“Santa Catarina se tornou um celeiro de inovação”, diz o governador Jorginho Mello

O Estado vive um momento de transformação, segundo o governador, que diz ter retomado obras paradas, fortalecido os serviços essenciais e posicionado SC como uma referência nacional em eficiência e desenvolvimento

Paulo Pandjiarjian
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Imagens: Ricardo Wolffenbüttel/Secom-SC

"Na minha casa aprendemos desde criança que o orçamento precisa caber dentro do que a gente ganha com nosso trabalho"

"Na minha casa aprendemos desde criança que o orçamento precisa caber dentro do que a gente ganha com nosso trabalho"

Nesta entrevista ao BRAZIL ECONOMY, o governador Jorginho Mello detalha os principais pilares de sua administração. Fala sobre os desafios enfrentados, as decisões que garantiram o equilíbrio fiscal, os avanços em infraestrutura, saúde e educação e as estratégias para consolidar Santa Catarina como um hub de inovação e competitividade. De um lado, o desafio de enfrentar um déficit orçamentário que ameaçava a capacidade de investimento do Estado. De outro, a necessidade de responder com agilidade a demandas históricas da população em áreas como logística, saúde, segurança e inclusão educacional. O resultado foi uma combinação de ajuste fiscal com políticas públicas focadas em resultados e impacto social. Santa Catarina vem alcançando indicadores de desempenho que chamam a atenção de investidores, lideranças políticas e especialistas em gestão pública de todo o país. A seguir, o governador apresenta as principais ações e os próximos passos da sua administração.

O senhor assumiu o Estado com previsão de déficit de R$ 3 bilhões. Quais foram as principais medidas para reverter esse cenário e garantir o equilíbrio fiscal?
Fazer a lição de casa. Na minha casa aprendemos desde criança que o orçamento precisa caber dentro do que a gente ganha com nosso trabalho. Então o Estado precisa respeitar a mesma regra, e com certeza isso não estava sendo feito. Esse déficit ia ser de quase R$ 4 bilhões se a gestão anterior não tivesse cancelado cerca de R$ 900 milhões prometidos para as prefeituras e cortados sem qualquer explicação. Fomos transparentes com a sociedade e os servidores quando apertamos o cinto. E conseguimos algo inédito nos anos recentes: nosso corte de custos gerou uma economia de quase R$ 1 bilhão no custeio, que ajudou a ajustar as contas públicas. Em paralelo, fizemos também um programa de renegociação de dívidas para ajudar as empresas a acertarem as contas com o governo estadual, que também foi muito bem-sucedido e superou todas as expectativas. Tudo isso trouxe sucesso para o nosso plano de ajuste fiscal, o Pafisc, e nos colocou nessa realidade em 2024 e 2025 de podermos realizar investimentos significativos nos nossos programas de governo e nas áreas essenciais do governo, como a Saúde.

Santa Catarina tem hoje mais de 1.700 projetos em andamento. Como o governo acompanha essa execução e garante a entrega de resultados?
É com atenção aos detalhes que nós conseguimos ter uma gestão boa, eficiente e que entrega resultados. Esse acompanhamento é essencial para que nenhum projeto prioritário fique sem a devida atenção e encaminhamentos para que entregue resultado na ponta, para os catarinenses. E é importante lembrar que esse mesmo acompanhamento é em relação às ações previstas no plano de governo, o contrato que nós assinamos com todos os catarinenses que foram às urnas votar. Nesse exato momento, temos 77% das ações previstas no plano de governo já concluídas ou em execução. E temos também uma série de ações para serem iniciadas no segundo semestre deste ano, então a ideia é fechar 2025 com 100% das ações do plano de governo já em execução.

Como a Reforma Administrativa impactou a estrutura do Estado e quais benefícios já podem ser percebidos?
Algumas vocações de Santa Catarina não estavam representadas pela estrutura do Governo do Estado e nós resolvemos isso. Santa Catarina é o Estado propocionalmente mais industrializado do Brasil, o que mais emprega proporcionalmente a população nesse setor que responde por mais de 30% das vagas de carteira assinada, agora temos a Secretaria de Indústria, Comércio e Serviços. Santa Catarina é o segundo Estado mais inovador do Brasil e temos a maior proporção de startups per capita do País, por isso agora temos a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação. Você conhece ou já ouviu falar das belas praias catarinenses e da nossa belíssima Serra com certeza, até por isso o Turismo responde por 12% do nosso PIB. Acredita que não existia uma Secretaria de Turismo? Agora tem: dedicada, vocacionada e ouvindo as necessidades das prefeituras, das empresas do setor, e trazendo avanços a cada estação que passa, com mais turistas na estação verão, mais turistas na estação inverno, e agora vamos estruturar e melhorar os atrativos do nosso outono e da nossa primavera, que são muitos. Queria destacar também uma secretaria que é única entre todas as unidades da federação. Nós criamos a Secretaria de Portos, Aeroportos e Ferrovias, uma pasta essencial para o futuro.

