EXCLUSIVO: “Teor político em tarifaço dos EUA é cortina de fumaça”, diz Michel Temer

Para o ex-presidente, Donald Trump está mais preocupado com o avanço dos BRICs do que com a suposta anistia a Bolsonaro. Para ele, governo brasileiro fez bravata no início das tensões com o governo americano e deve continuar a busca por diálogo para solucionar impasse

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Imagens: Claudio Gatti

Ex-presidente da República Michel Temer em seu escritório no bairro do Itaim Bibi, em São Paulo

Ex-presidente da República Michel Temer em seu escritório no bairro do Itaim Bibi, em São Paulo

O escritório do ex-presidente da República Michel Temer, no bairro do Itaim Bibi, em São Paulo, estava movimentado na tarde de terça-feira (4). Prefeitos, vereadores, lideranças políticas e empresários se revezavam à espera de uma audiência com o homem que governou o Brasil por dois anos e meio (maio de 2016 a dezembro de 2018), foi vice-presidente e deputado federal. A relevância de conversas e conselhos com Temer está ancorada em décadas de vida pública, que lhe renderam uma bagagem política e uma habilidade na solução de crises reconhecidas por aliados e adversários. Não à toa, a palavra “diálogo” foi a mais pronunciada por ele durante a entrevista exclusiva ao BRAZIL ECONOMY, entre uma agenda e outra.

Temer defende a aproximação do governo brasileiro com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que aumentou as tarifas sobre produtos nacionais, o que tem afetado a economia e pressionado o Palácio do Planalto a reverter a situação. Ao mesmo tempo em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva dizia que ligaria para Trump apenas para convidá-lo para a COP30 (30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), que ocorrerá no Pará, em novembro, e não para discutir tarifas, Temer defendia a conversa como saída para o imbróglio.

Na entrevista, o ex-presidente analisa as ações de Trump, as reações de Lula, os efeitos políticos e econômicos do tarifaço e fala sobre o movimento para reunir governadores em prol de uma candidatura alternativa ao Planalto em 2026 — uma opção à polarização entre bolsonarismo e lulopetismo.

Confira os principais trechos:

BRAZIL ECONOMY – Qual a avaliação do sr. diante do tarifaço imposto às exportações brasileiras pelo presidente dos EUA, Donald Trump?

MICHEL TEMER – Lamentei muitíssimo esse tarifaço. Assim como lamentei a cassação dos vistos de ministros do Supremo Tribunal Federal e de outras figuras. Houve muita falta de diálogo, sabe? Hoje, os países têm que dialogar muito entre si — não apenas os chefes de Estado e de governo, mas também as próprias instituições, os poderes legislativos… Afinal, isso faz parte do chamado multilateralismo. No passado, 70, 80 anos atrás, quando havia alianças entre partidos ou diálogo entre Estados, a preocupação era político-institucional. Hoje, há também uma preocupação comercial.

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Nosso maior parceiro comercial é a China; o segundo, os Estados Unidos. Os países árabes compram de 45% a 50% da nossa carne de frango. Temos convênios tecnológicos extraordinários com Israel. Tudo isso revela que a multilateralidade é fundamental. Mas o multilateralismo se alimenta do diálogo. Por isso, a falta de diálogo causa prejuízos.

No caso presente, o que faltou foi um diálogo inaugural entre Estados Unidos e Brasil. Porque a relação, convenhamos, não é entre Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump. É entre a República Federativa do Brasil e os Estados Unidos da América. Isso deveria ser compreendido, para que cada um cumprisse suas funções de natureza constitucional. Portanto, é lamentável. Mas não se deve desistir.

