Putin se reunirá com Trump enquanto uma crise fiscal ameaça a máquina de guerra

A economia da Rússia tem mostrado uma resiliência surpreendente diante das sanções impostas pelo Ocidente desde a invasão da Ucrânia por Putin, em 2022

Jason Ma (Fortune)
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Imagens: GettyImages

Entre janeiro e julho, os gastos públicos da Rússia dispararam 20,8%, enquanto a arrecadação subiu apenas 2,8%

Entre janeiro e julho, os gastos públicos da Rússia dispararam 20,8%, enquanto a arrecadação subiu apenas 2,8%

O presidente russo, Vladimir Putin, se encontrará com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no Alasca, em 15 de agosto, para discutir o fim da guerra de Moscou contra a Ucrânia. Enquanto isso, a economia russa continua sentindo os efeitos das sanções ocidentais e das altas taxas de juros. O Kremlin também enfrenta uma “crise fiscal” que deve dificultar seu esforço de guerra, segundo um especialista.

A economia da Rússia tem mostrado uma resiliência surpreendente diante das sanções impostas pelo Ocidente desde a invasão da Ucrânia por Putin, em 2022.

Mas, enquanto Putin se prepara para o encontro com Trump nesta sexta-feira, no Alasca, com o objetivo de discutir o fim do conflito, surgem novos sinais de desgaste econômico e fiscal.

Em junho, o ministro da Economia, Maxim Reshetnikov, alertou que a Rússia estava “à beira” de uma recessão. No mês passado, o banco central reduziu a taxa de juros em 200 pontos-base para tentar reanimar o crescimento econômico estagnado.

As finanças do governo também estão sob crescente pressão. A receita de petróleo e gás — principal fonte de recursos do Kremlin — despencou 27% em julho, na comparação anual, para 787,3 bilhões de rublos (cerca de US$ 9,8 bilhões).

A queda se deve tanto à redução dos preços do petróleo bruto quanto ao aumento das sanções europeias contra Moscou e ao cerco à chamada “frota-sombra” de petroleiros que transportam petróleo russo.

Mesmo com a receita em declínio, os gastos seguem aumentando devido aos ataques incessantes contra a Ucrânia. Além dos custos com armamentos, permanecem elevados os incentivos para recrutar voluntários e as compensações às famílias de soldados mortos.

O resultado tem sido um déficit crescente: o rombo nas contas públicas nos sete primeiros meses do ano chegou a US$ 61,44 bilhões, ou 2,2% do PIB — acima dos 1,7% registrados no primeiro semestre.

Entre janeiro e julho, os gastos dispararam 20,8% em relação ao mesmo período de 2024, enquanto a arrecadação subiu apenas 2,8%.

O economista e autor Anders Åslund, que escreveu Russia’s Crony Capitalism: The Path From Market Economy to Kleptocracy, afirmou que a situação é grave a ponto de a Rússia poder esgotar suas reservas financeiras, sendo forçada a cortar despesas públicas.

Em um artigo publicado no Project Syndicate na quinta-feira, Åslund destacou que Moscou tem poucas fontes de financiamento, já que as sanções praticamente a isolaram do sistema financeiro global — e até bancos chineses aliados estão relutantes em emprestar dinheiro.

Assim, o país tem recorrido ao Fundo Nacional de Riqueza, que encolheu de US$ 135 bilhões em janeiro de 2022 para apenas US$ 35 bilhões em maio deste ano. Segundo Åslund, a reserva pode se esgotar no segundo semestre.

“A economia russa está se aproximando rapidamente de uma crise fiscal que dificultará seu esforço de guerra”, afirmou. “Embora isso possa não ser suficiente para forçar Putin a buscar a paz, sugere que o cerco está se fechando.”

Por ora, Moscou escapou de sanções mais severas por parte dos EUA, já que Trump recuou de uma ameaça de impor sanções secundárias contra compradores de petróleo russo, optando por tentar retomar as negociações de cessar-fogo no Alasca.

Uma rodada anterior de conversas, em abril, incluiu uma proposta do enviado de Trump para suspender as sanções econômicas americanas contra a Rússia, exigir a neutralidade da Ucrânia e reconhecer os territórios tomados por Moscou. Autoridades ucranianas e europeias rejeitaram os termos, e o diálogo fracassou.

Na sexta-feira, Trump previu que alguma troca territorial será necessária para alcançar um acordo desta vez.

“Estamos falando de territórios disputados há três anos e meio — muitos russos morreram, muitos ucranianos morreram”, disse ele. “Haverá alguma troca de territórios para benefício de ambos.”

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