Enquanto parte da indústria brasileira ainda busca compreender o conceito de ESG (sigla para práticas ambientais, sociais e de governança), empresas no Polo Industrial de Manaus (PIM) já colhem resultados concretos de iniciativas sustentáveis. Companhias como Impram e Tutiplast vêm incorporando ações ambientais e sociais às suas estratégias de negócio, transformando-as em diferencial competitivo e exemplo para o setor.
O movimento ganhou força com a criação, em março deste ano, do Programa Zona Franca + ESG, uma iniciativa do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (CIEAM) em parceria com a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa). A meta é reunir, até março de 2026, ao menos 50 empresas com planos de ação, relatórios de emissões e metas de impacto socioambiental formalmente integrados ao programa.
Segundo o presidente do CIEAM, Lúcio Flávio Guimarães, muitas indústrias da região já adotavam práticas sustentáveis há décadas, ainda que de forma isolada. “Agora, estamos estruturando, comunicando e conectando essas ações a uma agenda internacional de sustentabilidade, inovação e impacto social”, afirma.
Hoje, o PIM reúne cerca de 600 empresas, muitas delas multinacionais, que já operam com padrões ambientais rigorosos, certificações ISO e eficiência energética. Para ampliar esse alcance, o CIEAM criou uma Comissão de ESG, responsável por mapear boas práticas, oferecer mentorias e apoiar companhias que ainda não possuem estrutura dedicada à pauta.
A Impram, maior parque gráfico do Norte do Brasil, utiliza insumos de origem vegetal, como colas feitas de fécula de mandioca e milho, para a produção de embalagens e micro-ondulados. Também adota tintas à base de óleo vegetal, vernizes à base de água e papéis com certificação FSC. Todos os insumos são analisados internamente por uma engenheira química, e os resíduos são reciclados com rastreabilidade pela Ambipar.
A empresa foi a primeira indústria gráfica do Norte e Nordeste a conquistar a certificação ISO 14001, em 2004, quando chegou a Manaus para atender clientes como Nokia, Gradiente e Siemens. Em 2024, aderiu ao Pacto Global da ONU, elaborou sua matriz de materialidade com participação de stakeholders e concluiu os inventários de gases de efeito estufa (GEE) dos escopos 1 e 2, com o escopo 3 em andamento.
“Para nós, sustentabilidade não é marketing, é prática. Usar cola de mandioca é seguro, limpo e parte da nossa identidade amazônica”, afirma Régia Moreira Leite, diretora da empresa.
A Tutiplast, com 30 anos de atuação no setor termoplástico, atende segmentos como linha branca e automotivo e iniciou sua jornada de ESG em 2006, com certificações de qualidade. O avanço mais significativo veio em 2016, com o programa “Plástico que Inclui”, que reduziu o consumo de energia, aumentou a produtividade e promoveu inclusão social.
Desde 2022, a empresa investe no desenvolvimento de compósitos e bioplásticos a partir de fibras vegetais amazônicas, como curauá e ouriço da castanha-do-Brasil, substituindo matérias-primas fósseis. Além disso, utiliza plataformas digitais para monitorar indicadores ambientais, exige compromissos ESG de fornecedores e promove educação ambiental em escolas da periferia de Manaus por meio da Academia Ambiental, em parceria com o Instituto Soka Amazônia. Já com o Instituto Mawé, conecta ciência e saberes tradicionais para criar novos materiais.
A empresa possui certificações como ISO 14001:2015 e BV ESG 360°, aderiu às metas SBTi, está migrando para energia 100% renovável e já estruturou inventários completos de GEE (Escopos 1, 2 e 3). Atualmente, processa 1.100 toneladas/mês de resinas, com a meta de ter 5% de biomateriais até 2030. “Acreditamos que o futuro da indústria passa pela bioeconomia, e a Amazônia tem potencial para liderar”, afirma Mariana Reis Barrella, CEO da Tutiplast.
Para o CIEAM, os exemplos da Impram e da Tutiplast demonstram que o ESG praticado no Amazonas é adaptado à realidade local, integrando preservação ambiental, inovação tecnológica e valorização dos saberes regionais. “O Polo Industrial de Manaus preserva 97% da cobertura florestal do Amazonas. Nosso desafio é mostrar ao mundo que também inovamos com sustentabilidade e inteligência climática”, diz Guimarães.
Com a COP30 no horizonte, o Amazonas busca consolidar uma narrativa industrial baseada na floresta em pé, na economia circular e na governança com propósito, um modelo que pretende ir além de tendências e se firmar como referência global.