Depois de 15 anos liderando operações de concorrentes na América Latina, principalmente a partir da Bolívia, Alexander Andras ingressou na Cimento Itambé para mudar o rumo da carreira e implementar um projeto de crescimento da companhia paranaense, que completa 50 anos em 2026. Na empresa desde março, o diretor-superintendente é um dos responsáveis pelo plano de desenvolver a Itambé tanto em seu core de cimentaria quanto na geração de outras linhas de negócios, que devem ser responsáveis por até 35% do faturamento até 2030, enquanto a vertente de cimentos também deve crescer.
“O desafio é levar a companhia a outro patamar, crescer nesses outros negócios e conferir um nível de competitividade diferenciado”, disse o executivo, que trocou a cidade de Santa Cruz de la Sierra (BOL) por Curitiba (PR). “Vamos trabalhar para ter uma empresa preparada para novos desafios que virão pela frente.”
O movimento da Itambé ocorre em um bom momento para a empresa e de mudanças no mercado, com a Intercement (controlada pelo Grupo Mover, antigo Camargo Corrêa) em processo de recuperação judicial por dívidas de R$ 15,6 bilhões e com a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) desembarcando no Paraná, com a instalação de uma fábrica de cimento e outra de calcário no município de Itaperuçu.
Apesar dessas nuances, que inclusive afetam o estado de origem da Itambé, a empresa continua apostando suas fichas no Sul do País, onde historicamente tem seu mercado. A intenção é ampliar os negócios por lá mesmo, sem avançar geograficamente para outros estados.

“Existe uma limitação, porque a gente começa a perder competitividade com a distância. Com um raio de ação de pouco mais de 500 quilômetros, somos competitivos. Nosso forte de atuação são Paraná, Santa Catarina e o norte do Rio Grande do Sul”, explicou Andras.
No primeiro semestre deste ano, a Itambé cresceu 2% em volume e 12% em faturamento, em relação ao mesmo período do ano passado. Enquanto isso, o mercado como um todo, até julho, comercializou 38,2 milhões de toneladas de cimento, alta de 3,7% sobre o mesmo período de 2024, de acordo com o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (Snic). A receita da companhia em 2024 foi de R$ 1,7 bilhão, R$ 100 milhões a mais do que o registrado em 2023.
No ano passado, a Itambé registrou Ebitda de R$ 600 milhões, com 80% da receita oriunda de cimento e os outros 20% de novos negócios em desenvolvimento.
Os investimentos no terceiro forno visam ampliar a produção em 600 mil toneladas por ano e alcançar 3 milhões de toneladas anuais, representando um aumento de 120% na capacidade de produção de clínquer — principal insumo do cimento.
Da produção, 80% são vendidos a granel para concreteiras, empresas de pré-moldados e aplicações industriais, que exigem maior qualidade. “Apesar de ser mais regional, a Itambé sempre teve uma atuação mais técnica”, disse o superintendente.
O setor, por sua vez, registra movimento contrário, com apenas 30% das vendas a granel. “Isso mostra que esses clientes mais técnicos, mais especializados, têm a preferência pelos nossos produtos”, afirmou o executivo, ao ressaltar que uma importante vertente do concreto tem sido as estradas paranaenses. “Muitos projetos rodoviários adotam concreto em vez do asfalto, pois ele tem maior durabilidade e menor necessidade de manutenção.”
As 600 mil toneladas a mais de cimento com o novo forno são suficientes para construir 850 quilômetros de estradas pavimentadas. Em termos imobiliários, o volume equivale à construção de 120 mil casas populares de 50 m².
Esse segmento de construção civil também é importante para a Itambé, que tem cimento envolvido em grandes empreendimentos, como os edifícios One Tower, com 290 metros de altura, e o Boreal Tower, com 240 metros de altura, ambos em Balneário Camboriú (SC).
Outros negócios
Além do cimento, esses empreendimentos catarinenses receberam serviços da concretaria própria da Itambé, a Concrebras.
Além dela, a companhia possui a Rio Bonito (empresa de gestão de resíduos fundada há um ano e meio) e a Novo Horizonte (de calcário agrícola, que começou a atuar há dois meses). Essas duas últimas receberam investimento de R$ 150 milhões.
“Transformamos em combustível os resíduos que originalmente iriam para aterros sanitários, gerando problemas ambientais muito sérios. No último ano, demos destinação final correta a 168 mil toneladas de resíduos”, afirmou Alexander Andras.
A empresa ainda participa de uma usina de eletricidade, que atua no mercado livre de energia, e de uma reflorestadora. Negócios que reforçam a estratégia na área de sustentabilidade ambiental para a sociedade — e financeira para a Itambé.