A indústria criativa brasileira como ativo econômico nacional

O que falta, muitas vezes, é estrutura para transformar essa força criativa em produto competitivo, com sustentabilidade financeira e projeção global

Maurício Magalhães*
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Imagens: Divulgação

Maurício Magalhães, sócio e CEO da Giros Filmes

Maurício Magalhães, sócio e CEO da Giros Filmes

A indústria criativa brasileira, especialmente o audiovisual, está em um ponto de virada. Em tempos de disputas comerciais e tarifárias internacionais, onde o que cada nação produz é uma ferramenta relevante para acordos e negociações, nossos ativos culturais vivem uma efervescência única na história recente.

Premiações internacionais como Oscar e Cannes, diversidade de plataformas e demanda aquecida dentro e fora do país por narrativas brasileiras geram o cenário ideal para um ciclo virtuoso de longo prazo.

O audiovisual, impulsionado pelo apetite por boas histórias, nunca teve um terreno tão fértil para crescer. A revolução do streaming abriu janelas antes inimagináveis, conectando produções locais com públicos globais. E os números confirmam: segundo a PwC, o setor de entretenimento e mídia deve alcançar US$ 3,4 trilhões até 2028 em todo o mundo, com uma taxa de crescimento anual de 3,9%.

O Brasil não está de fora dessa tendência. No primeiro semestre de 2025, as produções brasileiras levaram mais de 8,3 milhões de espectadores aos cinemas, gerando uma receita de R$ 155 milhões, conforme levantamento da Abraplex (Associação Brasileira das Empresas Exibidoras Cinematográficas Operadoras de Multiplex).

Esses dados não apenas mostram que existe demanda, mas que existe mercado. E mais: que existe espaço para fazer da cultura uma potência econômica tão estratégica quanto o agronegócio ou a indústria mineral, essenciais na balança comercial.

Porém, há um importante ponto de atenção. A criatividade, nossa matéria-prima mais poderosa, precisa caminhar de mãos dadas com uma gestão cada vez mais estratégica, estruturada e orientada por resultados. Em outras palavras: para continuar relevante, precisamos operar cada vez mais como indústria.

Nosso potencial criativo para contar histórias e emocionar é comparável à excelência brasileira no esporte, na música e na moda. O Brasil é um dos maiores celeiros criativos do planeta. O que falta, muitas vezes, é estrutura para transformar essa força criativa em produto competitivo, com sustentabilidade financeira e projeção global. O caminho possível e necessário é profissionalizar as engrenagens por trás das câmeras.

É hora de virar a chave. Em vez de pensar o audiovisual apenas como expressão artística (o que é e sempre será), devemos tratá-lo também como ferramenta de desenvolvimento econômico, social e simbólico. Hollywood entendeu isso há décadas. A Coreia do Sul, recentemente, fez do entretenimento sua principal vitrine para o mundo. Está na hora de o Brasil ocupar esse lugar com o mesmo protagonismo.

Com a união de incentivos públicos, capital privado, produtores executivos comprometidos e uma gestão eficiente, a indústria criativa brasileira pode ir muito além do prestígio. Pode gerar mais empregos, receita, dividendos e, principalmente, emocionar o mundo com o nosso jeito único de contar histórias.

Nosso sonho é que os filmes, séries, roteiros e ideias dos artistas brasileiros ganhem o mundo, das salas de cinema aos streamings. Que o Brasil seja conhecido não só por sua biodiversidade e commodities, mas também pela sua diversidade criativa. E que, enfim, sejamos reconhecidos como uma potência cultural global.

*Maurício Magalhães é sócio e CEO da Giros Filmes

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