Integração que abre caminho para clareza no mercado brasileiro de investimentos

O número de pessoas físicas que investem saltou de 560 mil em 2016 para quase 10 milhões em 2025, crescimento que exige tecnologia e governança

Eduardo Akira*
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Imagens: Divulgação

Eduardo Akira: "O mercado brasileiro já entendeu: a pulverização cumpriu seu papel histórico"

Eduardo Akira: "O mercado brasileiro já entendeu: a pulverização cumpriu seu papel histórico"

O mercado de capitais brasileiro está passando por uma virada importante. Durante muito tempo, vimos uma pulverização de empresas de assessoria de investimentos espalhadas pelo país, cada uma com seu estilo, sua forma de atendimento e sua cultura. Isso teve seu valor: ampliou a concorrência, trouxe diversidade de produtos e formou um investidor mais exigente.

Mas os tempos mudaram. O número de pessoas físicas que investem saltou de pouco mais de 560 mil em 2016 para quase 10 milhões em 2025. É um crescimento que exige muito mais escala, tecnologia e governança do que um modelo totalmente fragmentado consegue entregar. O que antes era sinônimo de dinamismo hoje revela limitações. Para sustentar esse novo ciclo de expansão, unir forças deixou de ser opção e se tornou necessidade.

Os dados de fusões e aquisições mostram isso com clareza. Só em 2024, foram mais de 1.400 operações no Brasil, quase 180 delas ligadas ao setor financeiro. Empresas de assessoria que competiam isoladamente agora se integram em redes mais estruturadas, com capacidade de dividir custos, diversificar carteiras e oferecer soluções mais completas. É um movimento natural de amadurecimento.

Essa integração não diz respeito apenas ao tamanho. Também passa por um tema central: a forma de remunerar o serviço. O fee-based, em que o cliente paga uma taxa pela assessoria, tem ganhado destaque. Ele traz clareza, ajuda a alinhar expectativas e favorece relações de longo prazo. Mas não deve ser visto como solução única. Assim como em qualquer modelo, podem existir conflitos. Mais importante ainda, ele não se ajusta a todos os perfis de investidores. Há quem prefira o tradicional, há quem escolha o híbrido. O ponto-chave não está no modelo em si, mas na integridade com que ele é praticado.

Na prática, a integração de grupos traz benefícios reais. Para os investidores, abre portas para oportunidades que antes estavam restritas a grandes instituições: investimentos no exterior, produtos exclusivos, crédito estruturado, planejamento patrimonial completo, atendimento para empresas, estruturação de dívidas, fusões e aquisições, ativos alternativos, além do atendimento via multi family office, com carteiras administradas, fundos exclusivos e previdência. Já para as empresas de assessoria, representa tecnologia de ponta, sistemas mais robustos e a chance de competir em outro patamar. Claro, a transição traz desafios, como alinhar culturas e processos ou absorver custos iniciais. Mas são investimentos que pavimentam ganhos futuros.

A experiência internacional mostra que esse caminho não sufoca a inovação; ao contrário, cria terreno firme para que ela floresça. Primeiro vem a pulverização, depois a consolidação e, em seguida, a inovação sustentada. O Brasil está nesse ponto de inflexão. Integrar não significa perder identidade, assim como adotar o fee-based não significa abandonar outros modelos. O desafio é organizar essa pluralidade de forma clara, confiável e sustentável.

O mercado brasileiro já entendeu: a pulverização cumpriu seu papel histórico, mas a nova fase exige escala, estrutura e credibilidade. A integração e a discussão sobre remuneração são parte do mesmo processo de amadurecimento. Quanto mais rápido avançarmos nesse caminho, mais próximos estaremos de entregar o que realmente importa: clareza, segurança e soluções que acompanhem o crescimento e a sofisticação do investidor brasileiro.

*Eduardo Akira é CEO da assessoria de investimentos Avin

 

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