Boon investe em tecnologia e prevenção para enfrentar custos da saúde e cresce 40%

Healthtech liderada por Mariana Marques alia Inteligência Artificial, prontuário integrado e foco em prevenção para reduzir sinistralidade e manter planos viáveis

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Imagens: Divulgação

Mariana Marques criou um avatar roxo de 1,90 metro, usado em ações presenciais para gerar empatia e ludicidade

Mariana Marques criou um avatar roxo de 1,90 metro, usado em ações presenciais para gerar empatia e ludicidade

A escalada contínua dos custos médicos no Brasil, que avançam muito acima da inflação e dos salários há mais de uma década, se tornou um desafio estrutural para empresas, trabalhadores e operadoras. Enquanto companhias buscam alternativas para manter o benefício sem comprometer seus orçamentos, trabalhadores sofrem com reajustes elevados, e as próprias operadoras têm suas margens pressionadas. Nesse cenário, ganha espaço a proposta de gestão ativa em saúde, que une tecnologia, prevenção e inteligência de dados.

É exatamente nesse ponto que a Boon, healthtech fundada e comandada por Mariana Marques, vem construindo sua trajetória. A empresa, que nasceu em 2014 e hoje administra cerca de 300 mil vidas, atua como hub de soluções integradas de saúde, odontologia, vida e bem-estar. Com crescimento médio de 30% a 50% ao ano, a Boon aposta em uma equação que parece simples, mas é altamente complexa de executar: reduzir sinistralidade sem reduzir qualidade, equilibrando a conta para empresas, usuários e operadoras.

Um dos pontos que aceleram a necessidade de novas soluções é a NR1, norma do Ministério do Trabalho que amplia a responsabilidade das companhias em relação ao cuidado com a saúde emocional dos colaboradores, incluindo riscos psicossociais. A regulamentação, que entra em vigor em 2025, exigirá das áreas de RH ferramentas mais robustas para monitorar e apoiar o bem-estar mental dos funcionários.

“Nosso desafio é ajudar o RH a atender essas exigências com soluções conectadas a dados, trazendo não só compliance, mas resultados reais na saúde dos colaboradores”, afirmou Mariana, em entrevista ao BRAZIL ECONOMY.

Segundo a executiva, o atual modelo de saúde suplementar caminha para um colapso. “Com reajustes anuais de dois dígitos, em três ou quatro anos o custo dobra, mas o salário não acompanha. Se nada mudar, os planos de saúde se tornarão um produto restrito a uma elite.”

Mariana acumula mais de 20 anos de experiência no mercado. Atuou em operadoras e como broker antes de fundar a própria companhia em 2014. Em 11 anos, viu de perto a saída de players internacionais, como a Sompo e a UnitedHealth, e a onda de fusões e aquisições que marcou o setor, com exemplos como a união entre Hapvida e NotreDame Intermédica.

“Todos os dias somos questionados sobre a sustentabilidade do setor. Minha motivação é trabalhar pela revolução do cuidado com a saúde no Brasil, porque quero que meus netos ainda tenham acesso a um plano viável”, disse.

A Boon nasceu com foco em prevenção. Durante a pandemia, foi uma das primeiras empresas a oferecer telemedicina para Covid-19, antes mesmo da liberação para prescrição de medicamentos. Hoje, sua estratégia combina acompanhamento contínuo, programas de gestão de crônicos (como diabetes, hipertensão e obesidade), acompanhamento de gestantes e iniciativas de bem-estar físico e emocional.

Os resultados são expressivos. De acordo com Mariana, um colaborador crônico em acompanhamento gasta sete vezes menos do que um paciente que busca atendimento sem suporte estruturado. Da mesma forma, o acompanhamento de gestantes reduz significativamente a probabilidade de internações em UTIs neonatais, que possuem custos elevadíssimos.

Para transformar boas intenções em resultados mensuráveis, a Boon investiu em tecnologia. A plataforma da empresa integra dez benefícios digitais em saúde e bem-estar, acessíveis de qualquer lugar do mundo via WhatsApp, escolha estratégica para alcançar tanto o chão de fábrica quanto executivos, sem necessidade de instalar aplicativos adicionais.

Nesse canal, a empresa aplica inteligência artificial para personalizar a comunicação com cada usuário. “Se eu não sei quem é o paciente, não consigo ser o melhor amigo da saúde dele. A IA nos ajuda a tratar cada pessoa de forma única e, com isso, gerar engajamento”, explicou Mariana.

O coração da operação é o prontuário integrado, que unifica dados de saúde, vida, odontologia e benefícios complementares em um só hub. Isso evita duplicidade de informações e permite medir de forma precisa o impacto da gestão na sinistralidade.

Segundo a CEO, a redução é comprovada: um sinistro médio de R$ 800 por vida pode cair para R$ 500 ou R$ 600 após a implementação da plataforma. Em alguns casos, clientes economizaram mais de R$ 500 mil em apenas seis meses.

Relação com operadoras e empresas

Embora atue de forma independente, a Boon mantém parceria próxima com as grandes operadoras, como Amil, SulAmérica, Bradesco Saúde, Unimed e Porto Seguro. “Todas querem eficiência no uso. Nosso papel é ser o elo entre operadora, empresa e colaborador”, afirmou.

Do lado das companhias, a entrega é traduzida em menor reajuste dos contratos, redução de absenteísmo e afastamentos e até ganhos em atração e retenção de talentos. “Um RH que implementa inteligência em saúde mostra cuidado real com o colaborador e ganha competitividade no mercado de trabalho”, disse.

Originalmente chamada de Pró Saúde, a empresa passou por rebranding no fim de 2023. O novo nome, Boon, busca transmitir proximidade, leveza e benefícios tangíveis, segundo Mariana. A marca ganhou um avatar roxo de 1,90 metro, usado em ações presenciais para gerar empatia e ludicidade em um setor geralmente associado a problemas.

“O usuário já vem machucado pelo sistema. Queremos que ele veja a Boon como um amigo, alguém com quem pode ser sincero ao dizer: não estou conseguindo tomar meus medicamentos ou preciso de apoio emocional”, acrescentou a CEO.

Com 300 mil vidas sob gestão, a Boon já é duas vezes maior que a Omint em número de beneficiários. A empresa, auditada pela PwC, divulgou crescimento acelerado e se prepara para ampliar ainda mais a base em 2025. Apesar do assédio de investidores e grupos interessados em aquisições, Mariana descarta fusões ou aportes no curto prazo. “Construímos uma companhia rentável, sem dívidas, que cresce de forma sustentável. Ainda não atingi minha meta pessoal e estou feliz em conduzir a Boon sozinha”, garantiu.

A executiva, que começou a trajetória como sócia do fundador da AdMix antes de assumir integralmente a nova companhia, reforça sua motivação. “Saímos de zero para 300 mil vidas em pouco mais de uma década. Acredito na revolução da saúde e quero continuar trazendo soluções que mantenham esse sistema viável para todos.”

A Boon representa um movimento que pode redefinir os rumos da saúde suplementar no Brasil: menos foco na doença, mais atenção à prevenção; menos retrovisor, mais dados em tempo real; menos burocracia, mais proximidade com o usuário.

Combinando tecnologia, inteligência artificial, gestão de dados e programas preventivos, a empresa tenta responder à grande pergunta que hoje ronda RHs, operadoras e milhões de brasileiros: como tornar sustentável um sistema cada vez mais caro?

Se depender da visão de Mariana Marques, a resposta passa por uma revolução silenciosa, feita de cuidado, dados e eficiência.

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