Já se vão quase 40 anos desde que Ronaldo Caiado apareceu na política brasileira como líder de agricultores contrários às tentativas do governo Sarney em promover iniciativas de Reforma Agrária, o que o levou a ser chamado por muitos de “Lula da Direita”. Membro de uma das famílias mais antigas da política goiana, inicialmente preferiu a Medicina, onde se especializou em Ortopedia, mas resolveu abraçar a causa do agronegócio tão pulsante em seu Estado.
Em 2018 foi eleito governador e alcançou a reeleição em 2022, tornando-se um dos principais nomes da direita para concorrer ao Planalto em 2026. Hoje, segue como um defensor ferrenho das políticas ruralistas, mas afirma que ganhou um novo aliado para potencializar os investimentos na área: a Inteligência Artificial.
Caiado esteve em São Paulo no início desta semana para participar do seminário Brasil Hoje, organizado pela think thank Esfera Brasil, que reuniu empresários e políticos. Ao final do encontro conversou com o BRAZIL ECONOMY. Entre os temas abordados, o governador destacou os esforços de Goiás em se apropriar da IA, minerais raros e, claro, as expectativas sobre as eleições do ano que vem. Confira!
A direita tem sofrido algumas críticas pela demora em definir o candidato presidencial na eleição de 2026. Como o senhor avalia isso?
Não vejo sentido nessa ansiedade. O que o governo quer é justamente dividir a direita. Já pensou o massacre que a máquina do governo vai fazer caso se decida agora pelo nome de um candidato faltando 14 meses do primeiro turno? Nós, governadores da direita, fazemos partes de pré-candidaturas com as mesmas convicções e pensamentos sobre como governar e lidar com questões importantes para o desenvolvimento do Brasil. Então, não temos um candidato universal, mas os eleitores que querem derrotar o Lula vão votar em quem quer que seja no segundo turno.
E qual a expectativa do senhor para a eleição do ano que vem?
Precisamos entender que a eleição de 2026 vai ser um divisor de águas: ou terá a predominância da economia de mercado, livre iniciativa, ou, se Lula vencer de novo, muitos ricos vão deixar o Brasil e não é isso que queremos. Termos que aumentar o número de ricos e isso é a diferença que existe em um país que acredita no desenvolvimento, na renda, no empreendedorismo, na capacidade de gerar emprego etc. Em resumo: ou é o rumo da estatização cada vez maior que gera concentração de poder e onde o Estado domina as ações, ou vamos ter um país aberto no sentido de globalização, de IA, poderes aos Estados. Vamos nos empenhar ao máximo e quem do nosso campo chegar lá não vai decepcionar os empresários. Vamos devolver o Brasil aos brasileiros de bem.
Falando sobre economia, em maio deste ano o senhor sancionou a Lei Complementar nº 205 que institui a Política Estadual de Fomento à Inovação em Inteligência Artificial no Estado de Goiás. Que potencial o estado enxerga nesta pauta?
Caminhamos por muitos países e percebemos que quem comandar a IA vai comandar o mundo. Nosso objetivo foi criar uma legislação que que diz o seguinte: o cidadão que vai desenvolver a IA não pode ser punido caso façam mau uso do seu produto. Quando ele elabora o software não pensa que vão usá-lo de maneira errada. E caso façam isso, temos um mecanismo na lei que pune quem fez mau uso. Então, temos a capacidade criativa e o freio para impedir que façam má prática daquele software. Queremos a liberdade para quem quer desenvolver a IA com seus algoritmos e, por isso, jogamos o foco do governo em Inteligência Artificial. Os softwares serão respaldados com premiações e estímulos para que possam desenvolvê-los cada vez mais e trazendo resultados.
Quais os resultados já vistos com o uso da IA no agronegócio de Goiás?
Já utilizamos esse mecanismo há cerca de cinco anos com a ideia de uma agricultura exponencial. Usamos drones, computadores e pequenos robôs que identificam problemas no solo. Isso permitiu avanços como a incidência mínima de herbicidas, a caracterização de ervas daninhas e a identificação de pragas.
Qual conselho o senhor daria para outros governadores que querem investir em IA?
O que aprovamos em Goiás não foi ideia nossa e sim resultado de um ano de consultas com os maiores conhecedores da área. Acredito que este é o melhor caminho que meus colegas devem seguir.
O Governo Federal também tenta aprovar uma lei que regulamente a IA no Brasil. Quais diferenças o senhor vê entre essa iniciativa e aquela aprovada em Goiás?
O Brasil está copiando uma lei da Europa que é o retrocesso do retrocesso. Ela trava e não incentiva o desenvolvimento da pesquisa já que é uma espécie de desenho de um carro onde a aerodinâmica e o freio são perfeitos, mas não tem motor. A tentativa de lei brasileira é isso: não tem quem arranque, acelere ou fomente. Por ela, qualquer cidadão que construa softwares sob tutela dessa lei pode ser denunciado e pagar talvez valores estratosféricos, o que inviabiliza investimentos. Como eu disse, quem deve ser punido é o sujeito que fez mau uso da IA e não quem a projetou. O governo brasileiro não pode travar e retroagir naquilo que é o grande desafio que temos para o futuro. Mas, acredito que o Congresso Nacional vai rever esse projeto já que até a Europa se conscientizou que esse modelo é um erro.
O senhor acredita que a proposta do Governo Federal fere a liberdade dos desenvolvedores?
Sim. Se isso for aprovado vai nos condenar ao atraso na IA. Já perdemos o período da globalização, temos grande potencial de energia renovável, mas já estamos absorvendo tecnologia asiática. O Brasil não suporta mais isso. Eu produzi uma legislação pautada pelo direito concorrente da Constituição Federal brasileira já que ainda não há uma lei nacional, logo, eu posso legislar no meu estado e assim eu fiz. E vejo que nossa lei vem sendo reconhecida. A Amazon nos procurou para montar uma estrutura de data center no estado de Goiás e nos perguntaram se nossa legislação seria preservada e dissemos que sim. O Google também já disse claramente que existem duas leis de IA a serem copiadas, de Goiás e do Japão.
Quais propostas o senhor levaria de Goiás para a administração federal?
Governar tem que ter compatibilidade. O atual Governo Federal não tem plano de ação, recuperando um PAC e um Minha Casa, Minha Vida. O desenvolvimento do Brasil deve ser por meio de projetos que avancem no mercado internacional, como os metais críticos que é uma grande demanda. Goiás já é um produtor de terras raras, ou seja, não é tendo apenas reservas e sim produzindo, como o níquel em volume cada vez maior no estado, o nióbio e tantos outros. Nossos programas sociais se tornaram referência pelo alto número de pessoas que tiramos do Bolsa Família e demos renda própria. Eu tenho segurança plena em Goiás, por isso é o seguro mais barato. O empresário da área não tem o Custo Brasil lá, já que o cidadão transita e mora onde deseja. Isso leva aos empresários uma garantia por meio da saúde regionalizada.