Eles eliminaram a taxação de 50% para muitos produtos. A negociação foi aberta, o que, convenhamos, não foi fruto de relações institucionais. É verdade que o (vice-presidente) Geraldo Alckmin fez muito esforço nesse sentido, mas o avanço se deu, em grande parte, pelas relações comerciais entre empresas brasileiras e americanas — um diálogo também oportuno e sempre produtivo. Quando se inicia um diálogo, seja de quem for, as coisas se resolvem. Estamos num momento em que o diálogo começa a ser retomado, mas deveria ter ocorrido desde o início dos governos. Ainda acredito que essa questão da tarifa será ajustada de forma adequada.

Envolver a política como argumento para uma decisão econômica foi um atentado à soberania do Brasil?
Não vale a pena falar nisso. Sabe por quê? Dizer que o Brasil é soberano é fazer cocada com coco do coqueiro. Nós todos sabemos que cada país é soberano. Não há dúvida. O problema é o contato das duas soberanias, a soberania brasileira e a soberania americana. Como é que elas fazem contato? Fazem contato de natureza política, institucional e comercial. Agora, com toda franqueza, há muita bravata. Dizem que vão retalhar etc. Não dá certo. E vamos ter os pés no chão, convenhamos. O Brasil é um país poderosíssimo, mas sem dúvida o Estados Unidos é mais poderoso que o Brasil economicamente, comercialmente. Não vale a pena brigar com os Estados Unidos. Tem que dialogar.

Sobre essa questão política, que coloca a anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro como condição para rever as tarifas, é cortina de fumaça? Alguns analistas veem a ação dos BRICS, que discutem uma criação de moeda própria para suas transações comerciais, o que enfraquecer o dólar, estaria por trás do tarifaço dos EUA.
Estou de acordo com essa cortina de fumaça. Que nem existe muita fumaça. É um pretexto que me parece muito claro. Porque, na verdade, é claro que o presidente Trump tem suas simpatias e preferências pelo ex-presidente Bolsonaro, mas o que está por trás disso são interesses econômicos. A questão do BRICS, em que se propôs a usar um neologismo, a desdolarização, a eliminação do dólar, que eu soube, pelo menos, não teve apoio nem da China, nem da Rússia, nem da África do Sul. Mas acho que serviu como pretexto para dizer: “Olha, não mexa conosco.” Acho que foi, na verdade, um pretexto.

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Como avaliou a reação do governo Lula diante do tarifaço?
A primeira reação, com toda a delicadeza que eu digo isso, foi de muita bravata. “Ninguém mexe aqui”, disseram. Não vale a pena nem se usar isso com critérios eleitoreiros. O que está em pauta agora não é eleição e nem o aspecto eleitoral. O que está em pauta é o Brasil. É assim que se cumpre a missão constitucional da Presidência da República e de outras tantas instituições. Volto a dizer: lançar palavras agressivas em relação a esse episódio, não vale a pena. Não interessa do país que venham ataques, você tem que estabelecer meios e métodos para dialogar.

Aplicar então a lei da reciprocidade seria algo muito ruim?
Eu não acho bom. Você viu que no despacho do presidente Trump? Ele diz o seguinte: “Olha aqui, são 50% e, se houver retaliação tarifária, a cada aumento que vai acrescentar mais 40%”. Então, você imagina uma tarifa de 50%, que pode passar para 90%? Acho que não vale a pena tomar esse caminho. Tem que tomar o caminho do diálogo até as últimas consequências. E o diálogo resolve.

O recuo dos EUA, de tirar alguns produtos dessa tarifa de 50%, foi uma sinalização ao diálogo?
Ajuda. É um começo de, digamos, solução. Tem que ser incentivado esse diálogo. Agora, parece que o próprio ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores) esteve com Marco Rubio (secretário de Estado dos EUA), começando uma abertura de diálogo. Sendo mais uma vez otimista, eu acho que vai resolver.

