“Lula se aproveita da crise do tarifaço para crescer nas pesquisas”, diz governador do RJ

Em entrevista exclusiva ao BRAZIL ECONOMY, Cláudio Castro critica a "falta de liderança" de Lula em negociações com os EUA e disse que o presidente está brincando com coisa séria

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Imagens: Tânia Rêgo/Agência Brasil

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, tem sido uma das vozes mais ativas da oposição ao governo Lula

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, tem sido uma das vozes mais ativas da oposição ao governo Lula

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, é uma das vozes mais ativas da oposição ao Governo Lula. Apesar de seu estado ainda não ter sofrido impactos maiores com a tarifa de 50% imposta por Donald Trump em julho deste ano, ele afirma que vem se mobilizando junto a governadores do Sul e Sudeste para negociar diretamente com os EUA, já que, em sua visão, o Governo Federal tem falhado nesse processo. Sobre o envolvimento do STF nessas discussões, Castro acredita que isso também se deve à dificuldade de articulação e liderança de Lula. O governador concedeu entrevista exclusiva ao BRAZIL ECONOMY antes de sua participação em um evento em São Paulo nesta segunda-feira (25). Confira:

Como o senhor vê o avanço das negociações do governo Lula em torno da tarifa de 50% imposta por Donald Trump em julho?
Eu acho que o Brasil não avançou. O governo federal está gostando da ideia de melhorar a performance nas pesquisas eleitorais e deixando a situação chegar a um ponto em que vai prejudicar as pessoas. Eu lamento que estejam brincando com algo tão sério. Quando você coloca um vice para tratar do assunto ou manda um time de senadores negociar, mostra que Lula se aproveita da crise para crescer nas pesquisas e gosta dessa situação. É o famoso “me engana que eu gosto”.

O presidente Lula erra em não liderar pessoalmente as negociações sobre a tarifa?
É o líder que tem que liderar: pegar o telefone e ligar para quem precisa, embarcar em um avião e negociar. Isso não ocorre no momento. Eu esperava que o governo liderasse esse processo. Enquanto as pesquisas mostrarem que o campo de Lula está subindo nas intenções de voto, mais ele vai se aproveitar disso eleitoralmente, colocando um dinheiro que a União não tem para mitigar o problema das empresas. É uma tônica que eles usam desde que tomaram posse: aplicar tratamentos paliativos e esquecer do problema maior.

O estado do Rio de Janeiro já sente os efeitos da tarifa?
Pouco ainda. Nosso business maior é o de óleo e gás, que rapidamente consegue exportar para outros mercados. Além disso, nós importamos mais do que vendemos para os EUA. Sentimos um pouco na produção de aço e no agronegócio, mas o impacto no estado é maior sobre a economia do que sobre a arrecadação.

E como o senhor tem colaborado para resolver essas questões?
Temos conversado muito com a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro e com a Fecomércio do estado, além de abrir uma linha de financiamento pela Agência de Fomento estadual. Eu e outros governadores do Sul e Sudeste tentamos contatos diretos com os Estados Unidos, mas claro que, se estivéssemos no governo central, seria mais fácil. Além disso, temos falado com o representante de negócios da embaixada, já que não há embaixador.

O senhor acredita que o governo vai resolver esse impasse até o fim do mandato de Lula?
Espero que sim, mas não consigo enxergar um movimento claro que solucione o problema. Até agora, parece que estão usando paracetamol para baixar a febre e esquecendo que há uma inflamação enorme, que é a doença — ou seja, a crise que o país atravessa.

Como o senhor avalia a postura do STF diante das ameaças de Donald Trump em relação ao julgamento de Jair Bolsonaro?
Eu acho que o Brasil está vivendo uma completa falta de liderança. Começa com a situação criada pelo 8 de janeiro, passa pelas discussões sobre mudança no IOF e chega à briga com as Big Techs. É um Governo Federal que não lidera os debates e um Ministério das Relações Exteriores pífio e inoperante. Aí, cabe ao STF travar lutas que não lhe cabem, já que não é um órgão talhado para isso. Essa deveria ser uma atribuição do Executivo, com apoio do Legislativo. E acredito que isso acaba sendo conveniente para o Governo Federal, já que não precisa brigar e deixa os outros sangrarem. O que ocorre no Brasil é uma briga de um ente interno — a Suprema Corte — que precisa desempenhar um papel externo porque temos um Governo Federal completamente à deriva. É uma visão totalmente míope para falar de segurança, empregabilidade e desenvolvimento econômico.

E essa falta de liderança vai além das discussões sobre a tarifa?
Sim. O Brasil está perdendo debates internacionais importantes, como os de data centers e inteligência artificial. Veja, por exemplo, a China: está construindo uma usina hidrelétrica seis vezes maior do que a maior que já tem, pensando no futuro. E o Brasil? Poderíamos ser a “capital mundial” da energia, mas não temos um leilão de transmissão, desperdiçamos energia, mantemos vários espaços ociosos que poderiam ser catalisadores de investimentos. O Governo Federal, no entanto, prefere falar de temas como o 8 de janeiro e acaba criando uma “guerra de crises” entre as instituições, quando deveria estar liderando essas discussões internacionais.

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