Jerome Powell, do Fed, está deixando Trump irado porque resiste em cortar os juros

Os ataques de Trump ao Fed e a Powell se intensificaram em seu segundo mandato, e sua insistência em cortar juros, além de ameaças anteriores de nomear um novo presidente para o Fed, têm pressionado a instituição a reforçar sua independência

Marco Quiroz Gutierrez (Fortune)
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Imagens: GettyImages

Powell afirmou que permanecerá como presidente do Fed até o fim de seu mandato, em maio

Powell afirmou que permanecerá como presidente do Fed até o fim de seu mandato, em maio

O presidente Donald Trump reagiu com fúria nas redes sociais após o Federal Reserve decidir manter as taxas de juros estáveis nesta semana. No mesmo dia em que uma governadora indicada por Biden anunciou sua renúncia, Trump instou o Conselho do Fed a “assumir o controle” e cortar os juros. Especialistas dizem que a compreensão de Trump sobre o processo de definição das taxas é equivocada e que uma rebelião contra Jerome Powell é briga perdida.

Na sexta-feira, a governadora do Fed Adriana Kugler anunciou que deixará seu cargo antes do previsto, abrindo espaço para que Trump amplie sua influência sobre o banco central ao pressionar por um movimento contra o presidente do Fed, Jerome Powell.

Em uma postagem na rede social Truth Social, feita antes do anúncio de Kugler, Trump criticou Powell, afirmando que ele deve “reduzir substancialmente” os juros, após o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) votar majoritariamente pela manutenção das taxas.

“Se ele [Powell] continuar a recusar, o Conselho deve assumir o controle e fazer o que todos sabem que precisa ser feito”, escreveu Trump na publicação.

Kugler afirmou que deixará o cargo em 8 de agosto, antecipando sua saída prevista para janeiro, quando expiraria seu mandato no Conselho de governadores. Segundo comunicado oficial, ela planeja retornar ao corpo docente da Universidade de Georgetown neste semestre.

A saída de Kugler oferece a Trump uma oportunidade valiosa para nomear um novo membro votante do FOMC, ampliando sua capacidade de influenciar a política monetária. O FOMC define a taxa básica de juros dos EUA, foco das críticas de Trump. O comitê é composto por sete governadores do Fed, o presidente do Fed de Nova York e quatro presidentes regionais rotativos dos bancos do Federal Reserve.

Na reunião desta semana, que manteve as taxas entre 4,25% e 4,5%, dois governadores nomeados por Trump, Michelle Bowman e Christopher Waller, votaram contra a decisão – um fato raro, mas longe de ser considerado uma rebelião, segundo Michael Ashley Schulman, diretor de investimentos da Running Point Capital Advisors.

Como as decisões do FOMC são tomadas por maioria simples entre seus 12 membros votantes, teoricamente Powell, que tem apenas um voto e nenhum poder de veto, pode ser vencido. No entanto, Schulman considera essa possibilidade improvável.

“Um punhado de votos contrários mostra insatisfação, mas uma rebelião bem-sucedida exigiria ao menos sete votos contra Powell – uma espécie de ‘Sucession’ dentro do Fed”, disse Schulman à Fortune, referindo-se à série sobre disputas de poder corporativo. “As chances continuam baixas, a menos que os dados econômicos piorem drasticamente ou que novos indicados mudem o equilíbrio do Conselho.”

Os ataques de Trump ao Fed e a Powell se intensificaram em seu segundo mandato, e sua insistência em cortar juros, além de ameaças anteriores de nomear um novo presidente para o Fed, têm pressionado a instituição a reforçar sua independência.

No entanto, Powell ainda pode resistir à influência de Trump, segundo Mark Spindel, conselheiro sênior da F/m Investments e coautor do livro The Myth of Independence: How Congress Governs the Federal Reserve.

Powell afirmou que permanecerá como presidente do Fed até o fim de seu mandato, em maio. Mas, conforme observa Spindel, ele pode continuar como membro do Conselho até 2028, independentemente do fim do mandato na presidência.

“Permanecer no Conselho após deixar a presidência seria uma forma de impedir que Trump obtenha maioria no Conselho de governadores, evitando dinâmicas problemáticas e dificultando a comunicação do futuro presidente do Fed”, explicou Spindel.

Powell tem evitado dizer se pretende continuar como governador após maio.

Ainda é incerto como Trump reagirá caso o Fed decida cortar os juros. Apesar da resiliência da economia dos EUA, surgem sinais de enfraquecimento. Em julho, o país criou apenas 73 mil empregos, e os dados de junho e maio foram revisados para baixo, segundo o Departamento de Estatísticas do Trabalho.

Os novos números foram surpreendentes e abalaram a narrativa de que o mercado de trabalho era imune a choques, algo que influenciava a posição cautelosa do Fed em relação às taxas.

Na coletiva após a decisão do Fed de manter os juros, Powell evitou sinalizar cortes próximos e adotou um tom “hawkish” (mais rígido), segundo nota da equipe de macroeconomia do Bank of America, frustrando a expectativa dos investidores de que o comitê pudesse cortar as taxas já em setembro.

“Parece a mim – e para quase todo o comitê – que a economia não está se comportando como se a política restritiva estivesse a limitando de forma inadequada”, disse Powell.

 

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