Nesta semana, o Vibra São Paulo foi palco da 26ª Conferência Ethos, evento anual do Instituto Ethos e um dos mais relevantes do país na área de ESG, onde foram discutidas principalmente as perspectivas para a COP30 com um viés além das discussões ambientais. Uma das organizadoras do evento é Andréa Álvares, executiva com mais de 30 anos de experiência em marketing e sustentabilidade, atuando em empresas do porte da Pepsico, Natura, Pepsico e AmCham.
Com longo repertório corporativo, se viu apta para assumir, em 2023, a presidência do Conselho do Instituto Ethos, organização que auxilia empresas a firmar e praticar compromissos de responsabilidade social e desenvolvimento sustentável. Entre as parceiras do instituto, estão Globo, Alcoa, PwC e Shell.
“Este ano fizemos a proposta de uma COP30 além do clima. A ideia é trazer narrativas que incluam as discussões das desigualdades e das assimetrias históricas entrelaçadas com a agenda climática. Isso é uma agenda estratégica e deve ser incluída nos orçamentos e no modelo de negócios, seja pelo viés do risco potencial ou das oportunidades. As empresas na maioria entenderam que serão afetadas de alguma forma por bem ou por necessidade”, afirmou a executiva.
O evento, que contou com a presença de Ana Toni, diretora-executiva da COP30 e secretária nacional de Mudança do Clima do Ministério de Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil, foi realizado pela primeira vez de maneira gratuita para trazer um maior número de discussões entre líderes empresariais, especialistas, representantes do governo e da sociedade civil. Entre as empresas presentes, estiveram Diageo, Arcellor Mittal Brasil, Machado Meyer e Embraer.
O Instituto Ethos tem como um dos seus principais objetivos desenvolver indicadores para auxiliar as empresas a compreenderem a sua situação e os caminhos para se tornarem mais diversas, inclusivas e éticas. Também realiza atividades de advocacy colaborativo nos eixos de Meio Ambiente, Clima e Natureza, Integridade e Combate à Corrupção, Gestão para a Sustentabilidade e Direitos Humanos. Uma das participantes mais ativas no encontro foi a Norsk Hydro Brasil, empresa da área de alumínio que mantém uma série de programas sociais voltadas para as populações das cidades onde atua.
“É um encontro ímpar que toca em temáticas sensíveis e necessárias para o momento. Pudemos trazer o conceito de integridade que sempre deve permear e ser transversal em todas as nossas ações. Dentro disso, temos que achar caminhos de como o compliance e a governança devem atuar dentro da nossa cadeia gerando de fato credibilidade e responsabilidade sobre as ações da empresa”, afirmou Paula Marlieri, Diretora de Relações Externas da Norsk Hydro Brasil.
Quem também esteve presente foi a Sodexo Brasil. A empresa é uma das maiores referências do país quando o assunto é equidade: dos cerca de 47 mil colaboradores que tem, 67% são mulheres. Se analisarmos apenas no quadro executivo, as mulheres representam 84% em cargos de liderança. O número também é acima da média do mercado quando falamos da contratação de negros: eles representam 60% de todos os colaboradores da empresa e ocupam 32% dos cargos de liderança.
“Para nós, diversidade é reconhecer cada colaborador como único, com suas características e experiências individuais, para que se sinta confortável para ser quem quiser dentro do ambiente de trabalho. Ao priorizarmos a diversidade, contribuímos para o desenvolvimento social e econômico do país, além de melhorarmos a qualidade de vida de nossos colaboradores e de todos que servimos”, afirmou Lilian Rauld, gerente de Sustentabilidade e ESG da Sodexo Brasil.
Brasil pode se tornar hub global de descarbonização
Mesmo com o foco além das discussões ambientais, essa questão não foi deixada de lado pelos participantes. Uma das empresas mais ativas no encontro ao tratar de assuntos relacionados ao meio ambiente foi a PwC Brasil, com a presença de Daniel Martins, sócio da consultoria e Líder da Indústria de Energia. Ele acredita no potencial do mercado brasileiro em se tornar um hub global de descarbonização, mas destaca que ainda faltam investimentos em inovação.
“Precisamos de uma precificação de carbono para garantir maior liquidez, conforme falado na última COP. Ter mercados de carbono regionais é um avanço incrível, mas muito da solução vai passar por inovação. Precisamos investir nisso para conciliar desenvolvimento econômico com redução de emissões”, disse Martins.
O executivo comemora que, apesar de o Brasil ter muitos desafios em relação a desmatamento e uso do solo, em termos energéticos o país já tem cerca de 85% de sua matriz vindo de fontes limpas. “Esse avanço na geração de energia é uma vantagem comparativa que já alcançamos e precisa ser explorada. Temos agora que relacionar isso com competitividade para aço verde, biocombustível e alumínio de baixa emissão, por exemplo”, afirmou.
Andréia Alvarez, presidente do Conselho do Instituto Ethos, destacou ainda que há uma necessidade de se unir todas essas pautas, diferentemente do que é padrão em discussões internacionais. “Temos que integrar temas de clima, biodiversidade e natureza em um só. Nas conferências da ONU são temas separados e existe uma convergência entre essas pautas. E entrelaçado em tudo isso devemos colocar a discussão sobre a justiça social, onde sejamos capazes de fazer a transformação que resolva esses temas e não os agrave”, disse.