Investidores estão subestimando a inflação tarifária nos EUA, alerta Deutsche Bank

Com a escalada das tarifas impostas pelo governo Trump, especialistas alertam que a inflação pode superar 4% nos próximos meses. O mercado não precificou esse risco

Jim Edwards (Fortune)
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Imagens: Aaron Schwartz/CNP/Bloomberg

O aparente descompasso entre as tarifas elevadas de Trump e a inflação baixa tem surpreendido investidores e analistas

O aparente descompasso entre as tarifas elevadas de Trump e a inflação baixa tem surpreendido investidores e analistas

Desde que Donald Trump retomou sua política agressiva de tarifas comerciais, uma pergunta tem intrigado Wall Street: onde está a inflação? Com a taxação de 50% sobre todas as importações vindas da Índia — anunciada nesta semana — a tarifa média efetiva dos EUA saltou para algo em torno de 15%. A Pantheon Macroeconomics calcula até 19%. Antes da atual administração, essa média era de apenas 2,4%. Ainda assim, a inflação oficial está em 2,7%, um patamar considerado moderado. O aparente descompasso entre tarifas elevadas e inflação baixa tem surpreendido investidores e analistas.

Para Henry Allen, analista do Deutsche Bank, a inflação já está sendo pressionada pelas tarifas, mas o mercado insiste em ignorar os sinais. Em nota de pesquisa, ele destacou a variável de “preços pagos” no indicador ISM de serviços — um dado que costuma antecipar em três meses a trajetória do índice de preços ao consumidor (CPI).

“Esse componente subiu para 69,9 em julho, o maior nível desde outubro de 2022, quando o CPI ainda estava acima de 7% e o Federal Reserve elevava os juros em 75 pontos-base por reunião”, afirmou Allen. “Historicamente, um nível próximo a 70 no ISM tem sido consistente com inflação acima de 4%.”

A percepção também chegou às famílias americanas. Segundo a pesquisa mais recente do Conference Board, as expectativas inflacionárias dos consumidores para os próximos 12 meses subiram 0,5 ponto percentual, atingindo 6,2%.

De acordo com Stephanie Guichard, economista-sênior da instituição, “as respostas espontâneas dos entrevistados mostraram que as menções a tarifas aumentaram e continuam associadas a preocupações com preços mais altos”.

O que o mercado está ignorando

Apesar disso, o mercado de inflation swaps — onde investidores apostam nas taxas futuras de inflação — permanece inerte. O contrato de um ano, por exemplo, pouco se mexeu desde abril, quando Trump deu início à nova fase de sua guerra comercial.

Allen lista três motivos para acreditar que o impacto tarifário ainda não foi precificado:

  1. Defasagem: as tarifas levam tempo até se refletirem nos preços ao consumidor.
  2. Dados incompletos: os indicadores disponíveis vão apenas até julho, mas várias novas tarifas foram aplicadas em agosto — entre elas, 50% sobre o cobre e 35% sobre o Canadá.
  3. Mais tarifas à frente: a administração Trump já sinalizou novas taxações em semicondutores, medicamentos e minerais críticos.

“É surpreendente que os swaps não estejam precificando mais risco inflacionário, dado o ritmo em que as tarifas estão sendo implementadas”, reforçou o analista.

Antes da abertura em Nova York nesta quarta-feira (27), os mercados refletiam mais cautela do que pânico:

  • S&P 500 futuros estáveis, após alta de 0,41% no pregão anterior;
  • STOXX Europe 600 também estável;
  • FTSE 100 (Reino Unido) em leve alta de 0,11%;
  • Nikkei 225 (Japão) avançando 0,33%;
  • CSI 300 (China) em queda de 1,49%;
  • KOSPI (Coreia do Sul) em alta de 0,25%;
  • Nifty 50 (Índia) em queda de 1,02%;
  • Bitcoin valorizado a US$ 110,6 mil.

Um risco que pode se tornar inevitável

Seja pelo atraso estatístico ou pela complacência dos investidores, a percepção de risco inflacionário parece estar fora de sintonia com a realidade tarifária. Para o Deutsche Bank, os próximos meses serão decisivos para confirmar se o efeito das tarifas realmente empurrará a inflação americana acima de 4% — e se Wall Street será obrigada a reprecificar esse risco.

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