Azimut mantém alta de dois dígitos e prevê expansão com modelos tropicalizados

No último ano, a fabricante de iates faturou R$ 560 milhões, com a produção de 40 embarcações de luxo em Itajaí (SC), onde atualmente trabalham 600 funcionários

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Imagens: Divulgação

Francesco Caputo, diretor-geral da Azimut, diz que a trajetória é resultado de uma estratégia consistente de investimentos

Francesco Caputo, diretor-geral da Azimut, diz que a trajetória é resultado de uma estratégia consistente de investimentos

Mesmo em um ambiente econômico doméstico de crescimento moderado, a Azimut Yachts segue acelerando no Brasil. No primeiro semestre de 2025, a operação local da fabricante italiana de embarcações de luxo registrou avanço de dois dígitos nas vendas, repetindo o desempenho sólido observado nos últimos cinco anos. A empresa projeta encerrar o ano náutico (que vai de setembro de um ano a agosto do seguinte) com aumento de aproximadamente 10% sobre o período anterior e a produção de 42 embarcações.

No último ano náutico (2023/2024), a Azimut Brasil faturou R$ 560 milhões, com a fabricação de 40 iates de luxo na unidade de Itajaí (SC), que emprega atualmente cerca de 600 colaboradores. A expectativa é de crescimento de 20% no quadro de funcionários nos próximos três anos, impulsionada pela ampliação do portfólio e pela demanda doméstica e internacional.

Segundo Francesco Caputo, diretor-geral da Azimut no Brasil, a trajetória é resultado de uma estratégia consistente de investimentos e inovação, associada à força global da marca no segmento de alto padrão. “Seguimos investindo no desenvolvimento de novos modelos. No último ano, lançamos duas embarcações de grande sucesso: a 58 e, no mês passado, a nova 25 Metri”, afirmou.

Caputo lembra que a pandemia de Covid-19 provocou uma explosão da demanda no setor náutico, impulsionada pelo desejo de isolamento seguro e pela busca por lazer exclusivo. “Na época, houve um senso de urgência. No longo prazo, a pandemia gerou uma nova forma de enxergar a vida. As pessoas se permitem mais, conscientes de que o tempo é limitado”, disse.

Esse fenômeno ampliou o público da náutica e criou uma base de clientes recorrentes. “Hoje temos muito mais pessoas na água, curtindo o estilo de vida náutico, e a renovação constante dos produtos mantém o interesse do mercado, com novas tecnologias, design e conforto”, explicou.

O perfil do comprador da Azimut no Brasil é um diferencial competitivo. Em sua maioria, são empresários maduros, com histórico de navegação, que evoluíram de embarcações menores para modelos de maior porte e luxo. A idade média é de 60 anos, e as decisões de compra estão menos atreladas aos ciclos econômicos do País.

“Não é uma compra por impulso, mas fruto de um processo de décadas. Oscilações econômicas influenciam mais a confiança do consumidor do que a decisão final de compra”, afirmou Caputo. “Se o cenário é positivo, pode optar por um barco maior; se é adverso, escolhe um modelo de menor valor, mas mantém a aquisição.”

Impacto limitado do tarifário dos EUA

As tarifas de 50% aplicadas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros não preocupam diretamente a Azimut Brasil. Apenas 20% da produção local é destinada à exportação, com distribuição pulverizada em mercados como Europa, África do Sul, Canadá e China.

“Exportamos pouco para os EUA, e a nossa capilaridade global nos permite compensar variações regionais. Já um estaleiro brasileiro que dependa majoritariamente do mercado americano terá grande dificuldade de competitividade com esse novo cenário”, avaliou o executivo. A matriz italiana absorve parte da produção brasileira e redistribui globalmente, o que aumenta a flexibilidade da operação.

Tropicalização sem perder o DNA global

O lançamento mais recente da Azimut, a 25 Metros, é projetado para atender ao mercado internacional, mas incorpora adaptações específicas para o público brasileiro. “Mantemos a identidade da marca, mas fazemos pequenas modificações que atendem às exigências locais. No caso da 25M, ela tem alma brasileira, com áreas externas amplas, integração total dos ambientes e espaços pensados para o clima do País”, destacou Caputo.

Entre os diferenciais, estão a ampla praça de popa e a “terraça infinita” na ponte principal, que conecta áreas internas e externas, proporcionando maior sensação de liberdade e contato com o ambiente.

O Brasil representa hoje 12% do faturamento global da Azimut, ocupando a terceira posição entre os principais mercados da marca, atrás apenas da Europa e dos Estados Unidos. “Se excluirmos esses dois gigantes, o Brasil é nosso maior mercado, à frente de importantes regiões da Ásia.”

O Grupo Azimut Benetti encerrou o ano náutico 2023/2024 com receita global de € 1,3 bilhão, crescimento sustentado por uma carteira de pedidos de € 2,6 bilhões — com entregas garantidas até 2029. Para o próximo ano, a previsão é de alta de 15% na receita. Entre 2025 e 2027, o grupo investirá € 160 milhões, sendo € 99,3 milhões para expansão da capacidade produtiva e € 43,2 milhões em pesquisa e desenvolvimento de novos modelos.

Mercado náutico em ascensão

O setor náutico brasileiro vem registrando evolução consistente desde 2020. Segundo dados da Associação Brasileira dos Construtores de Barcos e seus Implementos (Acobar), o mercado movimenta cerca de R$ 2,5 bilhões ao ano e conta com mais de 70 estaleiros ativos. O segmento de luxo, no qual a Azimut atua, responde por uma fatia expressiva dessa receita, especialmente impulsionado por clientes das regiões Sudeste e Sul.

Analistas do setor estimam que, apesar das incertezas econômicas, o consumo de alto luxo continuará em expansão no Brasil, sustentado por um público pouco sensível às variações de renda e juros.

Caputo confirma que há novos projetos em andamento, mas mantém sigilo sobre detalhes. “Temos muitas novidades a caminho, que vão reforçar ainda mais nossa presença no mercado e o portfólio de modelos produzidos localmente.”

Com uma clientela fiel, alto índice de recompra e uma estratégia de produtos alinhada às tendências globais, a Azimut aposta que continuará navegando em águas favoráveis no Brasil, mesmo diante de ventos econômicos menos previsíveis.

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