O Genius Act, recém-aprovado nos Estados Unidos, pode ser o divisor de águas para que as stablecoins finalmente conquistem um espaço relevante – e legítimo – dentro do sistema financeiro tradicional. Essa nova regulamentação estabelece regras claras para a emissão de stablecoins atreladas ao dólar, exigindo auditorias independentes, garantias (“bond”) e a supervisão direta do país emissor da moeda mais importante do mundo.
Para o mercado, isso significa estabilidade e confiança. Pela primeira vez, há um marco legal robusto que permite que bancos, fintechs e instituições financeiras olhem para as stablecoins com seriedade. Ao eliminar a percepção de “terra sem lei” que ainda pairava sobre o setor, o Genius Act abre caminho para novos modelos de negócio – alguns que até pouco tempo eram impensáveis.
Um exemplo claro é o impacto que isso pode ter nas contas globais oferecidas por bancos no Brasil. Hoje, essas contas são basicamente registros internos em banco de dados, simulando acesso a moedas estrangeiras. Com a nova regulamentação, é possível imaginar um cenário em que essas contas globais sejam substituídas por dólares digitais registrados e movimentados diretamente em blockchain, com liquidez instantânea e transparência auditável.
O primeiro passo já foi dado: existe agora uma norma, definida pelo próprio país emissor do dólar, que traz segurança jurídica e estabilidade. Mas, para essa visão se concretizar plenamente, falta o segundo passo: ter uma blockchain que ofereça privacidade transacional – algo essencial para qualquer sistema financeiro que lide com grandes volumes e dados sensíveis. Hoje, a única solução madura nesse sentido é o USDT rodando na blockchain Liquid, que já incorpora camadas de privacidade e a solidez de uma rede consolidada.
Minha previsão é clara: nos próximos seis a doze meses, veremos fintechs adotando stablecoins para substituir contas globais, com operações rodando sobre a Liquid. Isso trará mais velocidade, menos custos e uma integração inédita entre o mundo cripto e o sistema bancário tradicional.
No Brasil, estamos atentos e preparados. Na SmartPay e com o app Truther, seguimos desenvolvendo soluções que unem o melhor da inovação em blockchain com a realidade do sistema financeiro, sempre com foco em utilidade real, segurança e inclusão. O Genius Act não é apenas uma vitória para as stablecoins – é um convite para reinventar o que entendemos por dinheiro digital.
*Rocelo Lopes é CEO da SmartPay e criador do app Truther