Lava Jato que deu certo: a história do gaúcho que inventou fintech de R$ 1,5 bilhão

Empréstimos de R$ 30, juros baixos e atendimento humanizado definem a ConCrédito, fundada por Willian Conzatti, que diz querer popularizar o crédito

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Imagens: Divulgação

Willian Conzatti diz que encontrou no empreendedorismo uma forma de reverter as próprias dificuldades financeiras

Willian Conzatti diz que encontrou no empreendedorismo uma forma de reverter as próprias dificuldades financeiras

Em um quarto improvisado, com mesas montadas a partir de um roupeiro velho, nasceu uma das fintechs mais promissoras do Brasil. Em 2024, menos de uma década depois de sua criação, a ConCrédito movimentou R$ 250 milhões em empréstimos e captou R$ 225 milhões em duas rodadas via FIDC (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios). No total, já foram R$ 1,5 bilhão emprestados a brasileiros que, muitas vezes, precisavam apenas de um pequeno empurrão para pagar uma conta de luz ou complementar o orçamento mensal.

À frente dessa trajetória está Willian Conzatti, um gaúcho de Osório que encontrou no empreendedorismo uma forma de reverter as próprias dificuldades financeiras em oportunidades para milhares de pessoas. A história de Conzatti é marcada por resiliência e ousadia: teve uma Lava Jato, entregou jornais, montou móveis e trabalhou em call center. Em todas essas funções, percebeu algo em comum, a dura realidade de quem precisa de crédito, mas não encontra portas abertas nos bancos tradicionais.

“Eu via gente pedindo um valor pequeno, para pagar a conta de energia ou comprar comida, mas que não conseguia aprovação. Foi aí que pensei: se eu conseguisse oferecer um crédito acessível e justo, poderia mudar a vida dessas pessoas”, lembrou o fundador.

A ConCrédito nasceu em 2016 com uma proposta simples: oferecer microempréstimos de R$ 30 ou R$ 50. Valores baixos, mas que faziam diferença no dia a dia. Aos poucos, a demanda cresceu e exigiu estrutura. Foi nesse momento que Conzatti convidou amigos sem experiência no setor para aprender do zero e, junto de Gustavo Bobsin Borba, transformou a ideia em um negócio formal.

A evolução foi rápida. O que começou como uma operação caseira se profissionalizou e ganhou escala nacional. Hoje, a fintech conta com mais de 300 colaboradores, um portfólio que vai de empréstimos consignados a antecipação do FGTS, financiamento e consórcio, e uma base de cerca de 100 mil clientes ativos por mês.

Entre 2023 e 2024, a ConCrédito registrou um salto de 109% em sua receita, conquistando espaço no ranking Negócios em Expansão, da Exame. Na categoria de empresas com faturamento entre R$ 5 milhões e R$ 30 milhões, ocupou a 32ª posição, ao lado de apenas 18 outras companhias gaúchas.

“Esses números reforçam o trabalho da nossa equipe em entregar crédito acessível e atendimento humanizado. Já conseguimos fazer a diferença na vida de meio milhão de pessoas, e seguimos crescendo”, comenta Conzatti.

O destaque é ainda maior se considerado o cenário macroeconômico. Em um país onde o endividamento das famílias atinge patamares elevados – cerca de 77% das famílias estavam endividadas em 2024, segundo a CNC (Confederação Nacional do Comércio) -, a busca por alternativas de crédito sustentáveis se torna fundamental. Nesse contexto, fintechs como a ConCrédito ganham espaço frente às instituições financeiras tradicionais, muitas vezes vistas como burocráticas ou inacessíveis.

Mais do que resultados financeiros, a ConCrédito se consolidou como uma plataforma de oportunidades. A fintech investe em programas de Trainee e Jovem Aprendiz, além de abrir vagas frequentes na área comercial. Criou ainda o Renda Extra, que permite a qualquer pessoa se tornar consultor dos produtos da empresa, ampliando a rede de atendimento e oferecendo novas formas de gerar renda.

Em Osório, cidade natal de Conzatti, a empresa já se tornou referência como o primeiro emprego de muitos jovens. “Sempre incentivamos nossos colaboradores a estudarem e prosperarem. Investimos em treinamentos porque acreditamos que, se todos estiverem bem, cresceremos juntos, mais rápido e melhor”, afirmou o empreendedor.

Essa visão se reflete também na reputação digital da marca: a ConCrédito acumula mais de 20 mil comentários positivos na internet, algo raro em um setor onde críticas costumam ser predominantes.

 Outro pilar do crescimento da ConCrédito é a aposta em tecnologia. A fintech desenvolveu uma infraestrutura digital que permite processar milhares de operações por mês de forma ágil e segura, com taxas de juros competitivas. A meta, segundo Conzatti, não é apenas conceder crédito, mas oferecer uma experiência simplificada, sem a burocracia que afasta muitos brasileiros dos bancos tradicionais.

Nesse ponto, a ConCrédito surfa em uma tendência mais ampla: o avanço das fintechs no Brasil. De acordo com a Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), o país já concentra mais de 1.500 startups financeiras, muitas delas voltadas para nichos desatendidos pelo sistema bancário tradicional.

Desafios e próximos passos

O setor de crédito consignado, principal aposta da ConCrédito, é também um dos mais competitivos do mercado. Segundo dados da Febraban, o crédito consignado responde por quase 30% das operações de empréstimo no país. A diferenciação, portanto, exige inovação constante e relacionamento próximo com os clientes.

Para os próximos anos, Conzatti planeja ampliar a base de clientes e fortalecer a presença em novos produtos financeiros, sem abrir mão do propósito inicial. “Nosso compromisso é oferecer soluções que façam diferença real na vida das pessoas. Acreditamos que o crédito deve ser uma ferramenta de transformação, não de aprisionamento em dívidas impagáveis”, garantiu.

 A trajetória de Willian Conzatti também se tornou um símbolo de mobilidade social. De lavador de carros a fundador de uma fintech bilionária, sua história reflete a possibilidade de criar impacto mesmo a partir de condições adversas. Hoje, a ConCrédito não apenas movimenta cifras expressivas, mas também oferece caminhos para que milhares de brasileiros sonhem mais alto.

“Quando vejo onde chegamos, lembro do começo: de mesas improvisadas e dos primeiros clientes que confiavam em nós para resolver questões urgentes. Isso nos dá ainda mais responsabilidade para seguir em frente, sempre com propósito”, destacou Conzatti.

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