Desde que o então candidato a presidência da República Eduardo Campos morreu tragicamente em um acidente aéreo, em 2014, seu filho João Campos apareceu como um sucessor daquele que era visto como uma das maiores promessas pela centro-esquerda brasileira. De lá para cá, Campos elegeu-se deputado pelo PSB e depois prefeito do Recife em 2020, sendo reeleito com altos índices de aprovação em 2024.
Muitos já o colocam como candidato a governador de Pernambuco ano que vem e um potencial aspirante ao Planalto dentro de alguns anos. Para o prefeito, graduado em engenharia, o caminho para diferenciar Recife de outras capitais passa por três focos de investimento: em competitividade, desburocratização e tecnologia.
Campos concedeu uma entrevista exclusiva ao BRAZIL ECONOMY na última sexta-feira durante evento em São Paulo e falou sobre esses e outros temas. Confira.
Pernambuco, e Recife especificamente, vem sendo cada vez mais conhecido como polo de investimento em tecnologia no Brasil. A que o senhor atribui isso?
Recife é uma cidade que tem investido muito na agenda competitividade, desburocratização e formação de capital humano. No último censo da educação do ensino superior brasileiro consta que estamos com o dobro de vagas na área de tecnologia a cada 100 mil habitantes se comparado com a segunda capital ranking, que é Brasília. Isso representa que nosso polo de tecnologia está crescendo muito, já que temos o principal: mão de obra qualificada para ocupar as melhores opções de trabalho para essa área de tecnologia. Um outro exemplo é que temos o segundo maior polo de medicina do Brasil.
Somos a melhor capital do Nordeste em que tange a competitividade, já que em todos os rankings que medem isso nós estamos na frente. Existe uma população de 44 milhões de pessoas em um raio de influência de 800 km a partir do Recife que XXX. Então, posso dizer que a segunda região mais populosa do Brasil, que é o nordeste, tem o seu epicentro político, geográfico e de decisão no Recife. Não tenho dúvida que qualquer expansão da atividade econômica no Nordeste brasileiro passa pela capital de Pernambuco.
O senhor é conhecido como um dos políticos que mais utilizam redes sociais no Brasil. De onde vem esse interesse tão grande por utilizar tecnologia como política pública?
O mundo tem uma carência de pessoas formadas em tecnologia e nosso grande diferencial é que temos um histórico de formação. Recife é hoje a cidade brasileira com maior número de doutores e pós-graduados em tecnologia no Brasil em números absolutos. Nenhuma cidade tem pós-doutores em ciência de computação quanto Recife, já que nosso centro de informática é muito forte. A gente conseguiu estruturar isso a longo prazo.
Era uma aposta que já vem há 20 anos e nos últimos quatro isso ganhou muito tamanho, já que fortalecemos a formação. Desenvolvemos hoje um território na cidade que é um distrito de inovação, chamado Porto Digital, e um programa da prefeitura que forma 2 mil jovens que vieram e escola pública para estudar tecnologia no ensino superior já que a cidade oferece 450 empresas dessa área.
A prefeitura tem olhado para fora do país com o objetivo de trazer investimentos em tecnologia?
Temos sim conversado com investidores de fora do Brasil, muito na área de tecnologia. Fechamos a XX, a maior japonesa da área de tecnologia, Ernst Young, Deloitte e está chegando ainda uma gigante francesa também desta área, além de outras empresas de fora do Brasil que vem sendo prospectadas.
A governadora de Pernambuco Raquel Lyra já declarou que será candidata a reeleição e muito se fala que o senhor também pode se lançar para este cargo. Isso tem gerado ruídos na relação de vocês?
São duas agendas diferentes. Política é no tempo de eleição. Meu foco absoluto é cuidar da cidade. É fazer o dever de casa com uma agenda concreta de competitividade e desburocratização. Aprovamos agora, por exemplo, a lei de uso e ocupação do solo que vai ser um importante ativo para o desenvolvimento imobiliário na recuperação do centro histórico, fortalecendo moradia.
Geramos ainda um incentivo grande para Minha Casa, Minha Vida na cidade, em outras áreas além do centro. Eu acredito que a política tem que trabalhar para melhorar o ambiente de negócios e não o contrário. Nosso dever é trabalhar e fortalecer a cidade para cada vez mais captar empreendimentos.
Mas, o senhor será candidato ao governo?
Isso é uma decisão que vai ser tomada no momento certo. Eleição é ano que vem e agora é o momento de trabalho e construção. Sou muito feliz e realizado como prefeito do Recife. Ninguém é candidato de si mesmo e nosso conjunto político terá sim alguém que tentará o governo de Pernambuco, mas que será não um candidato de si. Será alguém defenda um estado fortalecido e preparado para enfrentar os desafios e com capacidade de fazer muito mais.
Muita gente na opinião pública coloca seu nome como futuro líder da esquerda ao mesmo tempo que o nome de Nikolas Ferreira entra como futura liderança da direita. O senhor se incomoda com isso?
Isso é uma agenda que não é de hoje. Meu foco é cuidar da cidade. Fui eleito o prefeito mais jovem da história todas as capitais brasileiras e com a maior reeleição da história da minha cidade. Eu gosto muito de cuidar do Recife
Mas o sonho de ser presidente da República existe?
Não penso no futuro tão distante. Penso todo dia em como ser o melhor prefeito da história da minha cidade.