Já é possível mensurar as consequências para a economia brasileira diante do que está exposto atualmente?
Vou dizer uma experiência prática? Na sexta-feira passada, eu fiz uma palestra em Balneário do Camboriú (SC) para 5.000 empresários brasileiros que foram chamados por uma grande reunião, para ouvir as mais variadas autoridades. E depois, fora da parte das conversas no corredor, muitos se reuniram em salas comigo para conversar e eu fiquei preocupado com uma coisa: as pessoas estão um pouco desesperançadas. Começaram a dizer que vão sair do País. Isso é preocupante. É claro que eu desestimulei. O Brasil ainda é um país do futuro. Aqui se pode produzir muito. É preciso só ajustar as coisas. É preciso tranquilizar um pouco o País, pacificar um pouco o País. O País não pode ficar nessa radicalização política permanente. Às vezes até no plano pessoal. Você verifica que hoje há brasileiros contra brasileiros, instituições contra instituições. Não vale a pena. Pode ter divergência de ideias, divergência de conceitos, divergência de programas, que até é útil. Isso é fruto da democracia. Mas não pode ter crueldade, radicalização de posições, de maneira a odiar o outro, de maneira a provocar instituições. Isso não é bom para o País.

A temperatura política alta, de fato, influencia no humor do setor produtivo e nas questões econômicas…
Sim, porque a temperatura política alta queima. Ela fere, ela machuca. A temperatura tem de estar num patamar normal. E quanto mais esfriada, tanto melhor, porque pacifica as relações sociais.

Como o sr. observa uma possível aproximação do Brasil com a China incentivada ainda mais pelo tarifaço?
Acabei de falar do multilateralismo. O Brasil tem que estar próximo da China e dos Estados Unidos. Não próximo ideologicamente, nem dos Estados Unidos, nem da China. Nós temos a nossa ideologia própria, vamos dizer assim. Mas, comercialmente, ele tem que se aproximar, estar próximo dos dois países, como os demais países do mundo. O unilateralismo ou o bilateralismo não dá certo. Só dá certo o multilateralismo. É isso que se prega no país e é fruto da nossa diplomacia tradicional. Não pode preferir um país tal, um presidente tal… As relações são institucionais.

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No início do ano o sr. sugeriu a união de alguns governadores para alçar um nome alternativo à polarização entre Bolsonaro e Lula. Esse tarifaço atrapalha esse projeto?
Tudo isso derivou do seguinte: os governadores, muito delicadamente, vieram me visitar ou falar comigo por telefone. Foram cinco governadores que já haviam falado comigo e depois um sexto, que é o governador Eduardo Riedel, do Mato Grosso do Sul. Ele estava muito entusiasmado com essa tese. Eu disse que eles possuem, mais ou menos, as mesmas posições. E se tem as mesmas posições, o Brasil está precisando de um projeto. Eu até tomei a liberdade de dizer que o meu governo foi, talvez, mais do que razoável, porque eu tinha um projeto que era chamado ‘Ponte para o Futuro’. Tudo que nós conseguimos – redução de inflação, redução dos juros, reforma trabalhista, previdência social, recuperação das estatais, a recuperação do PIB – estava nesse projeto. Eles deveriam se reunir, lançar um programa para o País, um projeto para o País e depois escolher dentre eles quem representaria esse projeto. Porque o que haveria não era nome contra nome numa disputa, mas programa contra programa. Você imaginou se nós tivéssemos dois ou três programas em disputa? O eleitor vê o programa e avalia se está de acordo com esse programa. Vai perguntar “quem é que representa esse programa?”. Percebe que cresce a o debate político no País? Hoje a disputa é de A contra B. Não pode ser assim, não. É projeto contra projeto. Por isso que eu propus isso. Se os governadores vão levar adiante, eu não sei. Mas acho que individualmente, pelo menos, se sensibilizaram.

Ainda é viável, mesmo diante do momento que estamos vivendo e há um ano da eleição?
Acho que dá, exatamente porque nós estamos distantes ainda das eleições. Não daria no lá na frente, porque lá na frente é capaz de cada um ser candidato por conta própria. O Brasil vive muito hoje a custa dos governadores, porque a safra de governadores é formidável. Então, eles agem muito adequadamente nos seus estados e produzem uma boa imagem do País. Agora, produzindo todos uma boa imagem do País, não dá para pensar que todos podem vir a ser candidatos à Presidência, porque é claro que divide os votos e cria problema na própria eleição. Facilita só um dos lados.

