Com uma trajetória de mais de 50 anos dedicados ao ensino, à pesquisa e à gestão pública, o engenheiro Vahan Agopyan é hoje uma das principais referências no Brasil quando o tema é ciência, tecnologia e inovação. Atual Secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo e ex-reitor da Universidade de São Paulo (USP), Agopyan tem liderado iniciativas que buscam integrar universidades, setor produtivo e políticas públicas em prol do desenvolvimento sustentável.
Desde que assumiu a pasta, uma de suas prioridades tem sido fortalecer a articulação entre instituições de ensino e centros de pesquisa com empresas e governo. “São Paulo investe quase 7% do seu orçamento em ciência, tecnologia, inovação e ensino superior. Se incluirmos institutos das áreas de saúde e agricultura, esse número ultrapassa 8%”, afirma Agopyan em entrevista ao BRAZIL ECONOMY. O desafio, segundo ele, está em criar sinergia entre essas diferentes frentes — objetivo que vem sendo viabilizado com apoio de universidades e da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
Defensor histórico da autonomia universitária, Agopyan ressalta que esse modelo, adotado de forma contínua pelos governos paulistas desde a década de 1960 no caso da Fapesp e desde 1989 nas universidades estaduais, é essencial para garantir qualidade, eficiência e planejamento de longo prazo. “A autonomia é um instrumento que precisa ser mantido e constantemente demonstrado às autoridades como peça-chave para o desenvolvimento”, afirma.
Outro foco estratégico da gestão é a atuação internacional da Secretaria. Por meio de missões oficiais e acordos com centros de excelência na Europa e na Ásia, o governo paulista tem buscado atrair centros de pesquisa estrangeiros e estimular a instalação de unidades de P&D de empresas multinacionais. “A globalização é irreversível. Nosso profissional precisa ser competitivo internacionalmente. A forma mais eficiente de construir essa base é pela pesquisa conjunta”, defende Agopyan.
A internacionalização, explica, não busca apenas visibilidade: ela gera conhecimento local, consolida a vocação inovadora das universidades paulistas e prepara startups para o mercado global desde sua origem. “Mais do que bons empregos, o mais importante é o conhecimento que fica no Brasil e se transforma em novas soluções.”
Nesse contexto, ganha destaque o modelo dos centros de pesquisa em parceria com empresas, apoiados pela Fapesp. “A empresa participa desde o início, absorvendo o conhecimento gerado. Já as startups recebem apoio direto da Fapesp e, quando iniciam a produção, contam com financiamento da Desenvolve SP. É uma cadeia estruturada para estimular o desenvolvimento contínuo”, explica.
Educação de base como prioridade
Mesmo com os avanços no ensino superior e na pesquisa científica, Agopyan alerta para o principal gargalo do sistema educacional brasileiro: a educação básica. Para ele, o desinteresse crescente de crianças e adolescentes compromete o futuro da inovação e da competitividade nacional. “Estamos frustrando sonhos. O desinteresse das crianças e adolescentes é uma tragédia silenciosa que repercute no ensino médio e superior.”
Segundo o secretário, o país já universalizou o acesso ao ensino fundamental e médio, além de ampliar as vagas no ensino superior — mas ainda sem garantir a qualidade necessária na formação dos alunos. “Temos vagas nos cursos de engenharia, por exemplo, mas faltam jovens preparados para ingressar e concluir. Isso precisa mudar.”
Reconhecimento e legado
Recentemente homenageado como Professor Emérito da USP — título concedido a apenas 22 docentes ao longo da história da universidade —, Agopyan recebeu a honraria com emoção e humildade. “Acredito que representa toda uma geração de professores que ajudou a consolidar a USP. Sinto profunda gratidão à Escola Politécnica e ao Conselho Universitário.”
Ao projetar o futuro, ele defende a continuidade das políticas públicas de longo prazo e a manutenção do modelo paulista de autonomia universitária, mesmo em tempos de restrições orçamentárias e instabilidade política. “Não há desenvolvimento social, cultural ou econômico consistente sem ciência, tecnologia e inovação. E não se faz ciência sem liberdade, sem autonomia e sem visão de longo prazo. É isso que temos construído em São Paulo.”