por biometria facial. Evoluir para uma carteira digital do torcedor, para oferta de mais serviços financeiros, é um caminho. Nesse ponto, o know-how da Veritran vai vir, de fato, de fora do Brasil para dentro.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

ASSINE NOSSA NEWSLETTER E
FIQUE POR DENTRO DAS PRINCIPAIS NOTÍCIAS DO MERCADO

    Quer receber notícias pelo Whatsapp ou Telegram? Clique nos ícones e participe de nossas comunidades.