O sr. roda o Brasil, mas está em São Paulo, mais próximo do governador Tarcísio. Ele seria um nome?
Sem dúvida alguma. O Tarcísio é um nome muito adequado. Eu tive a honra de tê-lo como no meu governo, ajudou muito (foi secretário da Coordenação de Projetos da Secretaria Especial do Programa de Parceria de Investimentos (PPI), responsável pelo programa de privatizações, concessões e desestatizações).Aqui em São Paulo, ele vai muito bem. Agora, é preciso politicamente ter uma estrutura que permita a eleição.

Na ausência de Bolsonaro nas urnas por estar inelegível, Tarcísio seria o nome mais viável para ocupar esse espaço?
É difícil dizer. É preciso dialogar com os demais governadores, encontrar um meio-termo. E esse meio-termo viria muito por meio de um projeto para o País.

Há chance de surgir um outsider dessa altura do campeonato ou está fora de cogitação?
Acho difícil. E também não acho conveniente. Acho que é melhor pegar quem tem uma certa experiência política ou governativa.

O tarifaço pode rachar o bolsonarismo, já que há correntes que defendem a ação dos EUA e outras mais ponderadas?
Confesso que não saberia dizer. Mas os bolsonaristas para valer são muito unidos. O Brasil viveu muito, num dado momento da história, o ‘nós contra eles’. O ‘nós’ era organizado, tinha militância. De repente, o ‘eles’ se organizou com militância. E daí divide os brasileiros. Não vale a pena. Por isso que eu sempre falo em programa, em projeto, porque o projeto pode unir pessoas. Isso que é importante para o País.

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Ainda sobre o que está em discussão no campo político, o sr. acredita que houve uma trama golpista como tem apresentado a denúncia contra Bolsonaro?
Não saberia dizer. Depende dos autos. Porque ele está agora detido domiciliarmente. Depende do exame dos autos. Os autos é que vão dizer. As pessoas avaliam que abriu-se o inquérito contra fulano, pronto, já está pré-condenado. Não é assim. O inquérito vem de inquirir. Você tem que inquirir, investigar, portanto. Quando você termina a investigação, manda para o Ministério Público. O Ministério Público examina para ver se denuncia ou não. E quando denuncia, o Judiciário diz se recebe ou não recebe a denúncia. Então, o processo penal se formata em definitivo quando a o Judiciário acolhe a denúncia. Daí vem a prova, a contraprova, tem um bom caminho ainda pela frente. É o que está acontecendo no presente momento. Isso vai longe ainda.

Acredita que o julgamento não será neste ano ainda?
Não sei dizer.

O STF está um pouco acelerado, não?
As notícias dizem que é para julgar neste ano, mas o que não significa que não haverá prova e contraprova. Isso é fruto do processo penal democrático.

Como avalia o atual momento econômico do Brasil, com juros e inflação elevados
Acho péssimo. Porque a inflação, diferentemente do que se pensa, não afeta o rico. O rico, se o arroz passou de R$ 10 para R$ 20, continua comprando. A inflação atinge o pobre. Por isso que no meu governo eu fiz o possível… Peguei uma inflação de dois dígitos, entreguei com 2,75%. Porque a inflação, volto a dizer, ela prejudica precisamente os mais vulneráveis. Então é preciso ter uma política econômica que contenha os gastos públicos para poder reduzir os juros e reduzir a inflação.

Então a política da do Banco Central com a Selic a 15% tem que arrefecer?
Acho que não dá, por enquanto. Eles mantêm os juros altos para impedir um volume extraordinário da inflação. Claro, porque, na verdade, os juros estão altos e a inflação também prossegue. Tem alguma coisa errada aí. Eu não sei detectar exatamente. Mas a ideia de juro alto é para combater a inflação e foi exata e precisamente o que ocorreu no meu governo.

