A Rússia está à beira da recessão e caminha para safra desastrosa e sem receita

As exportações de grãos e fertilizantes não foram atingidas por sanções, por conta de temores globais de escassez de alimentos, e vinham sendo uma fonte de resiliência

Jason Ma (Fortune)
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Imagens: GettyImages

Putin conseguiu adiar novas sanções americanas, mas não houve avanços em direção à suspensão das restrições já existentes

Putin conseguiu adiar novas sanções americanas, mas não houve avanços em direção à suspensão das restrições já existentes

Vladimir Putin conseguiu adiar, por ora, novas sanções dos Estados Unidos, ao ganhar mais tempo para sustentar sua guerra contra a Ucrânia após se reunir com o presidente Donald Trump no Alasca na semana passada. O encontro desencadeou uma série de movimentações diplomáticas, com aliados europeus tentando forjar garantias de segurança para Kyiv. Mas o tempo pode não ser aliado da Rússia, à medida que sua economia enfrenta pressões crescentes.

O país pode entrar em recessão em breve e atravessa sua pior safra em 17 anos, agravando ainda mais uma economia que já sofre com a queda da receita energética.

Por enquanto, Putin conseguiu adiar novas sanções americanas, mas não houve avanços em direção à suspensão das restrições já existentes nem na retomada da cooperação econômica.

“É cedo para adotar uma visão mais otimista sobre a economia russa, que acreditamos estar à beira de uma recessão”, afirmou Tatiana Orlova, economista-chefe de mercados emergentes da Oxford Economics, em relatório publicado na segunda-feira.

Segundo ela, como a reunião no Alasca não trouxe resultados concretos, a previsão foi mantida: o crescimento do PIB russo deve desacelerar fortemente este ano, caindo para apenas 1,2%, após ter alcançado 4,3% em 2024. A partir daí, a economia deve estagnar ainda mais, com crescimento abaixo de 1% em 2026 e 2027.

“Também acreditamos haver uma probabilidade significativa de a economia russa entrar em recessão técnica nos próximos trimestres”, acrescentou Orlova.

Esse alerta se soma a outros recentes. Em junho, o ministro da Economia, Maxim Reshetnikov, já havia advertido que a Rússia estava “à beira” de uma recessão. Bancos russos também levantaram preocupações sobre uma possível crise da dívida, já que os juros elevados pesam na capacidade de pagamento dos tomadores de crédito.

No mês passado, o banco central reduziu as taxas em 200 pontos-base para tentar reativar o crescimento, após tê-las elevado a níveis recordes para combater a inflação alimentada pela guerra na Ucrânia.

Safra e economia russa

Enquanto isso, a Rússia enfrenta uma safra desastrosa, apesar de ser uma potência agrícola, o que aumenta a pressão sobre a economia e as finanças do Kremlin.

As exportações de grãos e fertilizantes não foram atingidas por sanções, por conta de temores globais de escassez de alimentos, e vinham sendo uma fonte de resiliência econômica. Porém, julho registrou o menor volume de exportações de grãos para o mês desde 2008, segundo Peter Frankopan, pesquisador do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, que atribuiu a queda à crescente volatilidade climática.

Neste ano, as plantações foram prejudicadas por geadas fora de época na primavera e por ondas de calor recorde e seca no verão. A produção total de grãos deve cair para 130 milhões de toneladas, uma queda de 18% em relação ao pico de 2022.

“A má safra de 2025 na Rússia é mais do que um evento climático: revela a fragilidade estrutural da economia de guerra do país e os riscos crescentes de um sistema baseado em reservas fiscais e combustíveis fósseis”, escreveu Frankopan em uma análise recente.

De fato, o colchão fiscal russo está desaparecendo com a queda da receita energética. A arrecadação do Kremlin com petróleo e gás — sua principal fonte de recursos, despencou 27% em julho, em comparação com o ano anterior, para 787,3 bilhões de rublos (cerca de US$ 9,8 bilhões).

Com os gastos de guerra em alta, o resultado tem sido déficits orçamentários crescentes. A Rússia precisou recorrer ao seu Fundo Nacional de Riqueza, que encolheu de US$ 135 bilhões em janeiro de 2022 para apenas US$ 35 bilhões em maio deste ano.

“A economia russa se aproxima rapidamente de um colapso fiscal que vai comprometer seu esforço de guerra”, avaliou o economista e especialista em Rússia Anders Åslund em artigo publicado no Project Syndicate. “Embora isso possa não ser suficiente para forçar Putin a buscar a paz, sugere que as paredes estão se fechando ao seu redor.”

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