Karin Schöner é presidente da JAS Worldwide Brasil, companhia de logística de origem italiana com sede nos Estados Unidos. A executiva é reconhecida por seus mais de 20 anos em cargos de liderança no Brasil e na América Latina, em multinacionais como Maersk, Geodis, Panalpina e Kuehne+Nagel. Mas há um lado coach de Karin que as pessoas que trabalham com ela já conhecem — e que outros estão descobrindo por meio da C2C – Challenge to Change, uma academia que prepara corpo e mente e vem sendo cada vez mais procurada por executivos. No espaço, localizado no bairro da Cidade Monções, em São Paulo, onde é sócia, Karin coloca em prática os ensinamentos adquiridos em um curso com Mark Divine, ex-comandante dos Navy Seals, a elite da marinha americana, conhecido por seus treinamentos de liderança e alto desempenho. Nesta entrevista, a executiva fala sobre o método que une ciência e fitness para fortalecer a mente dos profissionais que a procuram para enfrentar os desafios pessoais e do mundo corporativo.
Qual é o diferencial da C2C?
A parte da metodologia da C2C é o que a torna única, pois segue a filosofia das Five Mountains. A montanha física é a número um, em que você trabalha o corpo — por isso temos nutrição, treinamento funcional, musculação, yoga, pilates… Depois, vem a parte mental, a segunda montanha, que envolve o coaching. Eu faço essa parte. A pessoa tem uma “lição de casa”. Precisa voltar, refletir, entender o que deu certo, o que deu errado, para começar a compreender o que está acontecendo na vida dela. Li muitos filósofos que defendem que “uma vida não analisada não vale a pena ser vivida”. E onde você consegue trabalhar como um ser humano? Quando começa a analisar sua vida. Porque tudo é repetição. Depois, vem o autoconhecimento, a terceira montanha. Faço isso há sete anos, e isso me tornou uma líder mais resiliente e mais assertiva. A forma como a gente se comunica tem muito a ver com aquilo que vivenciamos e com o que conhecemos de nós mesmos. Liderança é um balé.
Por quê?
As pessoas ainda não entenderam isso. É uma dança. Todos precisam estar em sintonia. Eu falava coisas achando que todo mundo estava na mesma sintonia que eu — e talvez algumas pessoas não estivessem. Então, hoje, eu explico melhor. Às vezes, isso pode parecer redundante, mas é muito importante mostrar os caminhos. Isso vale para a vida pessoal, para o ambiente de amigos e para o trabalho.
Muitas empresas têm orgulho do selo Great Place to Work. Mas, na prática, não é esse bem-estar todo, não é?
Oferecem um wellness hop, têm psicólogo online… Mas não trabalham seus executivos. Eles precisam se conhecer. Muitos não sabem quem são, não percebem que caem nos mesmos buracos sempre, que estão sendo vítimas de si mesmos. Eu já fui. Não tem nada de errado, mas precisamos evoluir moral e emocionalmente. Precisamos nos tornar pessoas melhores. Esse é o nosso trabalho. A gente cai, levanta, sacode a poeira, mas tem que aprender. À medida que aprendemos, nos tornamos mais fortes. Então, a parte mental trabalha isso: o autoconhecimento. E, com o autoconhecimento, vem a quarta montanha, que é a emocional.
Como funciona?
Você começa a ter autocontrole. Ensinamos técnicas para controle emocional. A empatia com o outro, por exemplo: entender que aquilo que eu falo precisa ter clareza para o interlocutor, que vem de outra realidade, outra criação, outra crença. O desenvolvimento é horizontal. E vem a montanha da intuição. O ser humano se esqueceu de que somos muito intuitivos. E hoje deixamos nossa intuição de lado. Precisamos resgatá-la. Os Navy Seals falavam muito disso no treinamento: “If it smells like fish, it is fish” (se cheira a peixe, é peixe). E a última montanha é o Kokoro (palavra japonesa), que trata da espiritualidade.
Entra religião?
Não é religião. Vamos deixar isso bem claro. As pessoas ainda confundem espiritualidade com religião. Uma vez que você está bem fisicamente, come bem, dorme bem, treina seu corpo, está energizado, está forte… Sua mente está controlada, suas emoções estão equilibradas, você tem autocontrole. Está usando sua intuição — você é um ser humano completo. Aí, sim, pode ir para a espiritualidade. Pode servir aos outros. Nada mais é do que, exemplificando, colocar primeiro a máscara de oxigênio em você para depois poder ajudar quem precisa. Com tudo isso, o que a Academia Challenge to Change quer? Criar seres humanos aqui no Brasil que possam fazer um país melhor, que sejam pais melhores, filhos melhores, colegas melhores, amigos melhores para a comunidade, executivos melhores. Mas, para isso, precisam estar fortes.
E cada uma das áreas se relaciona dentro da C2C?