As contas públicas um pouco descontroladas não ajuda nessa engrenagem desajustada?
Ajuda, especialmente os gastos públicos. Por isso que a ideia do teto para os gastos públicos é uma coisa importante.

A responsabilidade fiscal parece estar longe de ser o objetivo do governo, quem mantém os gastos ao mesmo tempo em que trabalha para aumentar a receita. Essa conta não está fechando…
É porque aumentar receita significa aumentar tributos. Sabe que essa história da carga tributária é sempre muito objetada. Há muita reclamação em relação a isso. Nós temos uma carga tributária razoavelmente alta. Toda vez que aumentar a carga tributária, faça um pequeno corte. Por que a volta do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) foi contestada? Porque anunciou-se que seria para aumentar a arrecadação e não é. O Imposto de Operações Financeiras é regulatório, é para regular as relações cambiais etc. Então, toda vez que você quer aumentar tributo, você tem um protesto no País. O ideal é manter, ou melhor, segurar os gastos curtos. Esse é o ideal.

A volta do IOF, então, seria uma decisão acertada do governo Lula?
Não. O primeiro equívoco foi produzi-lo sem ter pré-conversado com o Congresso e com a sociedade. Eu digo isso porque eu dou um exemplo. Eu fiz a reforma trabalhista no meu governo. Mexer em direito do trabalho é mexer em vespeiro. Mas o que eu fiz? Levei uns cinco ou seis meses para mandar o projeto para o Congresso. Por quê? Porque nesse ano entretempo pedi ao ministro do Trabalho para percorrer as centrais sindicais, percorrer as federações de indústria, comércio, serviço, para formatar um projeto. Mandei o projeto, foi aprovado, não houve uma greve de trabalhadores do País. Houve diálogo. Com o IOF talvez tenha havido esse equívoco. Essas coisas têm que ser conversadas.

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Como avalia a reforma tributária que vai entrar em vigor?
Precisa ser regulamentada ainda. A regulamentação é que vai revelar se ela é adequada ou não. Porque adequada, liminarmente, é. Porque ela acaba, em princípio, diminuindo a burocracia tributária. No passado, quando eu fazia palestras aqui e no exterior, o que as pessoas mais reclamavam era a questão trabalhista e a burocracia tributária. Eram dois temas. Aliás, eu praticamente comecei a reforma tributária no meu governo, que foram dois anos e meio. Mas a desburocratização tributária é uma coisa interessante para o desenvolvimento do País e naturalmente para os empresários.

Mas não teria de haver junto um corte de gastos?
Sim, sem dúvida alguma.

E onde dá para cortar?
Isso vem, para mim, da reforma administrativa. Não é fácil. A reforma administrativa tem sempre resistência no Congresso, porque o funcionalismo público, especialmente o mais elevado, legitimamente tem muita influência no Congresso Nacional. Quando fui para lá, com uma relativa grande experiência que eu tinha do Legislativo, percebi que se eu quisesse fazer a reforma administrativa tinha que fazê-la silenciosamente. E fiz. Pouco se sabe, mas o quando eu cheguei no governo, tinham 60.067 cargos desocupados. Quando eles estão desocupados, você pode eliminá-los por decreto. Eu eliminei por decreto. No meu caso, o Paulo Caffarelli era presidente do Banco do Brasil. Ele me disse que em cidades pequenas aqui do Brasil, muitas vezes existem duas agências e poderíamos eliminar uma. E seria aberto um plano de demissão voluntária, para reduzir sensivelmente o número de servidores do Banco do Brasil. Essa coisa mais silenciosa da reforma administrativa, que significa corte de gastos, teria que ser efetivada também no presente momento.

