Com quase 30 anos de carreira nos setores de software e saúde, Solange Plebani passou os últimos oito anos na Holanda, entre a capital Amsterdã e a charmosa Leiden. A segunda maior cidade holandesa é berço do pintor Rembrandt (1606–1669), possui 13 museus, centenas de monumentos e a universidade mais antiga do país, fundada em 1575. Entre os canais pitorescos e ruas encantadoras repletas de jardins — uma das paixões de Solange —, ela agora vai cultivar plantas e flores no Brasil. A executiva acaba de assumir o cargo de CEO da Bionexo, empresa de tecnologia que oferece soluções digitais em nuvem para o setor de saúde. Primeira mulher a comandar a companhia fundada em 2000, ela substitui Rafael Barbosa, que liderou a empresa por sete anos e agora vai para o Conselho. A informação foi obtida com exclusividade pelo BRAZIL ECONOMY.
Com dez malas na bagagem em uma “mudança bem otimizada”, Solange desembarcou em São Paulo na quinta-feira (31 de julho). Serão algumas semanas de transição, com apoio de Barbosa, apesar de a executiva já conhecer bem a Bionexo, da qual fazia parte do Conselho.
“É uma honra e uma oportunidade muito grande liderar uma empresa como a Bionexo, geradora de impacto em um dos maiores desafios da saúde, que é o acesso. A companhia tem papel fundamental em custos e receita nesse sistema”, disse Solange, que traz em sua bagagem profissional a liderança da área global de software de saúde da Philips, com base na Holanda e comando de operações na América Latina e do Norte, Europa, Oriente Médio e Ásia. Inclusive, foi cocriadora da Philips Tasy, solução de gestão hospitalar disseminada mundialmente.
Na Bionexo, a executiva terá a missão de comandar a nova fase da companhia, com avanços nas áreas de ciclo de receita, gestão de clínicas e digitalização de processos críticos do setor.
As plataformas da empresa conectam instituições de saúde (incluindo hospitais, laboratórios e clínicas), operadoras de planos e fornecedores (distribuidoras e fabricantes de insumos médico-hospitalares).
Entre as ferramentas da Bionexo está a gestão de suprimentos hospitalares, um segmento crítico: não pode faltar medicamento, mas também não se pode manter um estoque elevado devido ao custo embutido. Além disso, é necessário gerenciar a prestação de serviços dos fornecedores. O forecast precisa estar bem ajustado.
Outras soluções envolvem o ciclo de receita, que impacta diretamente o faturamento hospitalar. Isso inclui as glosas — recusas, totais ou parciais, de procedimentos e materiais por parte das operadoras de saúde. Aprimorar esse fluxo é uma das prioridades da companhia.
Na parte administrativa, a Bionexo possui uma solução de gestão de clínicas, com transcrição de consultas entre médicos e pacientes, utilizando ambient listening in healthcare. Todas as ferramentas contam com inteligência artificial embarcada, e dezenas de novas soluções serão lançadas ainda neste ano.
O trabalho de Solange neste início de jornada será se aproximar dos clientes para entender melhor as demandas, estreitar laços comerciais e incentivar a cocriação de soluções. “Acredito muito no meu DNA de inovar com o cliente.”
Além disso, buscará novos clientes. “Apenas no produto de gestão de clínicas temos 2.000 clientes, mas existem 200 mil clínicas no Brasil. O mercado é muito grande e sabemos que ainda há baixa automação”, afirmou a executiva, que também terá a missão de desenvolver o portfólio com tecnologias disruptivas.
“Vamos planejar os próximos anos, com crescimento, entrega de inovação para os clientes e geração de valor para nossa base instalada. É um desafio muito grande entender o seu portfólio e o que muda nele com a IA”, salientou Solange.
Recentemente, a Bionexo contratou financiamento de R$ 23,2 milhões junto ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para o desenvolvimento de três soluções que visam fortalecer o portfólio de plataformas digitais oferecidas pela empresa ao setor de saúde. Os projetos incluem a implementação de IA, infraestrutura de software integrativa e automação de processos com tecnologias avançadas de robotização.
Balanço
Com dez anos de Bionexo — sete deles como CEO —, Rafael Barbosa fez um balanço de sua gestão até a passagem do bastão para Solange Plebani.
O executivo assumiu a empresa em 2018, quando a receita era de R$ 77 milhões e o GMV (Gross Merchandise Volume, ou volume bruto de mercadorias) era de R$ 6 bilhões. Hoje, o faturamento chega a R$ 215 milhões, e as transações de insumos entre clientes (9.000 empresas) e fornecedores (37 mil) somam R$ 24 bilhões.
Nesse período, foram realizadas nove aquisições, sendo a mais recente a da Tradimus S.A., cuja titularidade foi transferida para a Bionexo em 6 de março deste ano. Com essa incorporação, a companhia busca escalar sua vertical de soluções para o ciclo de receita, atuando na redução de glosas, no tempo de recebimento e, consequentemente, no aumento do faturamento hospitalar.
Com a evolução dos últimos anos, a Bionexo expandiu o portfólio e tornou os negócios mais robustos até atingir R$ 1 bilhão de valuation. Além do Brasil, a companhia opera na Argentina, Colômbia, Equador e México.
“Nossa principal entrega nesse período foi colocar a companhia em posição de crescimento. Fizemos investimentos importantes e realizamos um trabalho de governança e estruturação”, afirmou Barbosa.
“Temos uma combinação ideal entre o perfil de uma startup e a segurança de uma empresa com credibilidade e balanço positivo. Uma fortaleza institucional para sustentar essa nova fase”, completou o executivo. O lucro bruto de 2024 foi de R$ 125,4 milhões, um aumento de 12,1% em relação a 2023.
A Bionexo é investida pela Prisma Bazar (que detém 23,31% de participação na empresa), Apus Participações (12,29%), Orjen/Temasek (21,81%) e Bain Capital (42,59%).