Apesar das turbulências, private equity cresce na região, diz Guillaume, da Confrapar

Na avaliação de Carlos Guillaume, sócio e fundador da Confrapar, gestora com cerca de R$ 1 bilhão em ativos, mercado permanece aquecido por ativos descontados

Compartilhe:

Imagens: Divulgação

Carlos Eduardo Guillaume, sócio da Confrapar, diz que a turbulência global não esfriou o apetite das empresas

Carlos Eduardo Guillaume, sócio da Confrapar, diz que a turbulência global não esfriou o apetite das empresas

Carlos Eduardo Guillaume é sócio e um dos fundadores da Confrapar, gestora brasileira de private equity e growth equity especializada em investimentos em empresas impulsionadas por tecnologia na América Latina, com cerca de R$ 1 bilhão em ativos sob gestão. Com mais de 15 anos de experiência na área e atuações em mercados da América Latina, Ásia e Estados Unidos, ele traçou, em entrevista exclusiva ao BRAZIL ECONOMY, o cenário de private equity no Brasil e na América Latina. Apesar do momento desafiador da economia internacional, a região segue como um polo atrativo para quem quer apostar nessa tendência. Confira a entrevista completa:

Como você enxerga o mercado de private equity atualmente no Brasil?
Esse mercado tende a ser, por natureza, oportunístico. Mesmo em contextos desafiadores, como o atual, marcado por juros elevados, câmbio volátil e incertezas políticas, ele permanece ativo na busca por ativos descontados, oportunidades de consolidação e empresas com fundamentos sólidos, que possam se beneficiar tanto de capital para crescimento quanto de uma gestão mais profissionalizada. O setor vinha atuando de forma mais oportunística, com foco em oportunidades pontuais. É importante que as empresas busquem teses de crescimento estruturadas, capazes de transformar empresas tradicionais em líderes de seus nichos, promover a consolidação de mercados e criar negócios mais competitivos e inovadores.

Em 2024, a Confrapar firmou uma parceria estratégica com a REAG Investimentos, que possui aproximadamente R$ 180 bilhões em ativos. Porém, a empresa manteve sua operação independente e ganhou acesso a capacidades ampliadas da nova parceira. Com esse cenário favorável, quais são as expectativas para o segundo semestre?
A expectativa é de uma intensificação gradual da atividade, impulsionada principalmente por fundos locais e regionais, que têm maior capacidade de execução em ambientes voláteis. O foco deve recair sobre empresas mais resilientes, com geração de caixa consistente e atuação em setores estruturados e menos sensíveis ao consumo. Também devem ganhar destaque as teses de investimento baseadas em eficiência operacional, transformação digital e profissionalização de negócios tradicionais, que continuam relevantes no cenário brasileiro.

Qual o principal perfil de clientes que vocês enxergam como potenciais para este mercado?
Na Confrapar, a atuação como investidora está direcionada a estratégias de crescimento com algum viés tecnológico, ainda que não exclusivamente. Esse perfil mantém forte demanda, tanto de parceiros estratégicos, que agregam valor além do capital, quanto de investidores interessados em suporte para novos ciclos de expansão, acesso a redes de relacionamento e conhecimento setorial aprofundado. Ao investir em empresas com estratégias de crescimento apoiadas por tecnologia, é possível promover ajustes rápidos, reposicionar negócios no mercado e acelerar processos de digitalização e profissionalização. Além disso, a presença regional permite identificar quais países estão melhor posicionados para se beneficiar de distorções comerciais como essa, ampliando o potencial de retorno ajustado ao risco. Um setor em que a tecnologia vem desempenhando papel central é o de finanças, onde o Brasil se destaca internacionalmente, por meio de fintechs, sharetechs e plataformas de apoio à gestão.

Além de escritórios em cidades brasileiras, a Confrapar também possui operações em Bogotá e na Cidade do México. Você nota uma diversificação da cobertura de private equity para a América Latina?
Sim. A presença regional da Confrapar vai além do Brasil, abrangendo toda a América Latina. Essa cobertura geográfica permite diluir riscos específicos de cada país e, ao mesmo tempo, aproveitar oportunidades de transformação que surgem de forma assimétrica na região. A integração latino-americana amplia as alternativas de investimento e cria oportunidades concretas de expansão internacional para as empresas do portfólio, fortalecendo o retorno ajustado ao risco. Aliás, aqui eu destaco as áreas de logística e agronegócio, em que o Brasil e a América Latina já são tradicionalmente fortes, mas que apresentam grande potencial de crescimento com a aplicação de tecnologia e digitalização de processos, permitindo escalar operações.

Como as medidas protecionistas de Donald Trump impactam este mercado no Brasil?
A aplicação de tarifas sobre exportações brasileiras certamente cria desafios pontuais para algumas empresas exportadoras, como a Embraer e outras. No entanto, o impacto sobre o setor de private equity precisa ser analisado com mais nuances. Barreiras comerciais podem reduzir a competitividade de determinados players, mas também geram oportunidades, como substituição de exportações, redirecionamento de cadeias logísticas e surgimento de novos fornecedores locais.

Quais os principais setores que devem apostar em private equity no Brasil?
Os setores brasileiros em que concentramos nossos investimentos estão alinhados a teses de crescimento sólido, com potencial de expansão regional e uso estratégico da tecnologia como alavanca. Mesmo em segmentos tradicionais, temos identificado empresas capazes de escalar, inovar e se tornarem líderes em seus nichos. O setor de saúde é muito pulsante, incluindo serviços especializados, soluções de apoio e gestão hospitalar. São negócios que podem se beneficiar de capital para expansão, consolidação de mercados fragmentados e adoção de novas tecnologias, como inteligência artificial aplicada à saúde. Outra área importante é a de ensino, principalmente educação continuada e profissionalizante, com foco em soluções digitais voltadas à inclusão produtiva e à empregabilidade, também impulsionadas pelo uso de inteligência artificial.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

ASSINE NOSSA NEWSLETTER E
FIQUE POR DENTRO DAS PRINCIPAIS NOTÍCIAS DO MERCADO

    Quer receber notícias pelo Whatsapp ou Telegram? Clique nos ícones e participe de nossas comunidades.