Atualmente, discute-se uma nova reforma da previdência, pouco tempo depois das mudanças efetivadas durante o governo do sr. Previdência é um buraco sem fim?
É preciso discutir novamente, eu reconheço. Porque em face da longevidade, a reforma da previdência vai estourando de tempos e tempos. É indispensável revisá-la. Naquele momento, fizemos a reforma possível. Mais adiante, em face de demonstração dos problemas que os gastos previdenciários acabam aparecendo, naturalmente as pessoas se convencem de que é preciso uma nova reforma.

O Brasil está prestes a receber a COP30, com uma série de polêmicas e uma série de desafios. O senhor acredita que o Brasil vai sair menor ou maior dessa COP?
Maior. A realização no Pará, simbolicamente, é muito importante que seja feita na Amazônia. O governador Helder Barbalho tem estado aqui comigo, tem feito um trabalho excepcional para também acolher aqueles que vão para COP. Está fazendo obras e mais obras para que cause uma boa impressão. Então, acho que será um exemplo para o mundo essa reunião ambiental na Amazônia.

O Brasil poderia ter mais protagonismo nessa transição energética que tanto se fala globalmente?
Eu acho que do tocante ao setor energético, o Brasil até vai bem, porque nós temos a tal da energia limpa. Energia das mais variadas, a fotovoltaica, eólica, biomassa… O Brasil tem sido um exemplo para isso. Começou lá atrás e continua, sou obrigado a reconhecer. É muito útil para o País e, portanto, também está muito ligado ao meio ambiente. Eu sempre digo que é preciso retirar a ideologia relativa ao meio ambiente. É interessante aqui no Brasil, sempre se fala que a chamada esquerda é pela preservação do meio ambiente. E os agricultores, o agronegócio, que poderia ser chamado de direita, é pela destruição do meio ambiente. Não é verdade. No meu governo reuniram-se permanentemente o Blairo Maggi, que foi ministro da Agricultura, e o José Sarney Filho, que era ministro do Meio Ambiente, para ver se tinha faísca. Porque todos tinham que trabalhar por essa área. O pessoal do agronegócio, da agricultura, também quer preservar o meio ambiente. Todos os brasileiros têm que trabalhar pela preservação do meio ambiente. Ampliei a Chapada dos Veadeiros de 60 mil hectares para 240 mil hectares protegidos. Nós fizemos a maior reserva marinha que o mundo conhece, equivale ao território da Alemanha e da França juntos. A reserva marinha é importante porque as algas produzem oxigênio e não consomem.

Falando em esquerda e direita, o sr. se considera um centrista?
Eu não tenho nenhum apreço pelos rótulos. O que interessa para o cidadão é o resultado. Dou sempre esse exemplo trivial. Vá ao sujeito que está passando fome, pergunta o que ele quer. Ele quer comer. Vá ao desempregado. Ele quer emprego. Vá ao empresário. Ele quer financiamento, menos tributo. Vale o resultado. Agora, se o sujeito quer se rotular de esquerda, de direita, de centro, é um problema dele. Eu não tenho nenhum apreço por esses rótulos. Se quiser rotular, eu poderia ser rotulado de centro, porque eu sou a favor da moderação, do equilíbrio. Eu sou a favor da temperança, a favor do diálogo, a favor da harmonia, a favor da pacificação de todos os setores. Sem embargo de nós termos divergência ideológica, divergência programática, divergência conceitual, que é útil para a democracia. O que não é útil é, digamos, a crueldade nas relações entre brasileiros ou entre instituições. Então, se quiser me rotular, pode me rotular de centro.

A polarização faz mal para o Brasil?
Sem dúvida alguma. Polarização de ideias, não. Essa é útil, porque é fruto da democracia. O que faz mal é radicalização, que é o que ocorre atualmente no Brasil.

Pintando o quadro como um todo, político, econômico… Como o sr. enxerga o País em 2030?
Eu quero enxergar com otimismo. Espero que se resolvam todas essas questões, que a nova eleição produza bons resultados também. Que em 2030 o Brasil continue a desenvolver-se como merece.

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