Na carta que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, enviou ao Brasil para justificar uma tarifa de 50% sobre produtos nacionais a partir de 1º de agosto, houve uma mistura de alegações comerciais e políticas. Para Guilherme Campos Júnior, secretário nacional de Política Agrícola do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), há dois fatores que preocupam o governo americano e que não estão incluídos na mensagem original.
“Os Estados Unidos estão preocupados com o avanço do Brics e do agronegócio brasileiro, que está fortalecido”, disse com exclusividade ao BRAZIL ECONOMY, em passagem pela Associação Comercial de São Paulo, na segunda-feira (14).
No mesmo dia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou a Lei da Reciprocidade, que permite ao País revidar taxas unilaterais e prejudiciais.
Para Campos Júnior, em primeiro lugar, é preciso ressaltar o tamanho do Brics, grupo formado por 11 países emergentes, incluindo Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã.
Juntas, essas nações representam 33% do PIB global, totalizando aproximadamente US$ 60 trilhões, segundo dados de 2023, e 49,5% da população mundial. “Tem muita relevância”, afirmou o secretário.
Em segundo lugar, há um movimento importante dentro do bloco para a criação de uma moeda comum, a ser utilizada em trocas comerciais entre os países — o que poderia afetar a supremacia do dólar americano na economia global.
“Acredito que o pano de fundo das tarifas são questões comerciais relacionadas ao Brics. Com a presença da China cada vez maior no Brasil e na América do Sul, se estendendo pelo mundo, os Estados Unidos estão ficando para trás”, analisou Campos Júnior.
Agro forte
A atuação do agronegócio brasileiro mundo afora é outra preocupação americana, na avaliação de Campos Júnior. O País conta com empresas gigantes nos setores de proteína animal, hortifrutigranjeiros, sucroalcooleiro e de grãos, que abastecem países em todos os continentes.
“Somos o supermercado do mundo. O agro é algo que todo brasileiro tem que bater no peito e dizer que sente orgulho.”
Com duas safras ao ano em muitos produtos – alguns com até três –, um clima privilegiado (sem neve, como em muitos estados americanos durante meses) e uma fonte energética limpa que tem se destacado cada vez mais, o Brasil apresenta diferenciais importantes em relação aos Estados Unidos, à Europa e a outras regiões.
“O etanol do Brasil é um exemplo da melhor transição do fóssil para o biocombustível em prática. O óleo de soja corresponde a 80% do biodiesel produzido no País. Sem falar na transformação do gás metano em energia… São exemplos mundiais”, disse o secretário, ao destacar as iniciativas que têm colaborado para o avanço da importância geopolítica e econômica do Brasil no cenário internacional.