William Butler Yeats (1865-1939) viveu em um tempo em que a tecnologia computacional dava seus primeiros passos e o atual mundo hiperconectado em que vivemos estava longe de ser realidade. Mas o poeta, dramaturgo e místico irlandês, que atuou ativamente no Renascimento Literário Irlandês, sabia da importância de uma boa comunicação. “Pense como um sábio, mas comunique-se na linguagem do povo”, disse ele em uma de suas frases mais célebres. Comunicar-se bem, da maneira certa e no momento adequado, é um diferencial competitivo no mundo dos negócios.
Ao usar a sabedoria da Inteligência Artificial para transformar a forma como as pessoas interagem por meio da voz, a ElevenLabs foi criada em 2023, nos Estados Unidos, está em plena expansão e instala uma operação no Brasil para afinar sotaques e ajudar empresas locais a se comunicarem melhor com seus clientes.
Para liderar os avanços no território brasileiro, a companhia escalou Brunno Santos como general manager no País. Com passagens por Cisco, Dell, Facebook (Meta) e Monday.com, o executivo tem a missão de impulsionar a adoção da IA de voz em setores como educação, saúde, financeiro, varejo e acessibilidade.
“Nossa percepção demonstra que há apetite no mercado para adotar Inteligência Artificial por voz. O Brasil já adotou IA por texto, com muitas empresas fazendo atendimento ao cliente por WhatsApp, através de chatbots, e com a voz esse atendimento será complementado”, disse Santos ao BRAZIL ECONOMY.
“Sempre existirão desafios de negócio em que a voz será mais efetiva, porque cria empatia e mais satisfação ao cliente”, complementou o general manager da companhia, desenvolvedora de agentes conversacionais (ConvAI) que, segundo ela, tornam a interação com a tecnologia tão natural quanto conversar com uma pessoa.
O investimento no Brasil ocorre após a ElevenLabs receber um aporte de US$ 180 milhões, em uma rodada Série C liderada por a16z e Iconiq. Com isso, alcançou valuation de US$ 3,3 bilhões.
Com hubs globais consolidados em Nova York, Londres e Varsóvia, a empresa marcará a chegada ao mercado brasileiro no dia 4 de setembro, com um evento que reunirá clientes, parceiros e líderes do setor em São Paulo.
Ao lado de Brunno Santos estarão o vice-presidente de receita global da companhia, Carles Reina, e Lorena Oliveira, customer success manager para a América Latina.
Antes mesmo de aterrissar em solo brasileiro, a ElevenLabs já vê o País como um dos mais relevantes para a empresa: está entre os 10 maiores em volume de uso, entre os 5 em número de assinantes globalmente e no Top 3 em acessos ao site. Tudo, de acordo com a companhia, de forma 100% orgânica — o que demonstra a forte demanda e o engajamento do público brasileiro com soluções de voz baseadas em IA.
Globalmente, possui 40 milhões de usuários e está presente em 75% das empresas incluídas na Fortune 500.
Mas o que a ElevenLabs entrega?
A tecnologia proprietária gera vozes realistas em 32 idiomas, incluindo dublagem com preservação da voz original, criação de audiobooks, leitura de PDFs e agentes de voz hiper-realistas.
Segundo Brunno Santos, entre os diferenciais competitivos da plataforma está a contextualização. “Temos um marketplace com 5.000 vozes disponíveis que o cliente pode utilizar de acordo com a sua necessidade. Tem que ser a voz certa para o público, para sua necessidade de negócio.”
O executivo citou ainda a possibilidade de criar o design de voz para o prompt de acordo com a demanda. “Conseguimos granular até em termos de regionalidade e faixa etária. É possível gerar sotaques mineiro ou gaúcho, por exemplo, para atender públicos específicos”, explicou.
A clonagem de voz também está entre as iniciativas da ElevenLabs. “Juridicamente correta, com os direitos autorais da pessoa, pode ter fins de marketing e outras iniciativas”, afirmou Santos, ao ressaltar a escalabilidade das soluções e a latência (tempo de resposta).
“Nossa latência é de 75 milissegundos, enquanto a latência humana em uma conversa gira em torno de 200 milissegundos.”
As soluções da ElevenLabs vão além da IA por voz para atendimento ao cliente. No caso de empresas de educação, por exemplo, a tecnologia pode ser um tutor virtual para o aluno, acelerando a curva de aprendizado ao transformar textos em áudios.
As ferramentas da companhia americana ainda conseguem expandir a atuação dos agentes de IA a ponto de detectar o humor de quem está interagindo — o que toca em uma dor do consumidor brasileiro, de acordo com dados da pesquisa ServiceNow Consumer Voice Report 2025.
O recorte para o Brasil apontou que 52% dos consumidores esperam que a IA analise seu estado de espírito durante momentos sensíveis, como uma reclamação ou um pedido muito importante, em que pode faltar empatia por parte da tecnologia.
Afinal, a comunicação precisa ser efetivada com pensamento sábio e na linguagem do povo, como ensinou o poeta irlandês William Butler Yeats.