Ao chegar ao 7º andar do edifício Plaza Centenário, no Brooklin Novo, em São Paulo, a movimentação de pessoas e caixas é grande. Móveis e materiais de escritório ainda estavam sendo montados quando a reportagem do BRAZIL ECONOMY esteve no local para entrevistar executivos da OPPO, fabricante chinesa de smartphones. O semblante das dezenas de funcionários, que conversavam em mandarim, inglês e português, era de entusiasmo pela mudança que está em curso. A sala onde estava o setor administrativo da companhia ficou pequena, e agora o backoffice ocupa um andar inteiro do icônico prédio paulistano. É apenas uma pequena amostra do momento de expansão da empresa no Brasil, onde a matriz, localizada em Dongguan, concentra atualmente seus maiores esforços no mundo.
A OPPO está bem estabelecida em outros mercados, como Ásia e Europa. Na América Latina, a operação é recente, puxada pelo Brasil, onde a companhia começou a comercializar celulares em 2022. No ano passado, iniciou a fabricação no país, a partir da parceria com a Multi. É uma das nove fábricas da OPPO no mundo.
O objetivo é alcançar a segunda colocação em vendas de smartphones no mercado brasileiro até 2029 — uma meta ousada para uma empresa que, no Brasil, ainda é considerada novata, apesar de sua relevância global, e que enfrentará grandes players.
“O Brasil é um mercado estratégico para a OPPO. Sabemos que é altamente competitivo, mas também cheio de oportunidades para marcas que entregam inovação e experiência premium”, disse Ethan Xue, CEO da OPPO Brasil e América Latina.
“Nosso objetivo é tornar a OPPO uma referência no país, ouvindo o consumidor local e oferecendo produtos que combinam tecnologia de ponta, design sofisticado e inteligência artificial”, afirmou o executivo chinês. “Com uma rede sólida de parceiros e uma equipe dedicada no Brasil, estamos confiantes de que estamos no caminho certo para construir uma presença forte e relevante no mercado”, salientou.
A OPPO ocupa entre a quarta e a quinta posição entre as maiores fabricantes de smartphones do mundo, segundo dados da Counterpoint dos últimos dois anos. No ano passado, liderou as vendas no sul asiático, com 18% de market share.

No Brasil, o desempenho ainda é tímido. Ainda — pois o planejamento de desenvolvimento é agressivo. A marca é pouco relevante nos dados levantados pela Statcounter, que mede o percentual de aparelhos conectados à internet (e não necessariamente as vendas).
A consultoria aponta que, em junho, a Samsung liderava o mercado nacional com 37,11% de utilização, seguida pela Xiaomi (20,4%), que ultrapassou pela primeira vez a Motorola (19,66%). Na quarta posição estava a Apple, com 9,16% — queda considerável em relação ao índice de 17,32% registrado um ano antes.
Segundo a IDC, 37,3 milhões de aparelhos celulares devem ser comercializados no país em 2025, uma queda de 6,9% em relação ao ano passado. É na possibilidade de ganhar espaço nessas vendas que a OPPO aposta.
Além de enfrentar fabricantes já estabelecidas, a empresa terá de encarar conterrâneas que também têm voltado seus olhares para o Brasil, como Honor e Jovi. A Xiaomi, por exemplo, é uma marca chinesa que teve crescimento exponencial nos últimos anos, mas ainda não possui fabricação nacional.
Estratégias para crescimento
Entre as estratégias de crescimento da OPPO no Brasil estão o aumento do portfólio e o fortalecimento das parcerias com o varejo local e com as operadoras de telefonia — e, claro, um marketing forte. O ex-jogador de futebol Kaká é embaixador global da marca.
Em relação aos produtos, a companhia — que se destaca no país por oferecer aparelhos com especificações elevadas e preços voltados para a categoria intermediária — tem trazido cada vez mais modelos ao mercado nacional.

Já são oito modelos disponíveis por aqui: A3x, A5, A40, A58, A60, A78, Reno11 e Reno13. Alguns contam com câmera subaquática, resistência a quedas e altas temperaturas (com testes militares), baterias de carregamento rápido — além de virem com capinhas e películas.
“Nós estamos acelerando cada vez mais nossos lançamentos, ampliando nosso portfólio, trazendo designs diferenciados”, disse André Alves, gerente sênior de vendas da OPPO Brasil, um dos brasileiros com cargos mais altos na operação da fabricante chinesa no país.
O X8, de uma linha mais premium, tem sido apresentado a parceiros estratégicos. Ainda não é produzido localmente, mas “temos planos”, adiantou o executivo.
A gama de produtos será ampliada em breve com uma novidade voltada ao público geek, em uma collab com um estúdio famoso globalmente. Os detalhes ainda são mantidos em sigilo pela OPPO, mas trata-se de algo semelhante ao lançamento feito no México, onde foi criado um smartphone do Harry Potter.
É mais uma iniciativa para “ganhar competitividade no mercado brasileiro, com mais produtos, mais recursos e preços que atendam à demanda do consumidor”.
Na relação com o varejo, as principais parcerias são com o Magazine Luiza — com quem a empresa teve um acordo de exclusividade no início — e com as Casas Bahia, firmada mais recentemente.
Além das vendas no e-commerce, a OPPO mantém lojas dentro das lojas das varejistas, no modelo store in store. Nelas, os smartphones são expostos, e as funcionalidades podem ser testadas no local.
Por exemplo, é possível quebrar uma noz com um aparelho da OPPO para demonstrar sua resistência. O celular também é colocado em um recipiente com água, comprovando sua capacidade de realizar fotos submersas e o sistema que elimina o resquício de líquido do interior após a imersão.
“Outro diferencial são nossos vendedores, que atuam como verdadeiros promotores. Sabem exatamente as características de cada modelo e o que eles podem oferecer aos clientes”, afirmou o diretor da OPPO.
“Geralmente, uma agência terceirizada faz esse trabalho de positivação. Nós temos uma equipe própria, que conhece muito o consumidor, conhece muito os nossos produtos. Então, cria um vínculo forte na comunidade OPPO”, disse Alves, acrescentando que, com tudo o que a companhia tem feito no ponto de venda, a concorrência tem se movimentado para também melhorar seu atendimento ao consumidor.
Além do Magazine Luiza, das Casas Bahia e de alguns parceiros regionais, a fabricante mantém conversas avançadas com outras varejistas para ampliar sua capilaridade de vendas físicas. Hoje, são 2.000 pontos de venda espalhados pelo território nacional, com 1.200 colaboradores. “Teremos 3.000 pontos de comercialização dos nossos produtos até o ano que vem”, frisou o diretor.
A criação de um e-commerce próprio não está descartada. Está sendo avaliada com cuidado, principalmente em relação aos riscos de conflito com os atuais parceiros e aos custos operacionais.
Entre as operadoras de telefonia, a OPPO possui, no momento, uma relação estreita com a Claro. Mas Vivo e TIM também estão no radar da marca, visando ampliar sua presença nos canais que impulsionam a venda de smartphones — especialmente nos planos pós-pagos.
Assim, a OPPO enxerga no Brasil um mercado estratégico. O novo escritório está praticamente pronto para dar suporte à nova e ousada fase da fabricante chinesa no país.