O tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos a produtos brasileiros deve afetar o equilíbrio de caixa das empresas exportadoras dos setores envolvidos. Um problema que tende a se transformar em bola de neve, com aumento de dívidas que se tornam mais difíceis de serem quitadas. O Índice Global de Recuperação de Crédito B2B (IGR), produzido pela Global – Hub de Soluções de Relacionamento e Cobrança, maior recuperadora de crédito B2B do Brasil, aponta que, quanto maior o tempo de atraso no pagamento de débitos, mais complicada se torna a recuperação.
Segundo levantamento ao qual o BRAZIL ECONOMY teve acesso com exclusividade, 82% das dívidas com até 10 dias de atraso são recuperadas. Entre 11 e 20 dias de atraso, a recuperação cai para cerca de 70%. Já os débitos com mais de 20 dias nas relações comerciais B2B entram em uma seara delicada, na qual praticamente metade não se recupera.
“A partir de 21 dias de atraso já acende uma luz amarela para o empresário que tem débitos a receber, pois a recuperação média fica na faixa de 52% e a dívida tende a se tornar crítica”, disse Silvano Boing, CEO da Global, ao ressaltar que o tarifaço afeta diretamente a liquidez do B2B e, consequentemente, a capacidade de pagamento dos clientes.
O estudo foi elaborado com base em dados de títulos em atraso recebidos de clientes no primeiro semestre deste ano. No total, foram analisados mais de 870 mil títulos vencidos, que representam cerca de R$ 1,079 bilhão, a partir de uma amostragem de 444 médias e grandes empresas de 16 setores econômicos, distribuídas nas 27 unidades federativas do país.
O levantamento fornece uma visão panorâmica do cenário de inadimplência nas transações comerciais entre empresas, segmentada por faixa de atraso, região e setor econômico, além de refletir a distribuição do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil. O Sudeste representa 47,57% dos títulos vencidos negociados, seguido pelo Sul (18,77%), Nordeste (18,04%), Centro-Oeste (9,08%) e Norte (6,54%).
Setores mais sensíveis e mais resilientes
Os segmentos com maior número de títulos cadastrados são alimentos e bebidas (18,30%), bens de consumo não duráveis (16,05%), financeiro (12,25%) e atacadista/distribuidor (10,23%) — setores que, por característica, têm alto giro e grande volume de vendas. Por isso, estão mais expostos à inadimplência, segundo a Global.
Empresas do setor de alimentos e bebidas, por exemplo, recuperam mais de 84% dos títulos com até 10 dias de atraso. O índice cai para 76% no período de 11 a 20 dias e para 55% entre 21 e 30 dias. Já as dívidas com 31 ou mais dias de atraso têm recuperação inferior a 50%, e após 151 dias o índice despenca para menos de 10%.
Na prática, cada dia que passa reduz as chances de recuperação dos débitos. Nos primeiros 20 dias, a taxa é alta, enquanto acima de três anos menos de 1% dos valores é recuperado.
“Esperar demais pode custar caro. Por isso, agir rápido e com estratégia é essencial para evitar que a dívida vire perda”, disse Rafael Medeiros, diretor-executivo B2B da Global, ao apontar as consequências negativas do desequilíbrio financeiro.
“O acúmulo de débitos a receber atrapalha ou até interrompe o fluxo de caixa. Em situações mais graves, pode até levar ao fechamento de uma empresa”, completou Medeiros.
Ação rápida e tecnologia na cobrança
A recomendação é que as empresas sejam ágeis, monitorem o calendário de pagamentos para evitar picos de inadimplência e acionem o serviço de cobrança assim que ocorrer o atraso.
Para o CEO da Global, é fundamental adotar uma estratégia preventiva de cobrança, com lembretes de pagamento enviados alguns dias antes e logo após o vencimento — já que parte dos atrasos está ligada a esquecimentos.
“Se o pagamento não ocorrer, o atraso se torna uma dívida e precisa ser seguido de um fluxo de cobrança e negociação que garanta o recebimento, mantenha um bom relacionamento com o cliente e evite problemas no fluxo de caixa”, afirmou Boing.
No processo de recuperação de dívidas, a tecnologia é uma aliada — desde soluções simples até as mais avançadas. Mais da metade (54%) dos acordos já ocorre por meio de canais digitais, com destaque para o WhatsApp, utilizado em 45% das negociações.
Ferramentas mais robustas, como robôs autônomos e a Soph-IA, inteligência artificial da Global, já representam 10% dos acordos fechados, de acordo com o levantamento.