O programa Estrada Boa está investindo R$ 2,1 bilhões em 1.500 km de rodovias. Qual a importância dessa iniciativa para a competitividade e a integração regional?
Eram R$ 2 bilhões lá no início, mas depois que conseguimos tirar o Estado do cheque especial tivemos mais espaço para investir nas áreas que mais precisavam de recursos públicos. E a infraestrutura era uma delas. Hoje o investimento total vai passar de R$ 3,5 bilhões. São 50 obras estruturantes simultâneas, aquelas que arrumam e deixam a estrada bonitona mesmo. Mas ao todo passam de 100 estradas com ações para deixar tudo arrumado para o pessoal poder passar e dizer que realmente a estrada está boa. A situação era deplorável em 2023, com a grande maioria das estradas em situação ruim e péssima. Agora vamos fechar o primeiro semestre deste ano com 80% das nossas rodovias estaduais em situação ótima e boa. Só vai faltar o Governo Federal se mexer para pelo menos dar uma ajustada nas nossas BRs, mas aí teríamos que esperar sentados. Eu propus assumirmos a BR-282 e estou até agora esperando uma resposta do Ministério da Infraestrutura. E estamos elaborando um projeto para um contorno no Morro dos Cavalos, pagando com recursos dos cofres do Governo do Estado, para resolver um gargalo de décadas da BR-101. Esse eu vi mais avanços no diálogo, mas precisamos contar com o apoio de todos, dos nossos deputados estaduais, federais e das entidades catarinenses para fazer valer a prioridade de encaminhar essa solução.

O plano de desenvolvimento energético, com apoio da Celesc e da SCGás, promete fortalecer o setor produtivo. Como esses investimentos se conectam à estratégia industrial do Estado?
É mais um dos exemplos do motivo para eu defender que o Estado tem que ser parceiro da iniciativa privada. No Plano de Desenvolvimento Energético para a Indústria Catarinense, a gente fez um investimento até pequeno para os padrões dos nossos programas, pouco mais de R$ 200 milhões, mas isso vai permitir que as indústrias invistam mais de R$ 1,5 bilhão na ampliação do que produzem aqui, seja ampliando fábricas ou adquirindo equipamentos mais eficientes. Outro bônus: essas ampliações vão gerar 9,5 mil empregos. A trava era só o Estado deixando de fazer sua parte, de oferecer energia de qualidade para que o nosso empreendedor possa investir e produzir mais. Essa realidade nós estamos mudando. Em um investimento significativo, fizemos os gasodutos com gás natural subirem a serra e agora estamos atendendo a região Serrana. Gás natural que ficou mais barato a partir de 2023, cumprindo uma das nossas ações do Plano de Governo. E é importante a gente destacar aqui também o programa Energia Boa. O Estado entra com R$ 572 milhões para construir toda a infraestrutura energética necessária, com energia trifásica, para que a Serra Catarinense e o Planalto Norte possam explorar seu potencial de geração com fontes renováveis, seja hidrelétrica, solar ou eólica. Esse primeiro esforço do parceiro público permite que as empresas invistam algo em torno de R$ 3 bilhões, gerando mais de 20 mil empregos. É uma parte de infraestrutura que pouca gente vê, mas que precisa ser feita para garantir um desenvolvimento continuado de Santa Catarina.

O governo criou uma secretaria voltada exclusivamente a portos, aeroportos e ferrovias. O que essa iniciativa representa para o futuro logístico de Santa Catarina?
Pelos nossos portos passa um a cada cinco contêineres movimentados no Brasil. São cinco portos que respondem por 20% da movimentação nacional. Já ampliamos para 21 aeroportos regionais em operação e em breve teremos 24. Conseguimos concretizar a primeira PPP do Governo de Santa Catarina, passando para a iniciativa privada o aeroporto de Jaguaruna no Sul do Estado, o que deve transformar a região, a exemplo do que aconteceu em Florianópolis quando uma empresa profissional assumiu o aeroporto e hoje ele é o melhor do Brasil. Já as ferrovias, que eram só promessas, agora têm projeto básico pronto e têm projeto executivo em elaboração. Estou neste momento na Ásia apresentando esse potencial de investimento para empresas do setor que queiram vir a Santa Catarina investir nessas estruturas que serão centrais para a competitividade do Estado no longo prazo.

