O laboratório paranaense Prati-Donaduzzi é quase sinônimo de medicamentos genéricos no País. Nas últimas duas décadas, a empresa se consolidou como a maior fabricante, em volume, de remédios sem marca do mercado – especialmente para distribuição no Sistema Único de Saúde (SUS). Agora, o plano é expandir para duas novas frentes: canabidiol (CBD) e semaglutida, princípio ativo que ficou famoso nas canetas de emagrecimento do Ozempic.
Ambos terão a proposta de baixo custo, nos modelos dos tradicionais genéricos. A partir deste mês, pacientes que utilizam canabidiol para o tratamento de doenças neurológicas e crônicas já terão um alívio no bolso. A Prati começou a distribuir o produto com uma redução de 40% no preço de seus produtos à base de CBD, com o objetivo de democratizar o acesso ao tratamento e alcançar um número maior de pacientes.
A medida vale para todas as apresentações do produto — nas concentrações de 20 mg, 50 mg e 200 mg — e deve refletir diretamente nas farmácias de todo o País, onde cerca de 500 mil pessoas utilizam o canabidiol como parte essencial de seus tratamentos médicos. Entre as indicações do CBD estão doenças como epilepsia refratária, Parkinson, Alzheimer, esclerose múltipla, ansiedade, autismo e dor crônica.
“Esta decisão reforça nosso propósito de levar saúde a mais pessoas. Ao reduzir o preço do canabidiol, queremos derrubar barreiras e facilitar que pacientes tenham acesso a um tratamento de qualidade”, afirmou Eder Maffissoni, CEO da Prati-Donaduzzi, ao BRAZIL ECONOMY. No ano passado, a empresa faturou R$ 2 bilhões. Com essas novas estratégias, a expectativa é ultrapassar R$ 4 bilhões já em 2026.
A Prati-Donaduzzi foi pioneira na produção nacional de canabidiol. Em 2020, tornou-se a primeira empresa a obter autorização sanitária da Anvisa para comercialização da substância no Brasil. O produto foi desenvolvido a partir de pesquisa clínica em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) e hoje é fabricado com alto padrão de qualidade, sob normas de Boas Práticas de Fabricação (BPF).
A farmacêutica aguarda a concessão do registro definitivo junto à Anvisa para que o CBD passe a ser enquadrado como medicamento completo, o que poderá impulsionar ainda mais sua utilização dentro de protocolos clínicos estabelecidos.
“Fomos pioneiros na produção, acreditando no potencial do canabidiol quando o tema ainda era cercado de dúvidas. Hoje, seguimos firmes nesse compromisso, buscando não só inovação, mas também acesso e inclusão”, afirmou Maffissoni.
Com os avanços científicos e regulamentares, o canabidiol tem se consolidado como alternativa viável para pacientes que não respondem bem aos tratamentos convencionais, segundo Maffissoni. Estudos recentes reforçam seus efeitos positivos na redução de crises epilépticas, melhora cognitiva, alívio da dor e controle da ansiedade, sem os efeitos colaterais agressivos de outros fármacos.
Semaglutida para engodar as vendas
A outra frente estratégica da Prati-Donaduzzi é o desenvolvimento de produtos com semaglutida, princípio ativo que tem revolucionado o tratamento de diabetes tipo 2 e obesidade. A substância atua no controle da glicose e promove sensação de saciedade, auxiliando na perda de peso — fator importante para o manejo de doenças metabólicas e cardiovasculares.
Embora ainda seja um medicamento com alto custo e acesso limitado no Brasil, a popularização da semaglutida tem mobilizado o setor farmacêutico, tanto no Brasil quanto no exterior. Nos Estados Unidos e na Europa, medicamentos à base da substância estão entre os mais prescritos, não apenas para diabéticos, mas também para pessoas com sobrepeso e obesidade moderada a grave.
De olho nesse potencial, a Prati-Donaduzzi tem se estruturado para disputar espaço nesse mercado, seguindo sua diretriz de combinar inovação tecnológica com políticas de acesso. Embora ainda não tenha anunciado oficialmente o lançamento de um produto com semaglutida, Maffissoni confirmou ao BRAZIL ECONOMY que estará entre os laboratórios que aguardam sinal verde da Anvisa para iniciar a produção até o começo de 2026.
Diversificação no receituário
Com mais de 160 moléculas em seu portfólio, que se desdobram em cerca de 500 produtos, a Prati-Donaduzzi atua fortemente nos segmentos de medicamentos genéricos, similares e de marca, com foco em terapias de uso contínuo e em áreas com grande demanda da população.
Entre os genéricos, destacam-se medicamentos amplamente utilizados como metformina, losartana, dipirona, ibuprofeno, paracetamol, azitromicina e albendazol. Já no segmento de medicamentos de marca, o canabidiol é carro-chefe, mas a empresa também se destaca com o Elatium, indicado para demências, e o Perlid líquido, voltado para o tratamento de transtornos do espectro autista (TEA).
No setor de similares, a Prati investe em nichos específicos. É o caso do Sensilatte, suplemento enzimático de lactase para pacientes com intolerância à lactose, e da linha Vigora, composta por nutracêuticos com formulações voltadas a diferentes públicos e necessidades.
As iniciativas da Prati-Donaduzzi vão ao encontro de um desafio central no sistema de saúde brasileiro: oferecer tratamentos inovadores com preços acessíveis. Em um contexto de aumento da demanda por medicamentos de uso contínuo, terapias personalizadas e substâncias de alto valor agregado, empresas que conciliam inovação com escala e controle de custos tendem a ganhar relevância.
“Nosso compromisso vai além da produção. Envolve responsabilidade social, desenvolvimento científico e, principalmente, o respeito ao paciente que depende desses produtos para viver melhor”, afirmou o CEO.