Até hoje, o crescimento da Ericsson a partir das soluções 5G esteve ancorado nos investimentos das operadoras. Se as empresas de telefonia investem, a companhia sueca, que fornece equipamentos e infraestrutura para a quinta geração de internet, vende mais e cresce. Mas um movimento global da Ericsson altera esse cenário. A Aduna, joint-venture da Ericsson com 12 operadoras espalhadas pelo mundo, promete avanços significativos em APIs de rede (Interfaces de Programação de Aplicações), que permitem que diferentes aplicativos e serviços se comuniquem e compartilhem dados e funcionalidades. Nas próximas semanas, Vivo, Claro e TIM devem assinar contrato com a Aduna para gerar novos negócios entre si e garantir receita adicional para os caixas da Ericsson e das maiores empresas de telecomunicações do Brasil.
“Muda o jogo”, afirmou com exclusividade ao BRAZIL ECONOMY Rodrigo Dienstmann, presidente da Ericsson para o Cone Sul da América Latina. O executivo detalhou como se dará essa relação comercial e de parceria.
A Aduna foi oficializada recentemente, mas já está em operação desde o fim do ano passado. A Ericsson detém 50% do controle da companhia, enquanto a outra metade é composta por 12 provedores de conectividade.
São eles: AT&T, Bharti Airtel, Deutsche Telekom, KDDI, Orange, Reliance Jio, Singtel, Telefónica, Telstra, T-Mobile, Verizon e Vodafone.
A expectativa é que a adoção global das APIs de rede por desenvolvedores seja renovada e que mais operadoras participem da iniciativa, que funcionará como um marketplace de APIs de rede.
Além das operadoras, a Aduna tem parcerias com integradores, fornecedores de software e plataformas de Communication Platform as a Service (CPaaS), como Bouygues Telecom, Free, Google Cloud, Vonage, Sinch, Infobip, Enstream, Bridge Alliance, Syniverse, JT Global, Microsoft, Wipro e Tech Mahindra.
E onde entram Vivo, Claro e TIM nessa equação? As operadoras vão se conectar aos serviços da Aduna e vender outros serviços para terceiros. Para Rodrigo Dienstmann, essa sintonização do 5G acarretará em um ganha-ganha.
O 4G criou um modelo de negócio chamado OTT (Over-the-Top), de entrega de conteúdo de vídeo, áudio ou outros tipos de mídia diretamente pela internet, o que permitiu o desenvolvimento de bancos digitais, serviços de streaming e redes sociais. Um conceito em que o operador de telefonia e internet investe, mas quem monetiza de forma mais rentável são os aplicativos.

“A Aduna muda completamente o jogo dos negócios. O 4G demandou bastante investimento das operadoras, mas elas não monetizaram, pois as assinaturas de internet, tanto para pessoas físicas quanto jurídicas, estão mais baratas do que há 5 ou 10 anos. O preço está em queda. Quando se cria esse aspecto de plataforma, com 5G, as APIs são cobradas e as operadoras conseguem obter receitas incrementais”, explicou o executivo. “Há um retorno maior sobre o investimento.”
Na avaliação do presidente da Ericsson, a integração entre 5G, Cloud e Inteligência Artificial ainda é pouco explorada pelas operadoras. “Está evoluindo, mas não é pervasiva. Nem todas as operadoras entenderam o nível que podem alcançar, mas todas já foram expostas ao conceito”, enfatizou o executivo, que acaba de completar quatro anos no comando da Ericsson no Cone Sul da América Latina.
Vivo, Claro e TIM já lançaram APIs de rede para alguns casos de uso. É o futuro do 5G, segundo Dienstmann, mas pode ser potencializado pela relação com a Aduna. “O Brasil está muito maduro no entendimento e no esforço de integração com essas novas realidades e tecnologias. Precisam explorar suas capacidades”, frisou o executivo.
Um aplicativo de games mobile, que roda na nuvem, pode precisar de uma qualidade de serviço específica para funcionar sem latência. A API de rede é adquirida pelo usuário no momento do jogo. “E ele não precisa saber de quem é o serviço. A prestadora será a Aduna, que por sua vez vai remunerar a operadora. É um novo modelo de negócio.”
Segundo Dienstmann, os grandes bancos já são consumidores de APIs antifraude. “Há consumo de alguns milhões de chamadas mensais de APIs para antifraudes bancárias e de crédito… Isso já está acontecendo para fraudes; em seguida acontecerá para novos serviços”, disse.
Faturamento bilionário
As projeções de quanto essas novas oportunidades podem gerar de negócio não são divulgadas. Mas a expectativa é que movimentem significativamente o ponteiro das companhias que já faturam bilhões.
No caso da Ericsson, a receita global em 2024 foi de US$ 25,9 bilhões. Já as três maiores operadoras que atuam no Brasil faturaram juntas R$ 130,1 bilhões no ano passado, sendo R$ 55,8 bilhões da Vivo, R$ 48,9 bilhões da Claro e R$ 25,4 bilhões da TIM.
O trio é responsável por 35,7% dos 52,9 milhões de acessos de banda larga do País, enquanto no segmento de telefonia móvel (266,2 milhões de acessos), concentra 95,1% de participação.
A rede 5G representa 18,4% no Brasil, enquanto o 4G ainda continua sendo a tecnologia mais utilizada, com 68,3%, segundo dados da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). O restante se divide entre 2G e 3G. Isso mostra o potencial de avanço que a quinta geração de internet ainda possui no mercado brasileiro.
Investimentos da Ericsson
A Aduna vai ampliar a atuação da Ericsson no Brasil, onde mantém operações há 100 anos. No início do bicentenário da empresa, já está em preparação um novo pacote de investimentos para o País, considerado um dos mais estratégicos para a companhia sueca.
Rodrigo Dienstmann embarcou para a os Estados Unidos para alinhar os próximos passos e definir os aportes. O último ciclo de investimentos, de R$ 1 bilhão, foi anunciado em 2020 e se encerra agora em 2025. O montante foi destinado a pesquisa, desenvolvimento e fabricação de equipamentos 5G no Brasil.
No País, a Ericsson montou a primeira linha de produção de rádios 5G para atender à demanda nacional e de toda a América Latina. Com isso, o Brasil passou a ser o primeiro país do Hemisfério Sul a produzir 5G.
Com o 5G – e agora com a Aduna –, a Ericsson reforça o que prega em seu slogan: a tecnologia da comunicação pode remodelar o mundo para melhor.