O programa Universidade Gratuita tem a meta de beneficiar 70 mil estudantes até 2026. Como essa política deve transformar o acesso ao ensino superior no Estado?
Este programa, que já concedeu mais de 41 mil benefícios, é, de fato, inédito no País. Ele representa um modelo inovador de acesso ao ensino superior, democratizando a educação e abrindo portas para milhares de catarinenses que, de outra forma, não teriam condições de arcar com os custos de conseguir um diploma. Acredito muito que a educação é a base para o desenvolvimento social e econômico, e é por isso que estamos investindo pesado nessa área. Além do impacto direto no acesso ao ensino superior, o programa Universidade Gratuita caminha lado a lado com nossas iniciativas de ensino profissionalizante. Prova disso é o crescimento expressivo do CATEC, que registrou um aumento de 150% no número de matriculados, saltando de 12 mil para mais de 30 mil apenas em 2024, e esse número continua a crescer em 2025. Essa sinergia é fundamental. Nosso objetivo não é apenas formar esses alunos, mas também preparar profissionais para o mercado de trabalho, garantindo que Santa Catarina tenha a mão de obra qualificada que as empresas precisam para investir e prosperar. Voltando ao programa Universidade Gratuita, eu vejo que ele é mais do que uma política educacional: é um motor de transformação social e econômica para Santa Catarina. Estamos construindo um futuro onde a educação de qualidade é acessível, impulsionando o desenvolvimento do nosso Estado porque essas universidades estão presentes em todas as regiões, e garantindo um futuro mais próspero para os nossos jovens.

Na saúde, o projeto Fila Zero permitiu mais de 200 mil cirurgias em 2023. Quais são os próximos passos para ampliar o acesso e a eficiência no atendimento médico?
É com muito orgulho que podemos afirmar que Santa Catarina se destaca como o Estado que mais tirou pessoas da fila de cirurgias no Brasil. Desde o início do nosso governo, já realizamos mais de 600 mil cirurgias eletivas até 2024, um marco que reflete nosso compromisso com a saúde dos catarinenses. Se incluirmos as cirurgias emergenciais, esse número chega a quase um milhão de pessoas operadas. De modo geral, dá pra dizer que 1 a cada 10 catarinenses fez sua cirurgia pelo nosso mutirão. Nossos próximos passos visam consolidar esses avanços e ampliar ainda mais o acesso e a eficiência no atendimento médico. Santa Catarina é o Estado que mais abriu leitos de UTI em 2023 e 2024, com um aumento de 20% nas unidades adulto, pediátrica e neonatal. Isso é crucial para garantir que os pacientes tenham o suporte necessário nos momentos mais críticos. Um dos pilares da nossa estratégia é fazer o SUS funcionar de verdade. Para isso, estamos remunerando os procedimentos em até 12 vezes o valor da tabela SUS, o que incentiva a participação de hospitais e clínicas. É importante ressaltar que a iniciativa tem sido tão bem-sucedida que oito hospitais particulares de Santa Catarina já solicitaram ao Governo do Estado para integrar o mutirão de cirurgias. Além disso, estamos focados em otimizar o atendimento em áreas essenciais. Atualmente, a absoluta maioria, 80% dos pacientes diagnosticados com câncer, são operados em até 60 dias, um índice que demonstra nossa preocupação com a agilidade no tratamento de doenças graves. Também estamos investindo na infraestrutura hospitalar, com reformas e ampliações de unidades que antes estavam abandonadas ou em situação precária. E para emergências, garantimos que qualquer pessoa esteja a menos de 20 minutos de um aeromédico, agilizando o socorro em situações críticas.

O programa CNH Emprego na Pista é uma aposta inovadora para a inclusão produtiva. Como ele se insere no esforço do governo por mais empregabilidade e mobilidade social?
Vamos dar 30 mil carteiras de motorista gratuitamente a entregador de pizza, a motoboy, de forma geral para qualquer catarinense interessado em uma oportunidade de carreira com a mudança de categoria da CNH e que não possa pagar por isso. Com o programa, ele vai ter um emprego melhor, vai poder conduzir um caminhão com carga perecível ou especializada, por exemplo. Enfim, nós vamos dar essa chance de crescer em uma nova profissão. Estamos lançando editais para todas as regiões catarinenses. As taxas vão ser pagas pelo Estado com a colaboração do time de credenciados do Detran/SC que aderirem ao programa. Vamos aumentar o número de pessoas habilitadas, transformando a CNH em uma carteira de trabalho para dar emprego e renda melhores para a nossa população. Esse é o grande diferencial do nosso programa em relação a outras iniciativas semelhantes no Brasil, esse foco que demos na empregabilidade.

