Trump não tirou interesse das empresas na pauta ambiental, diz GEF Capital Partners

Com eleição de Trump prestes a completar 1 ano, gestora com R$ 2 bilhões em ativos acredita que ameaça de retrocesso em ESG ficou só discurso

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Imagens: Divulgação

Amanda el Ghossain, da GEF Capital Partners: o BNDES tem sido um grande parceiro como agente relevante no financiamento

Amanda el Ghossain, da GEF Capital Partners: o BNDES tem sido um grande parceiro como agente relevante no financiamento

O ano de 2024 foi considerado por muitos analistas internacionais como um marco de retrocesso nos investimentos ambientais pelas empresas, diante da volta de Donald Trump ao poder. O atual presidente é declaradamente contrário a pautas neste sentido, seja pelo poder público ou pela iniciativa privada. Porém, preste a completar um ano da volta do republicano à Casa Branca, isso não afetou o cenário da maneira como muitos esperavam. Essa é a visão da GEF Capital Partners, gestora com quase R$ 2 bilhões de ativos no Brasil em investimentos de energia, soluções urbanas, economia circular e outras temáticas ambientais.

 “Embora (a eleição de Trump) tenha impactado o debate de algumas maneiras, percebemos que os investidores, tanto nacionais como de países de outras regiões, como Europa e Ásia continuam engajados. Mantemos um canal muito ativo com investidores dessas regiões, tanto os que já participam dos nossos fundos quanto potenciais novos parceiros e o que observamos é a continuidade da estratégia voltada para investimentos em sustentabilidade e clima”, afirmou Amanda El Ghossain, uma das responsáveis pela área de Private Equity na GEF.

A executiva destaca que a principal mudança ficou na base do discurso, já que alguns termos que antes tinham mais a ver com propósito foram trocados por outros mais voltados para recursos e riscos. “O discurso, sim, pode ter mudado.  Por vezes se fala menos sobre ‘impacto’ ou ‘sustentabilidade’ e mais sobre ‘eficiência de recursos’, e ‘mitigação de risco’, mas o interesse permanece. No fim do dia, estamos falando de setores que seguem sendo estratégicos, por demanda crescente e oportunidades reais”.

A GEF trabalha com a perspectiva de que o mercado tem reconhecido que mitigação e adaptação climática não são apenas agendas socioambientais, mas oportunidades econômicas concretas, especialmente em setores estratégicos como energia, agronegócio e saneamento, que combinam relevância climática com potencial de geração de retorno. A companhia tem buscado empresas com Ebitda ao redor de R$ 50 milhões, tanto na tese de mitigação como adaptação climática também, apesar de garantir flexibilidade no cheque e já ter realizado investimentos em empresas um pouco menores. Porém, a promessa para os próximos aportes é focar em ativos maiores. Com forte atuação nos EUA e Índia, a GEF enxerga grande potencial no mercado brasileiro para os próximos anos, onde já tem 10 das 40 companhias investidas no mundo.

“Os setores brasileiros em que investimos são justamente aqueles que enxergamos como mais promissores, aqueles que têm avançado e que acreditamos que oferecem oportunidades de crescimento diferenciadas e mais atrativas em comparação a outras áreas da economia. Como exemplo de avanços no Brasil, em energia renovável houve um crescimento expressivo da solar nos últimos anos, mas ainda há muitas oportunidades dentro dessa cadeia, como o aumento de serviços para maior eficiência do grid e o desenvolvimento de soluções de armazenamento de energia, que vemos como um setor em expansão”, afirmou Amanda.

O BNDES tem sido um grande parceiro neste sentido, já que tem atuado como agente relevante no financiamento de diversas dessas frentes, oferecendo uma forte sinalização ao mercado sobre a estabilidade regulatória e as oportunidades concretas associadas à pauta climática. Aproveitando o momento da COP, que ocorrerá em Belém em novembro, houve o lançamento da Brazil Climate & Ecological Transformation Investment Platform (BIP), uma plataforma de investimentos que conectam empresas das áreas ambientais a investidores e instituições financeiras, facilitando o acesso ao capital. O banco de fomento também lançou este ano uma chamada pública voltada para o financiamento da cadeia de transição energética e descarbonização, com foco em pequenas e médias empresas.

“Nós acreditamos que o poder público é crucial para criar as condições estruturantes que removam barreiras e reduze riscos, permitindo que o capital privado entre de forma competitiva em setores estratégicos. Não adianta haver interesse privado se não existir um ambiente regulatório propício, políticas públicas consistentes e mecanismos de mitigação de risco capazes de permitir que tecnologias verdes e modelos de negócio resilientes evoluam até atingir maturidade. Nesse contexto, as iniciativas do governo, seja no incentivo às empresas por meio de políticas tributárias e regulatórias ou diretamente na ponta do financiamento têm sido fundamentais” afirmou Amanda.

Mesmo com este momento bom no Brasil, a GEF acredita que o cenário ainda apresenta possibilidades de melhorar mais ainda, especialmente no agronegócio, onde o país vem mostrando que é possível conciliar produtividade e redução de emissões. O Plano ABC – Agricultura de Baixo Carbono, política pública voltada a tecnologias sustentáveis como plantio direto, evitou a emissão de cerca de R$ 170 milhões de toneladas de CO₂, entre 2010 e 2020, segundo o Ministério da Agricultura. Neste mesmo período, houve grande crescimento econômico e expansão da produção agropecuária, mostrando que é possível conciliar todos os interesses.

“Nós vemos setores estratégicos como energia e agro avançando, tanto por políticas estruturadas quanto pela adoção de tecnologias que melhoram desempenho econômico e ambiental, mas há uma janela grande para ampliar escala, integrar cadeias produtivas e internalizar esses ganhos de forma permanente na economia brasileira”, afirmou Fabiana Goulart, head de sustentabilidade e criação de valor na GEF. Por outro lado, o Brasil ainda pode avançar mais em investimentos tecnológicos como sistemas inteligentes para cidades, soluções de monitoramento e serviços voltados à descarbonização, a exemplo do que é efeito nos EUA.

A GEF também acredita que o desafio para destravar esse capital está em alinhar a governança socioambiental a parâmetros que atendam às exigências de investidores institucionais mais sofisticados. “Essa foi uma experiência prática da GEF quando iniciou sua atuação nesse campo há muitos anos. A agenda de monitoramento é decisiva nesse processo: além de viabilizar a entrada de capital, comprova, com evidências, que é possível gerar retorno financeiro expressivo com impacto climático mensurável, fator essencial para consolidar um setor ainda em formação, reduzir o ceticismo natural e ampliar o diálogo com investidores privados”, destacou Fabiana.

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