É transversal. Todos os profissionais da C2C se comunicam para ajudar a pessoa a evoluir em cada uma dessas áreas. Não falamos de nada pessoal, mas observamos se alguém, por exemplo, constantemente diz que não consegue fazer um exercício ou outra atividade. Trabalhamos esse gatilho ou crença limitante. Como coach, recebo feedbacks. Então, ajudo a ter uma nova visibilidade, a evitar a criação de barreiras, para que a pessoa passe a acreditar mais em si mesma.
Você ressalta muito a questão do coaching voltado à saúde mental e ao autoconhecimento. Essa nomenclatura não ficou meio banalizada nos últimos anos?
Ficou totalmente. Tanto que, quando comecei, teve gente que me perguntou isso. Não tem nada a ver com cheerleader, eu não uso pompom e não fico pulando para incentivar as pessoas. Acho que, sim, o termo foi muito banalizado. Tem gente que sugere mudar o nome de “coach” para “especialista em saúde mental”. Porque o coaching tem método, tem lógica. Eu estudei física quântica, fui fundo para entender a parte energética. Quem é você? O que você quer? Quais são suas intenções? Qual é o seu propósito? O que você está procurando? Essas são algumas das primeiras perguntas que eu faço. E muita gente me olha e diz: “Nunca parei para pensar nisso.” Enquanto eu não sei meu propósito, enquanto não sei o que quero, enquanto não sei minha intenção, como é que vou colocar atenção nisso? Nós aplicamos ciência. Já é comprovado que um corpo exercitado, endorfinado, com adrenalina regulada, tem 33% mais apetite a desafios, mais disposição para mudanças. Essa banalização do coaching é uma pena, porque ele é muito poderoso quando ajuda as pessoas a se enxergarem, a se verem e se trabalharem.
Muitas coisas na nossa vida nos fazem desviar o foco…
Por que a social media é tão forte? Agora, com a chegada da Inteligência Artificial, os algoritmos te leem de cabo a rabo. Já sabem o que você está procurando. E vão te viciar naquilo. Vão jogar exatamente o que você quer ver. Quantas vezes alguém diz que quer fazer uma viagem e, de repente, aparece tudo sobre aquele destino? Mas isso tira seu foco. Se você não sabe o que quer, qualquer coisa vai chamar sua atenção. Você vai virar e olhar. O coaching é aquilo que mostra para você quem você é — não sou eu te dizendo quem você é. Cada ser humano é único. O que o coach faz é fazer perguntas para que você chegue às suas respostas. Ele te ajuda a se conhecer.
Como está a mente dos executivos brasileiros, de modo geral? É possível fazer essa análise?
Na minha opinião, vai ficar mais bagunçada. Mas o brasileiro é resiliente por natureza. O jeito que o Brasil funciona é complexo. E muitos executivos nunca pararam para escutar o que eles mesmos querem fazer. Estão tão na corrida, tão focados em “fazer acontecer”, que esquecem quem são, o que querem, como querem. Muitos nunca se perguntaram qual é seu propósito na vida.
E os colaboradores das empresas? Vemos muitos casos de burnout ainda…
Isso está acontecendo porque o mundo está estressante. Há dois grandes fatores: A quantidade de informações que são imputadas às pessoas todos os dias e a falta de desintoxicação, de voltar ao mundo real. Hoje, o smartphone cospe tudo o que você quer ver — e normalmente são notícias ruins. Se o algoritmo te entendeu, ele vai te bombardear ainda mais. Está faltando equilíbrio. Isso adoece a cabeça das pessoas. A revolução que estamos vivendo agora é a da Inteligência Artificial. E ela me assusta. Porque o ser humano, antes, tinha um time-out. Agora, você coloca as máquinas para trabalhar 24 horas. A voracidade e a velocidade dessas mudanças estão me assustando. E acho que estão assustando as pessoas também. O burnout vem da insegurança, da falta de autoconhecimento. Você vira vítima de si mesmo. Eu tinha uma impressão das novas gerações, mas estou mudando minha visão a partir de algumas palestras em faculdades. Estou “morfando”.
O que te levou a pensar diferente?
Os alunos foram altamente curiosos em entender como podem ser resilientes, como escolher uma empresa. Eles não querem ser como os pais. A nossa geração tem muita culpa. Os jovens perguntam: “Como escolho uma empresa mais humana, onde eu possa me encaixar?”
Eles querem trabalhar, mas não querem ter burnout. Estamos numa sociedade doente, vivendo uma pandemia silenciosa. Precisamos mudar isso. Muitas pessoas não estão preparadas para as posições que ocupam — e ninguém nunca as auxiliou. Não é culpa delas. Nunca fizeram coaching. Esse conceito de unbreakable mind (mente inquebrável) faz você refletir, faz você se tornar forte para dizer: “Agora quem comanda a minha vida sou eu. Eu tenho as rédeas. Não existe algoz.”