Com a modernização do Prodec e as novas parcerias público-privadas, Santa Catarina abre espaço para inovação e atração de investimentos. Como o senhor avalia essa evolução?
É uma satisfação para mim. Santa Catarina tem sido cada vez mais reconhecida como um verdadeiro celeiro de inovação e um polo atrativo para investimentos. Os dados que temos em mãos comprovam o que já sentimos no dia a dia: nosso Estado está preparado para o futuro e colhe os frutos de um trabalho sério e dedicado. É motivo de orgulho saber que somos o segundo estado mais inovador do Brasil, com o reconhecimento de termos a maior inovação por metro quadrado. Florianópolis, nossa Capital, não fica para trás e se destaca como a mais inovadora do Brasil, inclusive sendo a cidade na América Latina onde as startups mais receberam investimentos estrangeiros. Esse cenário não surge do acaso; ele é construído sobre bases sólidas, como os 18 Centros de Inovação espalhados por todas as regiões, que preparam Santa Catarina para o futuro do trabalho. Essa vocação para a inovação se reflete diretamente em nossa economia, em todos os setores, incluindo a Indústria e a Agricultura. O ano de 2024 foi excepcional, marcado pela menor taxa de desocupação em 10 anos, de apenas 2,7%. Fomos o quinto estado que mais criou empregos formais no Brasil, gerando 149 mil vagas com carteira assinada. E a confiança em nosso ambiente de negócios só cresce: o primeiro trimestre de 2025 registrou um crescimento recorde de 31% na abertura de empresas em Santa Catarina. Esses números não são apenas estatísticas; eles representam empregos e oportunidades de um futuro mais próspero para todos os catarinenses.

O Estado foi reconhecido como o mais seguro do Brasil. Como a integração das forças de segurança tem contribuído para esse destaque?
Santa Catarina é o Estado mais seguro do Brasil. E não para por aí, nossa Capital também é a mais segura do País. Isso é fruto de um trabalho árduo, de uma estratégia bem definida e, principalmente, da integração exemplar das nossas forças de segurança. A segurança pública é uma das nossas prioridades, e investimos pesado para garantir a tranquilidade dos catarinenses. Nossas forças de segurança, sejam elas a Polícia Militar, a Polícia Civil, o Corpo de Bombeiros, a Polícia Científica ou o sistema prisional, trabalham de forma sinérgica e coordenada. Essa união de esforços nos permite ter uma taxa de resolução de homicídios superior a 80%, um índice que nos coloca entre os melhores do mundo. Para alcançar esses resultados e manter essa posição, a gente não poupa esforços. Estamos modernizando nossas corporações com armamentos de ponta, viaturas novas e tecnologia de última geração. Um exemplo claro é o nosso Cyberlab, uma estrutura essencial que faz um mapeamento constante de possíveis ameaças na internet, agindo na prevenção e inteligência antes mesmo que os problemas aconteçam. Essa integração e o foco em inteligência, tecnologia e ressocialização são a receita do nosso sucesso na segurança pública. E podem ter certeza: vamos continuar trabalhando muito para que Santa Catarina se mantenha como essa referência em segurança para todo o Brasil.

Temas como sustentabilidade, transição energética e transformação digital estão no centro das discussões globais. Como Santa Catarina vem se posicionando frente a esses desafios contemporâneos?
É fundamental que Santa Catarina esteja à frente nas grandes discussões globais, e posso dizer, com toda a convicção, que estamos fazendo a nossa parte muito bem. Na sustentabilidade, nossa gestão é a que mais combateu o desmatamento da Mata Atlântica, com uma queda impressionante de 86% em Santa Catarina, enquanto a média brasileira foi de 27%. Criamos a Secretaria de Meio Ambiente e Economia Verde (SEMAE) para valorizar e proteger nosso patrimônio natural. Lançamos o “Energia Boa”, o maior programa estadual de incentivo à geração de energia renovável, e estamos com um plano estratégico de transição energética em elaboração pela FGV. E na transformação digital, Santa Catarina já é um case de sucesso, otimizando processos em todas as áreas, inclusive na nossa vocação produtiva. Enfrentamos recentemente um desses desafios contemporâneos: a gripe aviária. Com apenas 1% do território, temos a maior produtividade na produção de proteína animal na agropecuária. Somos o maior produtor e exportador de carne suína do país, e a qualidade dos nossos produtos é reconhecida internacionalmente. Isso acontece também com a carne de frango. Nós conseguimos que o Japão tratasse Santa Catarina como se fosse um país para não ter que interromper as exportações com o caso no Brasil. E isso só foi possível pelo nosso status sanitário diferenciado. É por tudo isso que o mundo quer comprar de Santa Catarina.

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