“Até quando o momento está ruim, existem oportunidades.” A frase de Thiago Brehmer, sócio e vice-presidente de Estratégia e Mercados da CLA Brasil, companhia de consultoria e auditoria, resume bem o que o executivo chama de “economia real”. E quando se trata de Brasil, a história mostra que os momentos ruins são muitos – e constantes. Ao passo que as oportunidades também.
Agora, se a situação não é das piores, com o baixo índice de desemprego (5,6%) e previsão de crescimento do PIB (2,3%), também não é das melhores, com a alta taxa básica de juros (15% ao ano) e inflação (5,13% no acumulado dos últimos 12 meses). Nesse cenário, também há caminhos positivos a serem percorridos. Seja para os clientes da CLA ou para a própria empresa, que completou um ano de atuação no País em junho. Desembarcou no Brasil para explorar um mercado novo e ampliar sua receita global, que está na casa dos US$ 4 bilhões.
Em faturamento nominal – sem levar em consideração o câmbio, por exemplo –, a operação da CLA no Brasil estaria entre a quinta e a sexta mais representativa do mundo. “E com potencial enorme de crescimento. O que nós planejamos fazer em 2030, nós devemos alcançar já neste ano”, disse ao BRAZIL ECONOMY Thiago Brehmer, sócio-fundador e vice-presidente de Estratégia e Mercados da CLA Brasil.
A evolução rápida é comprovada por alguns números. No lançamento da companhia no Brasil, em junho de 2024, eram 120 colaboradores. Hoje já são 420. Em pouco mais de um ano, a CLA Brasil firmou contrato com cerca de 1.000 empresas.
“Estamos em processo de expansão. Somos muito fortes em São Paulo e captamos por todo o Brasil, especialmente pelos escritórios regionais em Belo Horizonte, Curitiba e Rio de Janeiro”, afirmou Brehmer.
Para se diferenciar das concorrentes, a CLA Brasil mira empresas do middle market e organizações familiares. Na avaliação do executivo, as companhias do chamado Big Four (Deloitte, EY, KPMG e PwC) focam em grandes clientes, enquanto as médias ficam soltas. Um mercado explorado pela Falconi, maior consultoria de capital 100% brasileiro, que tem uma divisão especializada nesse setor, a Mid.
Caixinhas
Segundo Brehmer, no ramo de auditoria, o holofote está voltado ao atendimento das empresas médias, “que são mal atendidas”. “Em crescimento, em desenvolvimento, que estão buscando governança. Não só aquelas que precisam captar recurso no banco, mas que realmente entendem a importância da gestão de riscos.”
Em consultoria, além das médias, o sarrafo sobe um pouco mais para atender companhias de grande porte, como CCR, Klabin e Latam.
A CLA Brasil possui setores de valuation, M&A, due diligence, modelagem de risco, cibersegurança, investigação, busca e recuperação de ativos, desenvolvimento e implementação de ERP (software de gestão), área de BPO (Business Process Outsourcing ou terceirização de processos de negócios), entre outras.
“Conseguimos montar essas caixinhas e vamos ganhando musculatura e mercado nessa estrutura”, disse o vice-presidente, que já atuou na Holanda por dois anos pela EY e quatro anos nos Estados Unidos pela Deloitte – o executivo também tem passagem pela Grant Thornton e outras corporações durante seus 22 anos de carreira no setor de consultoria e auditoria.
Em sua bagagem, traz experiência de construção de equipes, estruturação de operações e entradas em mercados. Foi assim na Grant Thornton, onde esteve de 2016 a meados de 2024.
Até ser convidado para arquitetar a CLA no Brasil. A companhia é uma das oito maiores de auditoria e consultoria dos Estados Unidos, onde foi fundada em 2012 a partir da fusão da Clifton Gunderson LLP (criada em 1960) e da LarsonAllen (1953). A expansão internacional é recente, a partir de 2022. No Reino Unido, onde é Top 6, está uma das principais operações fora do território americano. No Brasil, pretende estar entre as 10 maiores do segmento já no ano que vem.
É a partir do Brasil que são comandadas as iniciativas da América Latina, com exceção do México, que tem sua própria estrutura. A Colômbia é o país em que a CLA começa a atuar agora a partir de uma fusão.
Por aqui, apesar do crescimento e dos resultados já conquistados, a CLA considera que ainda está se apresentando ao mercado. E, com o rápido desenvolvimento, a estratégia tem sido atualizada constantemente.
Apenas neste ano, já participou ou promoveu 20 eventos, além de dezenas de painéis em algumas feiras. Nessas ações, a companhia se posiciona como especialista do segmento e cria relacionamentos.
Reforma tributária
Na preparação das médias empresas, seja em consultoria ou auditoria, a CLA Brasil observa na reforma tributária brasileira que está em curso uma oportunidade para avançar seus negócios por aqui.
A companhia tem uma equipe tributária especializada para atender o middle market. Foi criada uma calculadora para apresentar aos clientes e potenciais parceiros as mudanças nos valores que ocorrerão a partir das novas regras, que passam a valer gradualmente do ano que vem até 2033. “Tem muita empresa perdida nessa história”, relatou Thiago Brehmer.
A calculadora criada pelos especialistas da CLA Brasil é apenas o fio da meada para apresentar aos clientes as mudanças que vão e podem ocorrer em seus negócios. “Vai ter impacto em todo o ecossistema das empresas, com impacto na cadeia de fornecedores e dos parceiros deles também”, disse o executivo.
Segundo Brehmer, as empresas vão ter de avaliar, cada qual com sua realidade e peculiaridades, seus modelos de negócio. “Vão ter de analisar se vale manter serviços dentro de casa ou se é melhor terceirizar. E o contrário também”, afirmou, ao ressaltar que “não é apenas passar as alíquotas de X para Y e está resolvido”. “Tem de haver estudo, controle, monitoramento e acompanhamento para entender os impactos e tomar decisões mais acertadas de negócio.”
O vice-presidente observa que o ponto positivo é justamente o período de implementação da reforma, de sete anos, em que as empresas poderão “sentir os efeitos e fazer as calibrações” necessárias.
O setor logístico será um dos mais afetados. Com a guerra fiscal proporcionada pelas atuais regras tributárias, muitas empresas montaram estruturas (armazéns, galpões e centros de distribuição) em Estados que ofereciam benefícios fiscais. Com a reforma tributária, esses incentivos perdem relevância, pois todas as federações terão alíquota única.
Assim, uma empresa que montou uma estrutura em Minas Gerais e vende mais produtos para São Paulo continuará competitiva? Debruçar-se sobre os números e as nuances da reforma será crucial para manter as operações no local ou transferi-las.
“Esses debates estão sendo feitos pelo mercado e são muito interessantes. Esse auxílio que oferecemos, as médias empresas geralmente não possuem. Elas têm de saber quais são os riscos embutidos em seus negócios”, salientou o sócio da CLA Brasil.
Será um momento diferente da economia do País em que vão aparecer oportunidades. É a tal da economia real apontada por Brehmer.

